Durante uns dias vou estar longe deste blog e deste país. Em Outubro estarei de volta. Deixo-vos com uma imagem da catedral da cidade polaca que me acolherá. Dela e desses dias falarei no meu regresso e também do tema em discussão - a ética e a moral, hoje.
segunda-feira, setembro 20, 2010
terça-feira, setembro 14, 2010
adeus ângelo
Só agora soube que morreste, uma coisa quase improvável em ti. Quem passou pelo Porto e por Coimbra, quem depois conviveu contigo anos e anos em Lisboa, ficou sempre com a ideia que os dias não passavam por ti e o calendário se esquecia de te marcar a passagem inexorável do tempo, como faz com todos nós, aqueles de quem ninguém duvida que um dia desaparecerão. Mas contigo não era assim. Cada encontro te mostravas igual, talvez melhor. Sempre com o teu sorriso, sempre com a piada pronta, a observação certeira, o chiste rápido, e sempre o inseparável papel no bolso, que retiravas e nos mostravas, dando-nos algo de ti - um poema, uma crítica feroz, um baú de humor.
Só agora soube que no passado dia 30 de Julho tinhas resolvido deixar-nos e decidiras levar para o além o teu espírito inquieto, a tua juventude de 90 anos e a ideia que só a ti lembraria de pores os anjos a cantar o fado de Coimbra, não só os muitos que escreveste e musicaste, mas o de todos aqueles que o trouxeram até hoje.
Partiste sem me avisar e em falta comigo, se bem te lembras. Pedi-te uma informação e nunca me telefonaste a dar-ma. Quando depois disso te encontrei, perguntei-te porque nada me disseras. A resposta veio pronta - tens razão, Carlos, nem sei como me esqueci, logo agora que eu me lembro todos os dias que me esqueço de tudo!! Sempre tu.
O vídeo seguinte mostra algumas cenas do filme Capas Negras em que se pode ouvir o primeiro fado da autoria de Ângelo Araújo - Feiticeira.
Só agora soube que no passado dia 30 de Julho tinhas resolvido deixar-nos e decidiras levar para o além o teu espírito inquieto, a tua juventude de 90 anos e a ideia que só a ti lembraria de pores os anjos a cantar o fado de Coimbra, não só os muitos que escreveste e musicaste, mas o de todos aqueles que o trouxeram até hoje.
Partiste sem me avisar e em falta comigo, se bem te lembras. Pedi-te uma informação e nunca me telefonaste a dar-ma. Quando depois disso te encontrei, perguntei-te porque nada me disseras. A resposta veio pronta - tens razão, Carlos, nem sei como me esqueci, logo agora que eu me lembro todos os dias que me esqueço de tudo!! Sempre tu.
O vídeo seguinte mostra algumas cenas do filme Capas Negras em que se pode ouvir o primeiro fado da autoria de Ângelo Araújo - Feiticeira.
Da Biografia escrita por José Niza publico algumas notas sobre ti, que não respeitam à nossa amizade, mas à tua circunstância. Aqui ficam para quem não saiba nada de ti.
«Ângelo Vieira de Araújo nasceu em S. João da Madeira, a 1 de Janeiro de 1920. Completou o curso dos liceus no Porto e, em 1936, matriculou-se na Faculdade de Medicina desta cidade. Nos seus tempos de caloiro foi membro da Tuna Universitária do Porto, como solista de banjolim; foi também 2.° tenor do Orfeon Universitário do Porto.
Em 1937 transferiu-se para Coimbra, onde se licenciou em Medicina (1947), depois de ter cumprido o serviço militar. Foi membro da Real República do Kalifado.
Nos seus tempos de Coimbra foi 1.º violino da Tuna Académica e músico da sua Orquestra Havaiana. Pertenceu ainda ao Fado Académico e integrou o TEUC (Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra, fundado em 1938), organismo cuja fundação se deve à iniciativa de Jorge Moraes (Xabregas), guitarrista que marcou a geração de 1940.
Ângelo de Araújo, para além de poeta e compositor, tocava também diversos instrumentos (violino, banjolim, guitarra e viola).
Mas foi sobretudo como compositor e poeta que se notabilizou, sendo autor de cerca de duas dezenas de fados e baladas, dos quais se destacam a célebre Feiticeira, o primeiro que compôs. Esta canção foi estreada e divulgada por Manuel Julião, cantor dos anos 40 e, posteriormente, interpretada por Alberto Ribeiro, no filme Capas Negras, em que este cantor contracenou com Amália Rodrigues. Neste filme há outra canção de Ângelo de Araújo, interpretada pelo tenor Domingues Marques.
Outros fados, como Suspiros que Nascem na Alma, Contos Velhinhos, Minha Capa já Velhinha, Carta (Soneto), Balada do Crepúsculo, Coimbra dos Meus Encantos, Santa Clara, Amor e mais Nada e Maria se Fores ao Baile, têm também a marca da sua criatividade».
«Ângelo Vieira de Araújo nasceu em S. João da Madeira, a 1 de Janeiro de 1920. Completou o curso dos liceus no Porto e, em 1936, matriculou-se na Faculdade de Medicina desta cidade. Nos seus tempos de caloiro foi membro da Tuna Universitária do Porto, como solista de banjolim; foi também 2.° tenor do Orfeon Universitário do Porto.
Em 1937 transferiu-se para Coimbra, onde se licenciou em Medicina (1947), depois de ter cumprido o serviço militar. Foi membro da Real República do Kalifado.
Nos seus tempos de Coimbra foi 1.º violino da Tuna Académica e músico da sua Orquestra Havaiana. Pertenceu ainda ao Fado Académico e integrou o TEUC (Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra, fundado em 1938), organismo cuja fundação se deve à iniciativa de Jorge Moraes (Xabregas), guitarrista que marcou a geração de 1940.
Ângelo de Araújo, para além de poeta e compositor, tocava também diversos instrumentos (violino, banjolim, guitarra e viola).
Mas foi sobretudo como compositor e poeta que se notabilizou, sendo autor de cerca de duas dezenas de fados e baladas, dos quais se destacam a célebre Feiticeira, o primeiro que compôs. Esta canção foi estreada e divulgada por Manuel Julião, cantor dos anos 40 e, posteriormente, interpretada por Alberto Ribeiro, no filme Capas Negras, em que este cantor contracenou com Amália Rodrigues. Neste filme há outra canção de Ângelo de Araújo, interpretada pelo tenor Domingues Marques.
Outros fados, como Suspiros que Nascem na Alma, Contos Velhinhos, Minha Capa já Velhinha, Carta (Soneto), Balada do Crepúsculo, Coimbra dos Meus Encantos, Santa Clara, Amor e mais Nada e Maria se Fores ao Baile, têm também a marca da sua criatividade».
sábado, setembro 11, 2010
às vezes não é só fumaça
Recomendo a leitura deste texto de Mia Couto sobre os recentes acontecimentos em Maputo após o anúncio governamental do aumento de preço do pão e outros bens. O que se passou foi lá, já está aparentemente saneado com a cedência do Governo, mas pode acontecer em qualquer lado onde o autismo do Governo não leve em conta a opinião pública e considere mais a publicada.
A pobreza sai muito caro
Cercado por uma espécie de guerra, refém de um sentimento de impotência, escuto tiros a uma centena de metros. Fumo escuro reforça o sentimento de cerco. Esse fumo não escurece apenas o horizonte imediato da minha janela. Escurece o futuro. Estamo-nos suicidando em fumo? Ironia triste: o pneu que foi feito para vencer a estrada está, em chamas, consumindo a estrada. Essa estrada é aquela que nos levaria a uma condição melhor.
E de novo, uma certa orfandade atinge-me. Eu, como todos os cidadãos de Maputo, necessitaríamos de uma palavra de orientação, de um esclarecimento sobre o que se passa e como devo actuar. Não há voz, não rosto de nenhuma autoridade. Ligo rádio, ligo televisão. Estão passando novelas, música, de costas voltadas para a realidade. Alguém virá dizer-nos alguma coisa, diz um dos meus filhos. Ninguém, excepto uma cadeia de televisão, dá conta do que se está passando.
A pobreza sai muito caro. Ser pobre custa muito dinheiro. Os motins da semana passada comprovam este parodoxo. Jovens sem presente agrediram o seu próprio futuro. Os tumultos não tinham uma senha, uma organização, uma palavra de ordem. Apenas a desesperada esperança de poder reverter a decisão de aumento de preços. Sem enquadramento organizativo os tumultos, rapidamente, foram apropriados pelo oportunismo da violência, do saque, do vandalismo.
Esta luta desesperada é o corolário de uma vida de desespero. Sem sindicatos, sem partidos políticos, a violência usada nos motins vitimiza sobretudo quem já é pobre.
Grave será contentarmo-nos com condenações moralistas e explicações redutores e simplificadoras. A intensidade e a extensão dos tumultos deve obrigar a um repensar de caminhos, sobretudo por parte de quem assume a direcção política do país. Na verdade, os motins não eram legais, mas eram legítimos. Para os que não estavam nas ruas, mesmo para os que condenavam a forma dos protestos, havia razão e fundamento para esta rebelião. Um grupo de trabalhadores que observava, junto comigo, os revoltosos, comentava: são os nossos soldados. E o resto, os excessos, seriam danos colaterais.
Os que não tinham voz diziam agora o que outros pretendiam dizer. Os que mais estão privados de poder fizeram estremecer a cidade, experimentaram a vertigem do poder. Eles não estavam sugerindo alternativas, propostas de solução. Estavam mostrando indignação. Estavam pedindo essa solução a “quem de direito”. Implícito estava que, apesar de tudo, os revoltosos olhavam como legítimas as autoridades de quem esperavam aquilo que chamavam “uma resposta”. Essa resposta não veio. Ou veio em absoluta negação daquilo que seria a expectativa.
Poderia ser outra essa ausência de resposta. Ou tudo o que havia para falar teria que ser dito antes, como sucede com esses casais que querem, num último diálogo, recuperar tudo o que nunca falaram. Um modo de ser pobre é não aprender. É não retirar lições dos acontecimentos.
As presentes manifestações são já um resultado dessa incapacidade.
Para que, mais uma vez, não seja um desacontecimento, um não evento. Porque são muitos os “não eventos” da nossa história recente. Um deles é a chamada “guerra civil”. O próprio nome será, talvez, inadequado. Aceitemos, no entanto, a designação. Pois essa guerra cercou-nos no horizonte e no tempo. Será que hoje retiramos desse drama que durou 16 anos? Não creio. Entre esquecimentos e distorções, o fenómeno da violência que nos paralisou durante década e meia não deixará ensinamentos que produzam outras possibilidades de futuro.
Vvemos de slogans e estereótipos. A figura emblemática dos “bandos armados” esfumou-se num aperto de mão entre compatriotas. Subsiste a ideia feita de que somos um povo ordeiro e pacífico. Como se a violência da chamada guerra civil tivesse sido feita por alienígenas. Algumas desatenções devem ser questionadas. No momento quente do esclarecimento, argumentar que os jovens da cidade devem olhar para os “maravilhosos” avanços nos distritos é deitar gasolina sobre o fogo. O discurso oficial insiste em adjectivar para apelar à auto-estima. Insistir que o nosso povo é “maravilhoso”, que o nosso país é “belo”. Mas todos os povos do mundo são “maravilhosos”, todos os países são “belos”. A luta contra a pobreza absoluta exige um discurso mais rico. Mais que discurso exige um pensamento mais próximo da realidade, mais atento à sensibilidade das pessoas, sobretudo dessas que suportam o peso real da pobreza.
E de novo, uma certa orfandade atinge-me. Eu, como todos os cidadãos de Maputo, necessitaríamos de uma palavra de orientação, de um esclarecimento sobre o que se passa e como devo actuar. Não há voz, não rosto de nenhuma autoridade. Ligo rádio, ligo televisão. Estão passando novelas, música, de costas voltadas para a realidade. Alguém virá dizer-nos alguma coisa, diz um dos meus filhos. Ninguém, excepto uma cadeia de televisão, dá conta do que se está passando.
A pobreza sai muito caro. Ser pobre custa muito dinheiro. Os motins da semana passada comprovam este parodoxo. Jovens sem presente agrediram o seu próprio futuro. Os tumultos não tinham uma senha, uma organização, uma palavra de ordem. Apenas a desesperada esperança de poder reverter a decisão de aumento de preços. Sem enquadramento organizativo os tumultos, rapidamente, foram apropriados pelo oportunismo da violência, do saque, do vandalismo.
Esta luta desesperada é o corolário de uma vida de desespero. Sem sindicatos, sem partidos políticos, a violência usada nos motins vitimiza sobretudo quem já é pobre.
Grave será contentarmo-nos com condenações moralistas e explicações redutores e simplificadoras. A intensidade e a extensão dos tumultos deve obrigar a um repensar de caminhos, sobretudo por parte de quem assume a direcção política do país. Na verdade, os motins não eram legais, mas eram legítimos. Para os que não estavam nas ruas, mesmo para os que condenavam a forma dos protestos, havia razão e fundamento para esta rebelião. Um grupo de trabalhadores que observava, junto comigo, os revoltosos, comentava: são os nossos soldados. E o resto, os excessos, seriam danos colaterais.
Os que não tinham voz diziam agora o que outros pretendiam dizer. Os que mais estão privados de poder fizeram estremecer a cidade, experimentaram a vertigem do poder. Eles não estavam sugerindo alternativas, propostas de solução. Estavam mostrando indignação. Estavam pedindo essa solução a “quem de direito”. Implícito estava que, apesar de tudo, os revoltosos olhavam como legítimas as autoridades de quem esperavam aquilo que chamavam “uma resposta”. Essa resposta não veio. Ou veio em absoluta negação daquilo que seria a expectativa.
Poderia ser outra essa ausência de resposta. Ou tudo o que havia para falar teria que ser dito antes, como sucede com esses casais que querem, num último diálogo, recuperar tudo o que nunca falaram. Um modo de ser pobre é não aprender. É não retirar lições dos acontecimentos.
As presentes manifestações são já um resultado dessa incapacidade.
Para que, mais uma vez, não seja um desacontecimento, um não evento. Porque são muitos os “não eventos” da nossa história recente. Um deles é a chamada “guerra civil”. O próprio nome será, talvez, inadequado. Aceitemos, no entanto, a designação. Pois essa guerra cercou-nos no horizonte e no tempo. Será que hoje retiramos desse drama que durou 16 anos? Não creio. Entre esquecimentos e distorções, o fenómeno da violência que nos paralisou durante década e meia não deixará ensinamentos que produzam outras possibilidades de futuro.
Vvemos de slogans e estereótipos. A figura emblemática dos “bandos armados” esfumou-se num aperto de mão entre compatriotas. Subsiste a ideia feita de que somos um povo ordeiro e pacífico. Como se a violência da chamada guerra civil tivesse sido feita por alienígenas. Algumas desatenções devem ser questionadas. No momento quente do esclarecimento, argumentar que os jovens da cidade devem olhar para os “maravilhosos” avanços nos distritos é deitar gasolina sobre o fogo. O discurso oficial insiste em adjectivar para apelar à auto-estima. Insistir que o nosso povo é “maravilhoso”, que o nosso país é “belo”. Mas todos os povos do mundo são “maravilhosos”, todos os países são “belos”. A luta contra a pobreza absoluta exige um discurso mais rico. Mais que discurso exige um pensamento mais próximo da realidade, mais atento à sensibilidade das pessoas, sobretudo dessas que suportam o peso real da pobreza.
Mia Couto, O País
quinta-feira, setembro 02, 2010
seja cientista amador ou ajude quem o é
A um dos seus mais recentes 'Passeios aleatórios', que Nuno Crato escreve e assina no Expresso, intitulou-o de 'cientistas cidadãos'. Nele explica como é possível a cidadãos comuns participarem em investigações em curso a nível mundial e fazê-lo de uma forma passiva ou activa, consoante a preparação, a disponibilidade e o interesse. Mesmo quando passiva essa participação será sempre útil, pois permitir acelerar a investigação, aproveitar a capacidade dos verdadeiros investigadores, deixando-os libertos de pesquisas que lhes roubavam tempo, para o poderem aplicar em investigação que só eles poderão fazer. Considero esta possibilidade interessantíssima e não quero deixar de a dar a conhecer a mais algumas pessoas. Esta informação vinda de quem vem, é segura, é real e merece ser apoiada. Leiam o que Nuno Crato lhes quis dizer para que o soubessem e reajam activamente. Sintam isto como uma nova pulsão e vão atrás dos pulsares que por aí andarão à espera de quem os descubra.
a arte de fazer a corte ou canto dos bons malandros
Na água, em terra ou no ar, é sempre preciso uma boa 'cantada', como exemplificam as várias imagens com que vos deixo. Aprende-se a cantar e dançar assim, no livro da vida ou no livro de instruções que já vem no ADN?
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