terça-feira, janeiro 12, 2010

até quando manteremos a identidade?

Ainda não vi o novo filme de James Cameron - Avatar. Apesar da sua curta carreira em todo o mundo (desde 18 de Dezembro passado), já está colocado na segunda posição dos filmes mais vistos de sempre. Com ele e com algumas experiências anteriores, a indústria cinematográfica parece querer virar-se, de vez, para o tridimensional.
O ter revisto recentemente esta magnífica e divulgada imagem de autoria de J. R. Eyerman (que com um nome destes estava predestinado para recolher imagens - homem r olho...), levou-me a pensar neste e noutros factos que parecem poder levar-nos à perda da nossa identidade.
A imagem foi captada em 1952 na estreia do filme «Bwana Devil», em Hollywood, e mostra de forma inesperada, toda uma plateia usando óculos 3D que, dessa forma, se massifica mais do que o faria noutro tipo de sessões.
Por um lado a moda, a progressiva perda de vocabulário pelos jovens, uma escrita tuitada, outra feita de símbolos e raras palavras, plateias de seres aparentemente clonados, apontam para que a distinção entre nós seja cada vez mais ténue.
Por outro lado, o desenvolvimento imparável da técnica, as câmaras de vigilância, os chips dos nossos cartões e das matrículas dos nossos carros, conduzem a que a nossa vida seja cada vez mais devassada e espalhada aos quatro ventos, a quase todos que queiram saber quase tudo de nós.
Só contradições - por um lado cada vez mais vulneráveis e expostos, por outro cada vez mais iguais, cada vez menos diversos, cada vez menos nós, cada vez mais números de registo e lista de códigos de acesso.
Será por isso o interesse no tridimensional - uma tentativa de tornar mais real, aquilo que por natureza é virtual ou aceitar de vez que a realidade, ela própria, é cada vez mais virtual.

2 comentários:

msg disse...

Muito boa noite,CARO DOUTOR

"Cada vez menos nós". Nem de propósito.Assim,aqui lhe deixo um outro UM SÒ,mas antes,uma frase de Miguel Torga-"O Homem é,por desgraça,uma solidão:nascemos sós,vivemos sós e morremos sós".

UM SÒ
Sonhara ele,há tempos,com planetas,todos do mesmo sistema. Não se lembrava da estrela,mas isso era o menos. É que tinha sido um sonho que muitíssimo o impressionara,de tal maneira,que não resistiu a contá-lo.
Em todos eles havia gente,que lá se ia entretendo,umas vezes melhor,outras pior,mas vivendo e morrendo quando a vez chegava. Certo dia,deu em aparecer num deles uma doença nova,que acabou por se instalar noutros. Era uma doença terrível,sem cura. Foi o extermínio total nesses planetas.
Num dos poucos planetas ainda não atingidos por esse mal do diabo,ciente do que estava acontecendo nos vizinhos,não havia sábio que não se tivesse posto ao trabalho para engendrar um modo de escapar daquele triste fim. E daquelas muitas e excelentes cabeças uma unânime solução brotou. Tinham de se livrar o mais depressa que pudessem de todos os outros planetas,de todos,dos ainda vivos e dos mortos.
Então,trabalhando dia e noite,sem tréguas,os melhores sábios inventaram um raio de altíssimo poder destruidor,mesmo a distâncias infinitas. E,sem perda de tempo,pois já tinham perdido muito,como a experimentá-lo,apontaram-no aos planetas já sem vida. Aquilo foi um ar que lhes deu,como já esperavam. Deixaram de lá estar ou em qualquer outro lugar. Sem hesitações,dirigiram-no aos restantes,onde ainda se mexia.
Enfim,sós. Lavrou por lá uma tranquilidade nunca experimentada,mas,infelizmente,de curta duração. É que o melhor sábio,de todos os outros melhores,descobriu,talvez por acaso,que a doença fatal tinha como única causa a multiplicidade dos quereres. Tão simples como isso.
E agora? Apenas havia uma saída. Que todos fossem UM SÓ.

Muito boa saúde,CARO DOUTOR.

cvr disse...

Gostei muito que chamasse à doença a multiplicidade dos quereres. Muito bem achado.
Obrigado, CVR