segunda-feira, fevereiro 27, 2012

uma espécie de mestre andré

Não sei se pelo meu estado de espírito nesse momento, se pela grande qualidade do César Mourão, se pela divertida letra, se pela surpresa, se pelo boneco do humorista, por todas estas coisas ou por nada disto, sei que quando ocasionalmente, após um zapping, vi e ouvi este pequeno vídeo me ri sem parar, como há muito tempo não ria. Penso que mesmo o visado no vídeo terá humor suficiente para se rir também, se ocasionalmente o vir. Riam ou sorriam, sem qualquer quebra de respeito.

quinta-feira, fevereiro 23, 2012

zero euro

Há poucos dias enviaram-me um texto escrito por Abdul Cadre que mais não é que o pseudónimo de um poeta, escritor e ensaísta residente em Vendas Novas, colaborador frequente de várias publicações nacionais e europeias. Da sua leitura, que me agradou, resulta uma visão divertida, certeira e muito crítica da actual Europa. Para ler e pensar.


«A UNIÃO EUROPEIA ACABOU,
A MORTE DO EURO SEGUE DENTRO DE MOMENTOS

A ALEMANHA perdeu a I Guerra, perdeu a II Guerra e está em vantagem nas batalhas que vem travando nesta III Guerra, que pensa ganhar sem recorrer às divisões Panzer, bastando-lhe controlar o marco, que tem a alcunha de Euro, o qual deveria ser de 12 mas é apenas de um. Pode ser que perca outra vez.
A imperatriz do equívoco europeu, que não quero chamar de Mercozy, como muitos vêm fazendo, dado que o Sarkozy, não passando de pau-de-cabeleira, é completamente irrelevante, pois a dita cuja, quando jovem - apenas de idade, pois que de facto já nasceu velha -, tinha por apelido Kasner, não imaginava sequer vir a chamar-se Merkel e o que mais adorava era ir de bandeirinha e farda colegial a preceito dar vivas ao camarada Erich Honecker. O que é certo é que aprendeu a mandar e conseguiu até meter no bolso o camarada Mário, a quem a imprensa chama Barroso, essa figura decorativa do falecido órgão europeu que dava pelo nome de Comissão Europeia. A senhora Merkel manda tanto que basta assobiar e logo os seus onze procuradores - leaders formais dos países do euro - vão saltitantes lamber-lhe as mãos. São bons vassalos. Já nem sequer reúnem para discutir o que quer que seja, vão a despacho em pequenos grupos e voltam contentes para os seus tronos de palha, contentes porque cumprem ordens, comprometidos porque sabem que mentem e iludem os povos que os elegeram. Alguns nem eleitos foram, foi a senhora que os entronizou, a pedido dos mercados.
A senhora diz: o mundo é quadrado. Eles respondem: muito quadrado. E diz mais: os povos do sul são uns calaceiros. Eles respondem: pois são. Um deles até se levanta e promete de olhos postos no chão: nós vamos corrigir isso, vamos acabar com os feriados e pôr os nossos mandriões a trabalhar vinte e quatro horas por dia e, se não chegar, pomo-los a trabalhar também de noite.
Mas há vassalos que não oferecem confiança. Para já, os do protetorado da Grécia. Portugal é lá mais para o ano, não porque o encarregado de negócios não se esforce, mas porque tanta vénia a propósito e a despropósito levanta a suspeitas de pouca competência.
Bom, há que mandar um alemão às direitas, de preferência luterano e ex-comunista, tomar conta das finanças gregas.
É preciso que ninguém suspeite, é preciso que ninguém faça contas, que ninguém perceba que o superavit da Alemanha é precisamente a soma dos deficits dos protetorados.
Como se conseguiu isto? Desmantelaram-se as indústrias, suprimiu-se toda a produção: não se preocupem que a gente é que sabe. E os procuradores diziam: Ámen!
Pois!
A grande divisão Panzer chama-se EURO.
A Europa, como união de estados soberanos, acabou. O Euro acabará quando os povos que estão a ser submetidos á tal de austeridade não puderem empobrecer mais e gritarem: basta!
Como a Europa é um grande elefante, quando cair vai levantar muito pó e derrubar muitas árvores. Se fôssemos prevenidos e inteligentes renunciávamos ao europanzer quanto antes, sem pó, sem buraco na floresta, negociadamente, pacificamente...
Mas olhando para os estrangeirados que se dependuraram nos escaparates políticos - os Relvas, os Gaspar, os Álvaro, os Seguro, os Coelho - pensamos: isto é o mesmo que querer gelo quente».

segunda-feira, fevereiro 20, 2012

explicar a dívida a tótós

Para aqueles que, como eu, não são economistas, torna-se muito difícil entender as voltas e reviravoltas da economia, das finanças, das contas públicas e privadas. Tudo que ultrapassa as chamadas contas de merceeiro é já alta abstracção. Por isso me pareceu bem deixar-vos aqui esta lição sobre a dívida, para tótós. Se nem assim aprendermos, é porque somos realmente tótós com reacções alérgicas adversas ao contacto com dívidas e cifrões ...

domingo, fevereiro 19, 2012

quarenta e três minutos que valem a pena

Dada a duração do vídeo, evitaria à partida a sua publicação. Contudo, tratando-se de uma produção da TVE, com a participação de dois personagens principais de reconhecido mérito e reconhecimento internacional, como Eduardo Galeano (jornalista e escritor uruguaio) e Jean Ziegler (professor de sociologia nas Universidades de Geneve e Paris-Sorbonne) e ainda as curtas participações de Baltasar Garzón e Ernesto Sábato, este último falecido pouco depois de ter sido filmado este vídeo e Garzón, o grande defensor da lei, ter sido condenado há pouco mais de uma semana pela Audiência Nacional de Espanha, onde é Juíz, por ter autorizado escutas telefónicas, quando toda a gente sabe que o problema está em querer investigar os crimes da Guerra Civil espanhola e as vítimas do franquismo.
Na Ordem Criminal do Mundo serão analisadas organizações como o FMI, o Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio, o poder económico de alguns (500 empresas detém mais de 50% do PIB Mundial) e a miséria quase absoluta de meio mundo.
Quando este vídeo foi realizado ainda os problemas da Grécia, Portugal, Espanha e Itália, não tinham a dimensão que agora têm.
Para ver com atenção.


quinta-feira, fevereiro 16, 2012

o rating do amor



As agências de rating têm sido últimamente uma constante na vida dos portugueses, de tal modo que, de tão constantes, começaram a ser cada vez menos ouvidas. E a ser assim, porque eu hoje vir aqui falar delas? Porque um artigo escrito por José Gameiro, psiquiatra, no Expresso da última semana me fez rir e pensar sobre elas. Tem razão, José Gameiro. O rating do amor vale a pena. Mais uma vez o amor vale a pena, como sempre. Leiam e atentem no que ele escreveu.



Esqueça o défice do país. Preocupe-se com a sua dívida afetiva. É o que há de mais importante

A REALIDADE É INDESMENTÍVEL: a conjugalidade tornou-se uma instituição: instável, insegura, imprevisível, mas também emocionalmente muito rica, onde se pode ser igual a si mesmo, quase sem¬pre com forte solidariedade interna e sexualmente vantajosa pelo conheci¬mento progressivo da intimidade física de cada um.
Esta conjugação de variáveis torna aconselhável que cada casal crie a sua agência de notação conjugal, de modo a não entrar em default, termo hoje muito em voga, mas que em português quer dizer “devedor”, “caloteiro” ...
Cuidado com as ofertas oportunistas de agências externas ao casal: psiquiatras e psicólogos, assistentes sociais, técnicos da segurança social, conselheiros conjugais, enfim, todos os que têm um molde conjugal e procuram aplicá-lo a todos os casais.
A primeira condição para que cada casal crie a sua agência e aceitá-la.
A segunda é que qualquer dos membros do casal pode ser notador.
A terceira é que qualquer notação do AAA+++ a lixo é para ser levada a sério no máximo durante uma semana. Depois terá de ser revista…
Classificar uma relação conjugal é, muitas vezes, um ato de momento, não nos podemos esquecer que o mercado relacional é influenciado por variáveis voláteis, tais como os momentos de paixão, ternura, raiva, desconfiança, proximidade, distanciamento, conflitos com as famílias de origem.
Cada notador devera comunicar ao outro membro do casal, oralmente, por mail, SMS ou por gestos o seu rating da relação, mas a classificação de lixo deve ser acompanhada de maiores cuidados, pois acelera o risco de downgrading da relação por parte do outro, podendo desencadear um processo irreversível de falência.
Neste caso diversas soluções podem ser encaradas, sendo que a ida aos mercados é a que acarreta maiores riscos, por um lado porque mais cedo ou mais tarde é-se apanhado, tal como a Grécia, por outro porque pode ficar-se refém e nunca mais voltar. Mas não deixa de ser uma saída possível...
Uma alternativa à ida aos mercados, se ainda for possível, é recorrer ao BCE - Banco Comum Emocional - e fazer ativar os mecanismos de resgate que ainda estiverem disponíveis.
Alguns exemplos:
Para eles, ouvi-las em discurso direto a contar as últimas histórias do trabalho, sem ligar a Sport TV, de preferência com um sorriso terno e nunca lhes negando toda a razão do mundo.
Para elas, depois de um dia extenuante e de os miúdos estarem na cama, não ter dores de cabeça ou, no caso de as terem, acreditar que as endorfinas são terapêuticas e fazem subir o rating masculino da relação para AAAAAA
Os maiores riscos para o rating do casal surgem quando um ou os dois criticam sistematicamente o valor do outro, levando-o a sentir-se lixo e o BCE do casal já não tem recursos para iniciar o resgate.
Se faz parte de um casal, “desconfie” quando o seu parceiro/parceira deixa passar muito tempo sem atribuir um rating, seja ele qual for. Pode estar a acontecer uma viagem, sem regresso, para os mercados emergentes e, quando se der conta, ouve: “Desculpa, mas fartei-me, já nem sequer estou zangado/a contigo, prefiro ficar só que andar a pedinchar ternura”
Deixem os ratings do país para quem os manipula, mas preocupem-se com a vossa dívida afetiva, verdadeiramente é o que mais conta na vida, com os amores, com a família, com os amigos.
E não tem IVA, nem paga IRS…
Está completamente nas vossas mãos.

terça-feira, fevereiro 14, 2012

a guerra vem aí? parte 2


Michel Chossudovsky, nascido em 1946 no Canadá, economista, licenciado e doutorado nas Universidades de Manchester e na de North Carolinaé professor emérito na Universidade de Ottawa sendo professor convidado em várias universidades europeias, asiáticas e sulamericanas, onde o seu prestígio como economista e escritor, analista e responsável em organizações de prestígio, o tornam uma das vozes respeitadas do mundo de hoje. É autor de ''The Globalization of Poverty and The New World Order'' (2003), "War on Terrorism"(2005) e ''Towards a World War III Scenario: The Dangers of Nuclear War'' (2011). Foi entrevistado há dias pelo jornal i e a sua entrevista, embora extensa, merece ser lida com atenção dado os cenários que ali são apontados. Transcrevo na íntegra a sua entrevista, versão on line.


«Michel Chossudovsky, presidente e director do Centre for Research on Globalization conversou com o i sobre essa possível terceira guerra mundial, de que fala no seu livro “Towards a World War III Scenario: The Dangers of Nuclear War”. Crítico da fortificação militar que os Estados Unidos estão a construir em torno da China, o professor canadiano da Universidade de Otava defende que a opinião pública é fundamental para evitar uma guerra nuclear.

Diz no seu livro que a guerra com o Irão já começou e que os Estados Unidos estão apenas à espera de um rosto humano para lhe dar. Acredita que os objectivos políticos e geoestratégicos de Washington podem levar-nos a uma guerra nuclear com consequências para toda a humanidade?

Não quero fazer previsões e ir além do que aconteceu. Tudo o que posso dizer, e tenho vindo a dizê-lo de forma repetida, é que a preparação para a guerra está a um nível muito elevado. Se será levada a cabo ou não é outro patamar, e ainda não o podemos afirmar. Esperemos que não. Mas temos de considerar seriamente o facto de que este destacamento de tropas é o maior da história mundial. Estamos a assistir ao envio de forças navais, homens, sistemas de armamento de ponta, controlados através do comando estratégico norte-americano em Omaha, Nebrasca, e que envolve uma coordenação entre EUA, NATO e forças israelitas, além de outros aliados no golfo Pérsico (Arábia Saudita e estados do Golfo). Estas forças estão a postos. Isto não significa necessariamente que vamos entrar num cenário de terceira guerra mundial, mas os planos militares no Pentágono, nas bases da NATO, em Bruxelas e em Israel, estão a ser feitos. E temos de os levar muito a sério. Tudo pode acontecer, estamos numa encruzilhada muito perigosa e infelizmente a opinião pública está mal informada. Dão espaço a Hollywood, aos crimes e a todo o tipo de acontecimentos banais, mas, no que toca a este destacamento militar que poderá levar-nos a uma terceira guerra mundial, ninguém diz nada. Isso é um dos problemas, porque a opinião pública é muito importante para evitar esta guerra. E isso não está a acontecer, as pessoas não se estão a organizar para se oporem à guerra. Isto não é uma questão política, é um problema muito mais vasto, e tenho de dizer que os meios de comunicação ocidentais estão envolvidos em actos de camuflagem absolutamente criminosos. Só o facto de alinharem com a agenda militar, como estão a fazer na Síria, onde sabemos que os rebeldes são apoiados pela NATO, na Arábia Saudita e em Israel, e como fizeram na Líbia, é chocante do meu ponto de vista, porque as mentiras que se criam servem para justificar uma intervenção humanitária.

Em vez de uma guerra nuclear, não podemos assistir a um cenário semelhante à Guerra Fria, com os EUA, a União Europeia e Israel de um lado e a China, a Rússia e o Irão do outro?

Esse cenário já é visível. A NATO e os EUA militarizaram a sua fronteira com a Rússia e a Europa de Leste, com os chamados escudos de defesa antimíssil – todos esses mísseis estão apontados a cidades russas. Obama sublinhou em declarações recentes que a China é uma ameaça no Pacífico – uma ameaça a quê? A China é um país que nunca saiu das suas fronteiras em 2 mil anos. E eu sei, porque ando a investigar este tema há muito tempo, que está a ser construída toda uma fortaleza militar à volta da China, no mar, na península da Coreia, e o país está cercado, pelo menos na sua fronteira a sul. Por isso a China não é a ameaça. Os EUA são a ameaça à segurança da China. E estamos numa situação de Guerra Fria. Devo mencionar, porque é importante para a UE, que, no limite, os EUA, no que toca à sua postura financeira, bancária, militar e petrolífera, também estão a ameaçar a UE. Estão por trás da destabilização do sistema bancário europeu.

E a colocação de mais tropas em torno da China vai trazer mais tensão à região.

Quanto a isso não tenho dúvidas, porque os EUA estão a aumentar a sua presença militar no Pacífico, no oceano Índico e estão a tentar ter o apoio das Filipinas e de outros países no Sudeste Asiático, como o Japão, a Coreia, Singapura, a Malásia (que durante muitos anos esteve reticente a juntar-se a esta aliança). Portanto, Washington está a formar uma extensão da NATO na região da Ásia-Pacífico, direccionada contra a China. Não há dúvidas quanto a isto. E não se vence uma guerra contra a China. É um país com uma população de 1,4 mil milhões de pessoas, com um número significativo de forças, tanto convencionais como estratégicas. Por isso, com este confronto entre a NATO e os EUA, de um lado, e a China, do outro, estamos num cenário de terceira guerra mundial. E toda a gente vai perder esta guerra. Qualquer pessoa com um entendimento mínimo de planeamento militar sabe que este tipo de confronto entre superpotências – incluindo o Irão, que é uma potência regional no Médio Oriente, com uma população de 80 milhões de pessoas – poderá levar-nos a uma guerra nuclear. E digo isto porque os EUA e os seus aliados implementaram as chamadas armas nucleares tácticas – mudaram o nome das bombas e dizem que são inofensivas para os civis, o que é uma grande mentira.

Mentira porquê?

Está escrito em todos os documentos que a B61-11 [arma nuclear convencional] não faz mal às pessoas e planeiam usá-la. Tenho estado a examinar estes planos de guerra nos últimos oito anos, e posso garantir que estão prontos a ser usados e podem ser accionados sem uma ordem do presidente dos EUA. Olhe para o que eles designam “Nuclear Posture Review” de 2001, um relatório fulcral que integra as armas nucleares no arsenal convencional, sublinhando a distinção entre os diferentes tipos de armas e apresentando a noção daquilo que chamam “caixa de ferramentas”. E a caixa de ferramentas é uma colecção de armas variadas, que o comandante na região ou no terreno pode escolher, onde estão estas B61-11, que são consideradas armas convencionais. Se quiser posso fazer uma analogia, é a mesma coisa que dizer que fumar é bom para a saúde. As armas nucleares não são boas para a saúde, mudaram o rótulo e chamaram--lhes bombas humanitárias, mas têm uma capacidade destruidora seis vezes superior à de Hiroxima.

Mas a maior parte das pessoas não parece consciente da gravidade do cenário...

A ironia é que a terceira guerra mundial pode começar e ninguém estará sequer a par, porque não vai estar nas primeiras páginas. Na verdade, a guerra já começou no Irão. Têm forças especiais no terreno, instigaram todo este tipo de mecanismos para desestabilizar a economia iraniana através do congelamento de bens. Há uma guerra da moeda em curso – isto faz parte da agenda militar. Desestabilizando-se a moeda de um país desestabiliza-se a sua economia, bloqueiam-se as exportações de petróleo, e isto antecede a implementação de uma agenda militar. Se eles puderem evitar uma aventura militar contra o Irão e ocupar o país através de outros meios, fá-lo-ão. É isso que estão a tentar neste momento. Querem a mudança de regime, o colapso das petrolíferas, apropriar-se dos recursos do país, e têm capacidade para fazer isto tudo sem uma intervenção militar, embora alguma possa vir a ser necessária. Mas o Irão é considerado uma das maiores potências militares da região e basta olharmos para as análises da sua força aérea, a sua capacidade em mísseis, as suas forças convencionais que ultrapassam um milhão de homens (entre activo e reserva), o que permite que de um dia para o outro consiga mobilizar cerca de metade, ou até mais. Tendo em conta estes números, os EUA e os seus aliados não conseguem vencer uma guerra convencional contra o Irão, daí a razão pela qual estão a tentar fazer a guerra com outros meios, e um desses meios é o pretexto das armas nucleares.

Acha que o Ocidente pode lançar um ataque preventivo contra o Irão mesmo sem provas?

Claro que sim! Olhe para a história dos pretextos para lançar guerras. Olhe para trás, para todas as guerras que os EUA começaram, a partir do século xix. O que fazem sistematicamente é criar aquilo que chamamos incidente provocado para começar a guerra. Um incidente que lhes permite justificar o início de um conflito por motivos humanitários. Isto é muito óbvio. Em Pearl Harbor, por exemplo, sabe-se que foi uma provocação, porque os EUA sabiam que iam ser atacados e deixaram que tal acontecesse. O mesmo se passou com o incidente no golfo de Tonkin, que levou à guerra do Vietname. E agora são vários os pretextos que emergem contra o Irão: as alegadas armas nucleares são um, outro é o alegado papel nos atentados 11 de Setembro, pois desde o primeiro dia que acusam o país de apoiar os ataques, a afirmação mais absurda que podem fazer, pois não existem quaisquer provas. Mas os media agarram nestas coisas e dizem “sim, claro”.

Pode explicar às pessoas de uma forma simples a relação entre guerra contra o terrorismo e batalha pelo petróleo?

A guerra contra o terrorismo é uma farsa, é uma forma de demonizar os muçulmanos e é também a criação, através de operações em segredo dos serviços secretos, de brigadas islâmicas, controladas pelos EUA. Sabemos disso! Estas forças, ligadas à Al-Qaeda, são uma criação da CIA de 1979. Por isso a guerra contra o terrorismo é apenas um pretexto e uma justificação para lançar uma guerra de conquista. É uma tentativa de convencer as pessoas de que os muçulmanos são uma ameaça e de que estão a protegê-las e para isso têm de invadir países perigosos, como o Irão, o Iraque, a Síria e a Coreia do Norte, que perdeu 25% da sua população durante a Guerra da Coreia, mas, no entanto, continua a ser tida como uma ameaça para Washington. É absurdo! Os americanos são um pouco como a inquisição espanhola. Aliás, piores! O que mais me choca é que os EUA conseguem virar a realidade ao contrário, sabendo que são mentiras e mesmo assim acreditando nelas. A guerra contra o terrorismo é uma mentira enorme, mas todas as pessoas acreditam e o mesmo se passava com a inquisição espanhola – ninguém a questionava. As pessoas conformam-se com consensos e quem assume a posição de que isto não passa de um conjunto de mentiras é considerado alguém em quem não se pode confiar e provavelmente perderá o emprego. Por isso esta guerra é contra a verdade, muito mais séria que a agenda militar. Contra a consciência das pessoas – parece que ninguém está autorizado a pensar. E depois vêm dizer-nos “Ah, mas as armas nucleares são seguras para os civis”. E as pessoas acreditam.

Será Israel capaz de atacar Irão sem o apoio dos EUA?

Não. Eles podem enviar as suas forças, por exemplo para o Líbano, mas o seu sistema está integrado no dos EUA e, como o Irão tem mísseis, têm de estar coordenados com Washington. É uma impossibilidade em termos militares. Em 2008, o sistema de defesa aérea de Israel foi integrado no dos EUA. Estamos a falar de estruturas de comando integradas. Quer dizer, Israel pode lançar uma pequena guerra contra o Hezbollah ou até contra a Síria, mas contra o Irão terá de ser com a intervenção do Pentágono. Embora tendo uma fatia significativa de militares, Israel tem uma população de 7 milhões de pessoas e não tem capacidade para lançar uma grande ofensiva contra o Irão».

segunda-feira, fevereiro 13, 2012

somos todos recrutas



Na Visão do passado dia 9, Ricardo Araújo Pereira publicou na sua página Boca do Inferno, a crónica «Trocar os xailes negros pelas boinas negras» em que esclarece os portugueses menos esclarecidos do que realmente sucedeu nas últimas eleições legislativas, em que os eleitores votaram (os que votaram) nos partidos das suas escolhas, pensando que daí iriam eleger um novo primeiro-ministro. E, porque não foi isso o que realmente sucedeu, resolveu fazer esse esclarecimento, servindo-se daquela crónica.
A mesma necessidade senti eu, mas dado que RAP se antecipou e partindo do princípio que ele não se importará que eu me sirva das suas palavras, aqui deixo a transcrição daquela crónica, para esclarecimento de todos, sem excepção de qualquer eleitor, seja ele governo ou governado.


«Todos os analistas inte­ligentes perceberam há muito que a nossa democracia sofreu uma pequena alteração nas últimas eleições. E eu começo a perceber agora: nas legislativas de 2011 os portugueses não elegeram um primeiro-ministro, elegeram um comandante do corpo de fuzileiros. O resultado foi este regime híbrido que combina a demo­cracia com a ditadura militar. É uma democracia militar. Portugal fez um intervalo na sua existência como país e passou a ser uma caserna. Há dez milhões de recrutas que necessitam de formação e Pedro Passos Coelho berra-lhes aos ouvi­dos exactamente as mesmas palavras de incentivo que todos os soldados ouvem durante a recruta. A diferença é que o tratamento é mais bruto do que na tropa e as condições de vida são piores.
É difícil distinguir a linguagem políti­co-militar da linguagem militar simples. Os recrutas, na tropa, ouvem que a boa vida que tinham antes acabou. Que quem acha que não aguenta deve sair. Que são preguiçosos. Que têm de fazer sacrifí­cios pela pátria. Que devem deixar de ser piegas. Os portugueses, na caserna, ouvem o mesmo: que viviam acima das suas possibilidades, e por isso a boa vida que tinham antes acabou. Que quem acha que não aguenta deve emigrar. Que são preguiçosos, e por isso têm de trabalhar mais, dispor de menos feriadós, deixar de festejar o Carnaval e ter férias menores. Que têm de fazer sacrifícios pela pátria, empobrecendo. E que devem deixar de ser piegas. Passos Coelho está a fazer de nós homens. Na impossibilidade de nos aplicar, como castigo, séries de 20 flexões de braços, cobra impostos. Flectimos o braço na mesma, mas é para ir buscar a carteira ao bolso. É duro, mas tem de ser. Porque Passos Coelho sabe melhor do que ninguém o que acontece àqueles portugueses menos esforçados, cuja capaci­dade de trabalho lhes permite arranjar emprego apenas nas empresas dos amigos, e que por opção, e não por necessidade, deixam a conclusão da licenciatura lá para os 37 anos: podem chegar a primeiro-ministro. E esse é um destino trágico que ele não deseja aos seus compatriotas.
A meio da recruta, o soldado faz o juramento de bandeira. O contribuinte português fará, suponho, o juramento de pin. Jura-se pela bandeira na mesma, mas é aquela bandeirinha de plástico que enfeita a lapela do primeiro-ministro».

quarta-feira, fevereiro 08, 2012

o porta-aviões português

Se há acontecimentos que me parecem inexplicáveis, um dos que mais me deixa espantado foi a tranquila aceitação por parte de Hitler da cedência da Base Aérea das Lajes à Royal Air Force e posteriormente aos EUA. Se é certo que a cedência de Portugal assentou no acordo histórico e centenário anglo-português, não deixa de ser certo que Portugal era um país neutral que dessa forma acabava de favorecer uma das partes em confronto. A partir daí seria natural que Hitler retaliasse e nos declarasse guerra. Mas, não. Aceitou a cedência do maior «porta aviões» do mundo às forças aliadas, apesar de saber que essa cedência representava uma grave perda do poderio naval alemão. Porquê nã reagiu? Falta de forças? Quem o saberá explicar? Chegou-me hoje às mãos este magnífico documento cinematográfico que nos conta de forma bastante real o que naquele tempo se passou e quais foram os seus protagonistas. Não poderia deixar de colocar à vossa disposição tão importante documento histórico, que nos mostra a chegada dos militares ingleses em Outubro de 1943 aos Açores, o início da construção da Base das Lajes, que viria a ser utilizada pelos norte-americanos a partir de 1944 e até hoje.

a guerra vem aí?

Não sou de alarmismos nem profeta de desgraças, mas não deixo de me interrogar e ter como provável uma calamidade que se aproxima, porque se vem desenhando há já algum tempo, mesmo que aqueles que com ela têm a ver tudo façam para dela nos distrair. Refiro-me ao conflito do médio oriente e aos problemas que se aproximam em passos de gigante no Estreito de Ormuz. Chamo a atenção de todos para o vídeo que vos deixo, com clareza de exposição e perceptível a todos.