segunda-feira, março 31, 2014

entendam, desta vez para sempre

 
 
Acabei de ler este artigo no jornal I on line. Mais um artigo que merece ser lido. 
 
 
Pensões: verdades, mentiras e verbos de encher
Eduardo Oliveira Silva
publicado em 29 Mar 2014 - 05:00

Há actividades onde sobra dinheiro para pagar à Segurança Social Como é evidente, o secretário de Estado Leite Martins não mentiu. Limitou-se a uma jogada de informação subterrânea, atirou o barro à parede e deu umas dicas para preparar o povão para um sistema de cortes permanentes das pensões ligado à demografia. Os desmentidos foram pró- -formas, como comprova o facto de a criatura se manter em funções. Partindo deste caso, observa- -se, por exemplo, a diferença em relação a outros países, como a falida Espanha, onde há dias os pensionistas receberam uma carta a anunciar- -lhes um pequeno aumento e a garantir-lhes que as pensões, tal como estão, são intocáveis. O mesmo sucede na Alemanha, onde uma reforma tem um valor sagrado, igual ao da propriedade. Por cá, procura-se furiosamente tornar os cortes definitivos, como todos adivinhávamos apesar das juras em contrário. O processo é decidido no Ministério das Finanças, sendo o da Segurança Social remetido a um papel decorativo, enquanto os membros do grupo de trabalho inventado para estudar a reforma das pensões são transformados em verbos de encher que estranhamente não se demitem. A situação é tão surrealista que não há nota de que o grupo se reúna, quanto mais de que tenha sugerido soluções. Uma vergonha a acrescentar à ópera bufa proporcionada pelo secretário de Estado. As questões relacionadas com as reformas não podem continuar a ser tratadas de forma precipitada e agarotada, como se tem visto através de medidas tomadas à la minuta, caindo os sacrifícios sempre em cima dos mesmos, nomeadamente dos pensionistas, como reconheceu ontem Cavaco Silva. Em primeiro lugar, o sistema que existe é viável e cobre as pensões de quem efectivamente descontou. O que não cobre é o pagamento anos a fio a quem nunca teve uma vida contributiva regular, pelo que esse pagamento não deve ir da Segurança Social mas do Orçamento do Estado. Em segundo lugar, os pensionistas e reformados são um importante grupo de consumidores, quer ganhem muito quer pouco. Isto porque contam com uma determinada quantia mensal e gerem-na em função dessa expectativa, só poupando se realmente sobrar qualquer coisa, o que é uma raridade. Daí que precisem de uma protecção suplementar, desde logo por uma questão de respeito pelos mais velhos, como mandam as sociedades civilizadas, e depois porque a estabilidade do rendimento é indispensável para eles e para o mercado de consumo. Atirar ainda mais incertezas para cima dos reformados parece um esquema de sadismo social, perturba a economia e afecta um grupo que funciona como esteio da sociedade, quando ajuda filhos e netos em dificuldades. O que se deve estudar hoje não é a forma de cortar mais ou para sempre, mas como ir buscar receita para a Segurança Social onde haja dinheiro. O sistema foi construído, primeiro, com base num esquema de aforro, e depois, em data incerta, passou a dizer-se que os trabalhadores de hoje pagam as actuais reformas, ajustando-se as regras quase anualmente. Ora numa altura em que praticamente nada é feito com mão- -de-obra intensiva e em que há muito desemprego, verifica-se um desequilíbrio contributivo que não advém só da demografia. As soluções passam por uma reforma global e europeia que encontre recursos nos negócios financeiros especulativos que geram dinheiro sobre dinheiro sem repartirem socialmente os lucros. Mas essa é uma solução da qual ninguém fala e não custa perceber porquê.

domingo, março 30, 2014

faz bem ao ego

Faz bem ao ego, apesar de não ter sido patrocinado por portugueses ou talvez seja apenas por isso mesmo.

 

sábado, março 29, 2014

aceito que não sei assobiar

Se pensa que sabe assobiar ouça esta interpretação de Finish Whistler, por Roger Whittaker e depois disso dificilmente lhe apetecerá assobiar, sem sentir um arrepio...

sexta-feira, março 28, 2014

a corrupção, mais uma vez

Mais um vídeo sobre a corrupção que grassa no nosso país. Ouçam com atenção as palavras de Tiago Caiado Guerreiro e de Paulo Morais e terão um retrato do que se passa e de como se podia impedir que sucedesse.

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quinta-feira, março 27, 2014

terry fator, a voz invisivel

Terry Wayne Fator, nasceu em 10 de Junho de 1965, em Dallas. Foi o vencedor do 2.º concurso do America's Got Talent, tendo recebido o prémio de um milhão de dólares. Consegue imitar 100 vozes diferentes. Neste vídeo apresentado por Jerry Lewis, ele faz-se acompanhar pelos seus bonecos Julius e Elvis. Absolutamente extraordinário, não sendo possível detectar o seu canto e sendo evisentes apenas as suas inspirações. Vale a pena. Não perca.
 

terça-feira, março 25, 2014

carta aberta a quem devia estar calado


Sem comentários, porque não são precisos.

Carta Aberta a José Gomes Ferreira
 
Caro José Gomes Ferreira
Confesso a minha surpresa pelo teor da sua carta “A Uma geração Errada”, na medida a que me habituei a posições suas muito reflectidas e geralmente ajustadas às circunstâncias. Neste caso, lamento dizer que seu texto é um mau serviço prestado aos portugueses que passam fome, além de profundamente injusto, porque reabre o conflito de gerações que o actual Governo tem promovido e que não esperava que o JGF subscrevesse. O texto é injusto ao colocar os problemas do País no plano geracional porque, como deve saber, foram as novas gerações que estiveram amplamente representadas nos diferentes governos que endividaram o País e são ainda as novas gerações que nos continuam a endividar no actual Governo. Contrariamente, são as velhas gerações, que durante muitas dezenas de anos sustentaram a Segurança Social e o Estado Social, que estão agora a sofrer os cortes nos seus rendimentos levados a cabo pela geração do actual Primeiro Ministro. Portanto, não subscrevo a sua tese e a do actual Governo, criadora de um conflito de gerações, que é um falso problema, mas já que a sua carta vai por aí não posso deixar de lhe chamar a atenção para a visão distorcida e de via única que a sua carta comporta. Até porque foram alguns dos mais velhos, nos quais me incluo, que protestaram por todos os meios, nomeadamente no seu programa, contra os erros, desmandos e autoritarismo dos governos, em particular dos governos de José Sócrates, quando a parte de leão do endividamento do Estado foi criada, como muito bem sabe. Por isso, pessoalmente, não posso aceitar as suas injustas considerações, até porque desde os governos de António Guterres que protesto contra a ausência de uma estratégia de crescimento económico e contra as chamadas políticas do betão criadoras de despesismo a favor dos sectores da construção e obras públicas, da especulação imobiliária, das telecomunicações, dos rendeiros da energia e da resultante corrupção para que o Pais foi conduzido. Aliás, as fortunas que resultaram do monstro da corrupção estão maioritariamente, como espero que saiba, nos bolsos de outras gerações que não da minha geração. Pessoalmente descontei para a Segurança Social durante 59 anos para ter uma reforma milionária de 4500 euros, sujeita, como todas as outras, a cortes indiscriminados. O segundo erro, que não esperava de si devido às denúncias que tem feito como jornalista, reside em considerar que os subscritores do Manifesto, como os portugueses em geral, não têm o direito de procurar e debater novas soluções para Portugal, para além da vil tristeza e da miséria para que estamos passivamente a ser conduzidos como um rebanho sem ideias, sem alternativa e já sem coragem. E a favor de quê, pergunto-lhe? Pela sua carta o objectivo parece ser o de não melindrar os nossos credores internacionais, não fazer ondas e aceitar o que eles decidirem sem mesmo questionar se a União Europeia pode ou deve ter uma politica de sustentabilidade e de crescimento das economias dos diferentes países europeus. Nesse caso pergunto-lhe para que serve a democracia portuguesa e a democracia europeia se aos cidadãos europeus é vedada a procura de soluções alternativas? Pergunto-lhe também quem definiu o timing e a pretensa inoportunidade do Manifesto? Porquê então, após três anos de sermos os bons alunos das políticas germânicas, o endividamento continua a crescer e o desemprego, a fuga dos jovens e o empobrecimento das famílias portuguesas não pára e a fome cresce um pouco por todo o Pais? Tem o JGF alguma solução, para além de não fazermos nada? Quanto a “deixar os jovens trabalhar” considero isso um insulto gratuito aos mais velhos que, com enormes dificuldades, lutam por manter os filhos e os netos à tona de água ou os ajudam a sobreviver através da emigração. É fácil entretanto, haja Deus, estar de acordo consigo quanto aos estádios, ou sobre os negócios ruinosos do Estado: Swapps, BPN, BPP, parcerias público privadas, energia cara e produtores a enriquecer, regulação inexistente, empresas públicas ruinosas e privatizações feitas a feitio com os consultores interessados do costume, com garantia de empregos bem pagos em administrações faz de conta de políticos de várias gerações, em que a sua está bem representada. É para manter tudo isso que devemos continuar calados? Pessoalmente, luto contra tudo isto há vinte anos e nunca pedi licença a ninguém para o fazer. Espero que compreenda que também não o faça agora devido ao Manifesto que, como cidadão livre, assinei e cuja iniciativa saúdo. Contra a demissão. Com amizade,
Henrique Neto

segunda-feira, março 24, 2014

o quarto reich



Desconheço a origem deste texto, mas parece-me suficientemente interessante para merecer a vossa leitura e análise.

O Quarto Reich

A inflamada declaração de Angela Merkel, numa entrevista à televisão pública alemã, ARD, em que sugere a perda de soberania para os países incumpridores das metas orçamentais, bem como a revelação sobre o papel da célebre família alemã Quandt, durante o Terceiro Reich, ligam-se, como peças de puzzle, a uma cadeia de coincidências inquietantes.
Gunther Quandt foi, nos anos 40, o patriarca de uma família que ainda hoje controla a BMW e gere uma fortuna de 20 mil milhões de euros. Compagnon de route de Hitler, filiado no partido Nazi, relacionado com Joseph Goebbels, Quandt beneficiou, como quase todos os barões da pesada indústria alemã, de mão-de-obra escrava, recrutada entre judeus, polacos, checos, húngaros, russos, mas também franceses e belgas.
Depois da guerra, um seu filho, Herbert, também envolvido com Hitler, salvou a BMW da insolvência, tornando-se, no final dos anos 50, uma das grandes figuras do milagre económico alemão. Esta investigação, que iliba a BMW mas não o antigo chefe do clã Quandt, pode ser a abertura de uma verdadeira caixa de Pandora. Afinal, o poderio da indústria alemã assentaria directamente num sistema bélico baseado na escravatura, na pilhagem e no massacre. E os seus beneficiários nunca teriam sido punidos, nem os seus empórios desmantelados.
As discussões do pós-Guerra, incluíam, para alguns estrategas, a desindustrialização pura e simples da Alemanha - algo que o Plano Marshal, as necessidades da Guerra Fria e os fundadores da Comunidade Económica Europeia evitaram. Assim, o poderio teutónico manteve-se como motor da Europa. Gunther e Herbert Quandt foram protagonistas deste desfecho.
Esta história invoca um romance recente de um jornalista e escritor de origem britânica, a viver na Hungria, intitulado "O protocolo Budapeste". No livro, Adam Lebor ficciona sobre um suposto directório alemão, que teria como missão restabelecer o domínio da Alemanha, não pela força das armas, mas da economia. Um dos passos fulcrais seria o da criação de uma moeda única que obrigasse os países a submeterem-se a uma ditadura orçamental imposta desde Berlim. O outro, descapitalizar os Estados periféricos, provocar o seu endividamento, atacando-os, depois, pela asfixia dos juros da dívida, de forma a passar a controlar, por preços de saldo, empresas estatais estratégicas, através de privatizações forçadas. Para isso, o directório faria eleger governos dóceis em toda a Europa, munindo-se de políticos-fantoche em cargos decisivos em Bruxelas - presidência da Comissão e, finalmente, presidência da União Europeia.
Adam Lebor não é português - nem a narração da sua trama se desenvolve cá. Mas os pontos de contacto com a realidade, tão eloquentemente avivada pelas declarações de Merkel, são irresistíveis. Aliás, "não é muito inteligente imaginar que numa casa tão apinhada como a Europa, uma comunidade de povos seja capaz de manter diferentes sistemas legais e diferentes conceitos legais durante muito tempo." Quem disse isto foi Adolf Hitler. A pax germânica seria o destino de "um continente em paz, livre das suas barreiras e obstáculos, onde a história e a geografia se encontram, finalmente, reconciliadas" - palavras de Giscard d'Estaing, redactor do projecto de Constituição europeia.
É um facto que a Europa aparenta estar em paz. Mas a guerra pode ter já recomeçado.

domingo, março 23, 2014

não é possível exterminá-los?



Apesar de já ter passado algum tempo sobre este artigo de José Pacheco Pereira, mantém-se a sua actualidade  e a forma clara e certeira com que foi escrito. Penso justificar-se cada vez mais a sua divulgação.

Os velhos: não é possível exterminá-los?

«Eu gostaria muito de escrever artigos racionais, ponderados, que merecessem uma aura académica e sensata, que unissem em vez de dividir, que me permitissem ter a minha quota de lugares, prémios e prebendas, mas estou condenado, nestes tempos, a escrever cada vez mais panfletos. Acontece. Isto do imperativo categórico, como Kant sabia, é uma maçada. Isso deve-se ao facto de não querer ter nenhuma falinha mansa, daquelas que enchem o balofo da nossa política de mútuos cumprimentos e salamaleques, com gente que se mostra impiedosa por indiferença, hostil com os fracos que estão do lado errado da “economia”, subserviente com os fortes, capaz de usar todos os argumentos para dividir, se daí vier alguma pequena folga para as suas costas. Tenho dito e vou repetir: a herança que estes dois anos de “Governo” Passos Coelho-Portas-troika vai deixar ultrapassará muito o seu tempo de vida como governantes. Se não for antes, em 2015, passarão à história como um epifenómeno dos tempos da crise e sobreviverão incrustados nos partidos de onde lhes vem o poder, como um fungo que não se consegue limpar. Vão continuar a estragar muita coisa, mas a própria lógica de onde vieram os substituirá por outros mais ou menos maus. A maldição portuguesa é esta. Aquilo que mais precisamos, não temos. Mas, mesmo que desapareçam como as figuras menores que realmente são, vão deixar estragos muito profundos no tecido já de si muito frágil da nossa vida colectiva, cavando fundo divisões e conflitos, destruindo o pouco de humanidade social que algum bem-estar tinha permitido. Eles estão, como as tropas romanas, a fazer no seu Cartago, infelizmente no nosso Portugal, o terreno salgado e estéril. Pode-se-lhes perdoar tudo, os erros de política, a incompetência, o amiguismo, uma parte da corrupção dos grandes e dos médios, menos isto, este salgar da terra que pisamos, apenas para obter uns ganhos pequeninos no presente e com o custo de enormes estragos no futuro. Um exemplo avulta nos últimos dias, que já vem de trás, mas que ganha uma nova dimensão: o ataque aos velhos por serem velhos, uma irritação com o facto de haver tanta gente que permanece como um ónus para o erário público apesar de já não ser “produtiva”, de não ter saída no “mercado do trabalho”, de estar “gasta”. De ministros que não leram Camões e nem sequer sabem quem são os “velhos do Restelo”, a gente que pulula nesse novo contínuo dos partidos e do Estado que são os blogues, a umas agências de comunicação que são as Tecnoforma dos dias de hoje, boys e empregados de todos os poderes para fazerem na Internet e nos jornais o sale boulot, todos, de uma maneira ou de outra, atacam os velhos, por serem velhos. Numa sociedade envelhecida, isso significa atacar a maioria dos portugueses, em nome de uma ideia de juventude “empreendedora”, capaz de fazer uma empresa do nada só com “ideias”, “inovação” e design, sem os vícios do “passado”, capaz de singrar na vida sem “direitos adquiridos”, nem solidariedade social, imagem que tem o pequeno problema de ser tão mitológica como a Fada dos Dentinhos. Grande parte do ataque a Mário Soares e a muitos que estiveram na Aula Magna foi feito em nome de eles serem “velhos”, logo senis. Nem sequer é por implicação, é dito com clareza, com o mesmo tipo de “argumentos” com que os soviéticos enviavam os dissidentes para os asilos psiquiátricos porque quem estivesse no uso normal das suas faculdades não podia deixar de ser comunista. Aqui é o mesmo: só pode ser senil quem duvidar da bondade das medidas do Governo, apresentadas como sendo a realidade pura, inescapável, inevitável. Como pode estar bom da cabeça quem coloca em causa a versão em “economês” da lei da gravidade? Só um louco. E se for velho, é-se senil, ultrapassado, antiquado, mesquinho, por definição. Não há outra maneira de explicar que haja velhos com tantas ideias “erradas” sobre a bondade do nosso “ajustamento” e que sejam empecilhos para os “jovens” brilhantes que o aplicam com vigor e sem vergonha. Muito do discurso contra os velhos, que começa, em bom rigor, cada vez mais cedo, quando se perde o emprego e se fica “gasto” para o mercado de trabalho, é um discurso que pretende ser utilitário no plano político, e é isso que o torna moralmente desprezível. Destina-se a justificar o violento ataque a reformas e pensões, a gente que trabalhou a vida toda, e que ainda tem memória do que custou obter esses malfadados “direitos”, resultado de “contratos” de “confiança” com o estado, tudo coisas de velhos que estão a “roubar” aos mais novos do seu futuro. Estão a mais. E se eles não percebem que estão a mais a gente vai mostrar-lhes pelo vilipêndio e pelo saque que já há muito deveriam ter desaparecido. Muita coisa tem hoje a ver com esta demonização da idade. Um caso entre muitos, é o que se está a passar com o despedimento colectivo dos trabalhadores dos Estaleiros de Viana do Castelo. Nem sequer discuto se a empresa tinha que encerrar ou não, porque a partir de um certo nível de dolo e degradação da linguagem esse não é o primeiro problema. Podia ser, mas com esta gente não é, porque, ao fazerem as coisas como fazem, sempre obcecados em enganar-nos, merecem que contra eles se volte tudo, o discurso empolgado dos “navegadores” e a retórica do “mar”, ao mesmo tempo que se fecha o único estaleiro que sobrava, a disparidade de não querer pagar 180 milhões de euros, enquanto se aumenta a taxa para a RTP, que recebe todos os anos muito mais do que isso, a displicência com que se apresenta como grande vitória, mais de 600 despedimentos. Acresce a soma de mentiras habituais: que 400 trabalhadores vão ser reintegrados (afinal não há nenhuma garantia), que vão ser pagas as devidas indemnizações (afinal parece que só a parte deles), que vai continuar a construção naval (quando não custa perceber que o que a Martifer vai fazer não são navios). O que vai acontecer é um enorme despedimento colectivo feito pelo Estado, o encerramento dos estaleiros à construção naval, o preço de saldo para a Martifer após o Estado, como no BPN, pagar todos os custos. E, na vaguíssima hipótese de alguns trabalhadores serem empregados na nova empresa, serão sempre poucos, com salários mais baixos, com uma folha de antiguidade a zero, e ficarão de fora os mais velhos e os mais reivindicativos. Alguém vai contratar um membro da comissão de trabalhadores, mesmo que seja um excelente soldador? Como muita da mão-de-obra dos estaleiros já tem uma certa idade – os velhos começam a ser velhos aos quarenta –, está-se mesmo a ver a sua “empregabilidade”. Não custa fazer o discurso politicamente correcto de que a “esquerda não tem o monopólio da sensibilidade social” (e não tem), nem dizer aqueles rodriguinhos do costume do género “que bem sabemos como os portugueses estão a sofrer”, ou que “nenhum Governo gosta de tomar estas medidas”, ou elogiar os portugueses pelo seu papel “decisivo” no sucesso da aplicação do “ajustamento”, etc., etc. Na verdade, estou farto de exibições de confrangimento público e exercícios de “preocupação social”, já não posso ver a hipocrisia de Passos Coelho e de Aguiar Branco, ao lado do exibicionismo pavoneado dos soundbites de Portas. Swift escreveu em 1729 uma sátira sobre a pobreza na Irlanda chamada Uma modesta proposta para evitar que as crianças dos pobres irlandeses sejam um fardo para os seus pais e o seu país e para as tornar um benefício público. Aconselhava os pobres a comerem os filhos, como meio de combater a fome, “grelhados, fritos, cozidos, guisados ou fervidos”. Na verdade, quando se assiste a este ataque à condição de se ser mais velho – um aborrecimento porque exige pagar reformas e pensões, faz uma pressão indevida sobre o sistema nacional de saúde, e, ainda por cima, protestam e são irreverentes –, podia avançar-se para uma solução mais simples. Para além de os insultar, de lhes retirar rendimentos, de lhes dificultar tudo, desde a obrigação de andar de repartição em repartição em filas para obter papéis que lhes permitam evitar pagar rendas de casa exorbitantes, até ao preço dos medicamentos, para além de lhes estarem a dizer todos os dias que ocupam um espaço indevido nesta sociedade, impedindo os mais jovens de singrarem na maravilhosa economia dos “empreendedores” e da “inovação”, será que não seria possível ir um pouco mais longe e “ajustá-los”, ou seja, exterminá-los?»

José Pacheco Pereira
Historiador

sábado, março 22, 2014

a gorongosa, tal como a conheci

Foi assim, tal como se vê no vídeo que aqui vos deixo, que conheci o Parque Nacional da Gorongosa em 1962. Era então um jovem médico, mobilizado como ajudante de cirurgião do Hospital Militar 339, sediado em Vila Pery, mas com a equipe cirúrgica residindo na cidade da Beira! As saudades que tenho das visitas semanais a Vila Pery, para o teatro dum dia de serviço que não existia, porque na verdade, o nosso trabalho era na Beira, para onde o Hospital se mudou passados 8 meses. Ainda hoje vejo e ouço as dezenas de macacos atravessando a estrada à frente do meu Volvo B 18, cerca do Pungué...  Ainda hoje recordo a beleza e amenidade de Vila Pery, a simpatia dos seus habitantes, os jantares amigos em casa do Amadeu Silva e Costa e da Jeca, do convite deles para a Gorongosa que então administrava em acumulação com os serviços veterinários do Chimoio... Boas memórias, de bons tempos.


sexta-feira, março 21, 2014

um sinal de trânsito de 1686, em lisboa

 
 
Sabem onde fica em Lisboa o sinal de trânsito mais antigo da cidade?
Na Rua do Salvador, n.º 26, em Alfama. É uma placa que data de 1686 e foi mandada afixar por D. Pedro II para orientar os coches que passavam por esta rua estreita, muito importante há 4 séculos, quando ligava as portas do Castelo de São Jorge à Baixa. 
Hoje em dia, é uma pequena travessa, infelizmente cheia de prédios arruinados, entre a Rua das Escolas Gerais e a Rua de São Tomé. A meio da pequena subida há um edifício, fora do alinhamento, que a estrangula.
No tempo de D. Pedro II este estreitamento era causa de muitas discórdias entre os carroceiros que subiam ou desciam a rua. Se dois se encontrassem a meio, nenhum cedia passagem, uma vez que era tarefa difícil fazer recuar os animais. Houve mesmo lutas e duelos, com feridos e mortos.
Para evitar tais discórdias, foi publicado então um édito real e afixada esta placa no local, estabelecendo a prioridade a respeitar em tal situação.
Diz assim: "Ano de 1686. Sua Majestade ordena que os coches, seges e liteiras que vierem da Portaria do Salvador recuem para a mesma parte".
Ou seja, o coche que vem de cima perde prioridade em relação ao coche que vem de baixo.

quarta-feira, março 12, 2014

ditadura e incompetência

São cada vez mais as vozes que afirmam publicamente o que, na verdade, se passa. Hoje, as vozes são de Eduardo Correira e Medina Carreira.

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terça-feira, março 11, 2014

domingo, março 09, 2014

sabe quanto nos custa o voto?

Sabia isto? Imaginava com quanto contribuímos para os partidos?

sábado, março 08, 2014

a espiral da náusea

 
 
Espiral de náusea
 
VIRIATO SOROMENHO MARQUES

«A Goldman Sachs aparenta ser um banco, mas o seu currículo mais parece um cadastro, devido às suas ligações com uma interminável série de irregularidades, que vão das bolhas imobiliárias e financeiras, à manipulação de mercados, à corrupção de governos, incluindo a maquilhagem das contas públicas gregas, que inaugurou a atual crise europeia. AGoldman Sachs é um dos nichos de um poder mundial não eleito, não submetido a constrangimentos constitucionais, não obrigado a testes de legitimidade. Um poder fáctico, sem lealdade de pátria, religião ou doutrina. Escassas centenas de homens que gerem em rede dinheiro e influência. Um dos instrumentos da sua estratégia consiste em cativar pessoas brilhantes do mundo académico, projetando-as depois em altos lugares políticos de países e/ou organizações internacionais. Paulson, Draghi, Monti, Issing, ou o falecido António Borges estão nessa lista. José Luís Arnaut (JLA), figura influente do PSD, foi nomeado para o Conselho Consultivo Internacional da Goldman Sachs. Ao contrário das figuras citadas, a JLA não se lhe conhece uma única ideia própria, mas sabe-se que o seu escritório de advocacia tem sido fundamental no "apoio" ao Governo em matéria de privatizações. A Goldman Sachs espreita, ávida, sempre que um país é obrigado a vender os seus anéis. José Luís Arnaut é, portanto, um hábil perito em transformar propriedade pública em salvados. Merecedor da gratidão pública da Goldman Sachs. Milhões de portugueses e europeus labutam, preocupados com o (des)emprego e o desamparo da crise. Lutam por uma democracia que não retire os seus filhos do mapa do futuro. Mas há quem faça carreira e lucro à custa do sofrimento geral. A espiral recessiva parece ter sido travada. Mas a espiral da náusea moral, essa, está ainda muito longe de ter batido no fundo».

quinta-feira, março 06, 2014

a resposta possível

 
 
Publicado no passado dia 4 de Março, no Público, este artigo de José Vítor Malheiros merece divulgação. Aqui o deixo, para vós.
 
 
O país do PSD não precisa de pessoas
JOSÉ VÍTOR MALHEIROS

"A vida das pessoas não está melhor, mas a vida do país está muito melhor." «A frase, de Luís Montenegro, o risonho líder parlamentar do PSD, merece entrada em qualquer colectânea de citações políticas e mesmo nos manuais de história contemporânea. Não pela profundidade do pensamento, como nos melhores casos, mas pela clareza da ideia que expõe, que no caso vertente resulta de uma mistura de simplicidade e de desfaçatez. A primeira parte da tirada ("A vida das pessoas não está melhor”) não levanta dúvidas a ninguém e merece a concordância de todos. Há menos emprego que quando este Governo tomou posse, há mais desemprego, há mais desempregados sem apoios sociais, há mais pobreza, há mais sem-abrigo, há mais fome, há mais desespero, há mais jovens sem dinheiro para estudar, há mais portugueses a emigrar por falta de perspectivas, há mais jovens qualificados a emigrar, há mais medo, há menos liberdade, há menos apoios sociais, há menos acesso à saúde, há menos formação, há menos escolas, há menos serviços no interior, há maior conflitualidade, há menos confiança nas pessoas e nas instituições, etc. A lista exaustiva é impossível de tão longa e, por trás de cada estatística, escondem-se milhares de tragédias pessoais, de histórias que não deviam existir num país desenvolvido no século XXI. O que é de mais difícil compreensão é aquele “a vida do país está muito melhor". É difícil porque é preciso um enorme esforço conceptual para separar este “país” que está “muito melhor” das “pessoas” que “não estão melhor”. Que país é este de que fala Montenegro? Que entidade é esta que está tão longe e tão separada das pessoas que é possível que uma esteja muito melhor e as outras muito pior? Existem muitas definições de estado (suponho que é do estado que fala Montenegro) mas praticamente todas elas consideram uma comunidade organizada politicamente, com um governo e um território. Que país é então este que está bem quando as suas pessoas estão mal? Que componente do país é que está melhor? Será que Montenegro fala do território? Não parece ser. Referir-se-á Luís Montenegro ao Governo? Será o Governo a parte do país que está “muito melhor”? É inegável que o executivo ganhou um novo vigor e que conseguiu construir um discurso positivo em torno da ideia de “fim do programa de ajustamento” que, por vácuo que seja, parece ter convencido alguns incautos e paralisado ainda mais o PS. Mas mesmo Luís Montenegro sabe que seria excessivo identificar Governo e país. Este país que está “muito melhor” parece ser algo mais amplo que a comissão liquidatária a que chamamos governo. Mas então que país é este que está “muito melhor” e que não são as pessoas? É simples: o “país” de que fala Luís Montenegro não é o nosso país. O “país” de que fala Luís Montenegro não é Portugal. O “país” de que fala Luís Montenegro é, simplesmente, o capital. O que Luís Montenegro quis dizer foi que "A vida dos trabalhadores não está melhor, mas a vida do capital está muito melhor". Basta substituir estas poucas palavras para tudo bater certo. A vida dos dirigentes do PSD está muito melhor (basta ver como se congratulavam todos no último congresso). A vida dos dirigentes do CDS está muito melhor. A vida dos banqueiros está muito melhor. A vida dos grandes empresários está muito melhor. A vida dos multimilionários está muito melhor. A vida dos advogados que trabalham para o capital está muito melhor. A vida dos empresários que baixam salários e despedem trabalhadores com o pretexto da crise está muito melhor. A vida dos empresários sem escrúpulos está muito melhor. A vida dos empresários que vivem à conta das PPP está muito melhor. A vida dos corruptos que nunca são condenados está muito melhor. A vida dos que têm as empresas registadas na Holanda e o dinheiro nas ilhas Caimão está muito melhor. A vida dos empresários da saúde que vêem as suas clínicas aumentar a facturação à custa da destruição do Serviço Nacional de Saúde está muito melhor. A vida dos empresários da educação que vêem as suas escolas aumentar a facturação à custa da destruição da escola pública e dos subsídios do estado está muito melhor. E depois, à volta destes, há um segundo anel de empresários de serviços de luxo, de serviços “diferenciados” e “exclusivos”, que servem os primeiros, cuja vida está também muito melhor. O que Luís Montenegro quis dizer foi que "A vida do povo não está melhor, mas a vida da oligarquia que manda no país está muito melhor". Foi por isso que se congratulou. Porque ele faz parte dela. Que isso constitua uma traição às promessas do PSD, à social-democracia que voltou a ter direito de menção no último congresso, ao interesse nacional, ao povo que o elegeu é algo que não preocupa Montenegro ou o PSD. Como diz com honestidade o multimilionário Warren Buffett, “há de facto uma luta de classes e a minha classe está a ganhar”. A diferença é que Buffett tem uma certa vergonha. E Montenegro não tem vergonha nenhuma».

jvmalheiros@gmail.com

quarta-feira, março 05, 2014

a força escondida

Recebi hoje este vídeo que me apresso a publicar. Do melhor que tenho vista e quase impensável ser possível. Uma força que não se ostenta, mas que existe. Só músculo? Onde estão eles que nem se mostram? Desconheço quem são, por falta de informação. Mas são uma realidade que aplaudo.
 

segunda-feira, março 03, 2014

para que ninguém esqueça

O título diz tudo - para que ninguém esqueça. O vídeo histórico é muito longo e dificilmente se consegue ver de uma só vez. Demora mais de uma hora, mas tudo que nos mostra foi realidade e é preciso não o esquecer, para que não volte a repetir-se. Repito - para não esquecer.