quinta-feira, dezembro 25, 2008

o vinho e o mosto - um exercício de intertextualidade 4


Pertenço a um género de portugueses
Que depois de estar a Índia descoberta
Ficaram sem trabalho. A morte é certa.
Tenho pensado nisto muitas vezes.

Fernando Pessoa


A que género pertenço eu?

À daqueles que podiam ter descoberto a Índia

e mais outras mil Índias que continuam por descobrir.

E nada, nada descobriram, nem sequer que o podiam fazer.

Sinto que podia ter descoberto o mundo e que o podia transformar.

Mas, faltou-me a vontade e a força para o fazer.

Não sou um descobridor, mas um ser preguiçoso e mole

em quem Deus desperdiçou capacidades.

Melhor Teria feito se as tivesse dado a activos empreendedores,

ainda que estúpidos.

CVR


domingo, dezembro 21, 2008

o vinho e o mosto - um exercício de intertextualidade 3


O meu pensamento só muito devagar atravessa o rio a nado

Porque lhe pesa o fato que os homens o fizeram usar.

Fernando Pessoa



Longo tempo, longos anos carreguei meu fato imposto.

Com violência reagi. Para lá do que devia. Talvez.

Pago agora os dois preços. Do fato que carreguei e da libertação dele.

Qual deles, o maior? Mas,


''Meu pensamento é como o vento ''

''Ninguém o pode agarrar ''????

CVR

o vinho e o mosto - um exercício de intertextualidade 2


Pobres das flores dos canteiros dos jardins regulares.

Parecem ter medo da polícia...

Mas tão boas que florescem do mesmo modo

e têm o mesmo sorriso antigo

Que tiveram para o primeiro olhar do primeiro homem

Que as viu aparecidas e lhes tocou levemente

Para ver se elas falavam...

Fernando Pessoa



Jardins regulares. Trazem à memória meu Pai.

As flores bem alinhadas naquele jardim de Chaves.

Jardins regulares. Flores alinhadas, intocáveis,

bem comportadas, fazendo de seu furto, pecado.

Elas que são livres de nascer e que dizem, corta-me ...

Porquê impôr-lhes regras e fazê-las regulares?

O meu Pai não era regular.

Era muito grande o meu Pai.

Grande como a sua inteligência, a sua bondade e a sua fraqueza.


Teve um só defeito.

Partiu cedo de mais.

CVR

o vinho e o mosto - um exercício de intertextualidade 1


A beleza é nome de qualquer coisa que não existe

Que eu dou às coisas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então porque digo eu das coisas:são belas?

Fernando Pessoa



De boa vontade, de todas as coisas eu diria -- são belas.
E nada impede que o faça.
Já que não tem a ver com a realidade, mas com o que eu faço dela.
Bom seria que coisas e pessoas fossem belas sem que eu tivesse
necessidade de fazer delas o que elas não são -- belas.
Se tudo fosse belo, talvez eu fosse belo...
''Se eu casasse com a filha da minha lavadeira talvez fosse feliz...''

CVR

quinta-feira, dezembro 18, 2008

poetas do mundo

Em 14 de Outubro de 2005, Luis Arias Manso, poeta chileno, fundou o movimento Poetas del Mundo com a finalidade de usar a força das palavras e a sensibilidade dos poetas, como movimento, palavra-arma, a favor da salvação do nosso planeta, ameaçado de morte a curto prazo.
É preferível, contudo, que seja o próprio fundador a explicar-vos - aos que nisso estejam interessados - quais as razões da criação do movimento e quais as formas como cada um deve actuar. A palavra a Luis Arias Manso.

sexta-feira, dezembro 05, 2008

sociedade portuguesa de história dos hospitais


Poucos terão conhecimento da existência da Sociedade Portuguesa de História dos Hospitais e poucos terão uma noção correcta da sua necessidade.
Só mesmo aqueles que têm amor à História e sabem como ela deve ser preservada para bem do presente e do futuro, compreenderão bem a existência e a necessidade dela existir.

Para aqueles que se interessam por estes assuntos e eventualmente não tenham recebido convite e para aqueles que possam vir a interessar-se, deixo aqui esta notícia da realização da III Conferência desta Sociedade, no próximo dia 11 de Dezembro, no Salão Nobre da Escola Nacional de Saúde Pública.
A entrada é livre.


quinta-feira, novembro 27, 2008

quem sou eu para ficar triste?

Que faço eu pelos outros? Pergunta que devemos fazer todos os dias.

ainda a propósito de dresden


Não sou daqueles que pensam que há raças superiores e inferiores (sei que agora não se deve dizer raças, mas neste caso, parece-me ser palavra mais definidora).
Mas penso e creio que sei, que há povos que se distinguem bem dos outros no seu aspecto ou na sua afirmação enquanto tal.
O que determina fundamentalmente a diferença entre uns e outros é a sua determinação, a cultura, a capacidade de trabalho, o sentir social, a noção do bem comum, o respeito pelo outro, o orgulho na sua pátria.
Faço estas considerações recém chegado da Alemanha e, especialmente, de uma das suas cidades que ainda não conhecia – Dresden.
De Dresden conhecia apenas aquilo que a História me ensinou e o que li e ouvi acerca da sua destruição massiva durante a 2.ª Guerra Mundial, mesmo no seu fim, mais exactamente doze semanas antes da rendição da Alemanha (9 de Maio, em Berlim).
Entre 13 e 15 de Fevereiro de 1945, 1300 bombardeiros da Royal Air Force (em 13 e 14) e da United States Air Force (a 15), despejaram sobre aquela cidade (conhecida como a Florença alemã), 3900 toneladas de bombas explosivas e incendiárias que destruíram 13 Km2 da cidade. Tudo se passou dois dias depois de ter terminado a Conferência de Yalta, onde Churchill e Roosevelt discordaram de Stalin sobre a partilha da Europa.
As baixas rondaram os 35.000, embora exista grande controvérsia sobre este número (de 8.500 a 300.000).
Este bombardeamento ficou para a História como um das causas morais mais célebres da 2.ª Guerra Mundial, já que não havia razão, nem táctica nem estratégica, que moralmente o suportasse. Todos sabemos que «guerra é guerra», mas mesmo nela tem de haver algum sentido.
Há quem defenda que o justificativo terá sido destruir um centro ferroviário e algumas fábricas que davam apoio ao esforço de guerra alemão. Mas a maioria refere que não havia qualquer razão para tais bombardeamentos, já que não havia objectivos militares de capital importância, a guerra já estava ganha e à beira do fim e na cidade só viviam velhos e crianças, muitos tendo vindo de outras partes, uns e outras ali vivendo por Dresden ser tida como cidade segura, já que não era objectivo militar.
Muitos apontam o dedo a Winston Churchill, esse grande patriota, político e cabo de guerra, que através deste bombardeamento queria mostrar força perante Stalin, antes da definitiva divisão da Europa (conferência de Potsdam entre 17 de Julho e 2 de Agosto de 1945).
Na partilha efectuada, Dresden ficou integrada na chamada RDA, República Democrata Alemã ou DDR, Deutsch Demokratische Republik, na esfera de dominação soviética.
Só a 3 de Outubro de 1990, com a reunificação da Alemanha, a chamada Queda do Muro de Berlim, Dresden recuperou a sua antiga posição de capital da Saxónia.
Passados que são 63 anos sobre o fim da guerra e 18 após a reunificação, fui encontrar uma Dresden totalmente reconstruída (pode dizer-se) e guardando a memória da sua destruição.
Como exemplo emblemático da reconstrução, a Frauenkirche (Igreja de Nossa Senhora). Podemos dizer que tudo que hoje vemos foi reconstruído em menor ou maior escala, mas a Frauenkirche foi totalmente reconstruída (entre 1993 e 2004), com dinheiro do estado, do povo, de ingleses (a Rainha, o filho de um piloto que bombardeou Dresden, entre outros), de americanos (Kissinger, Rockefeller e outros) e, sobretudo com a doação mais que simbólica de amor à sua Terra e ao seu País, do médico Gunter Blobel, Prémio Nobel da Medicina em 1999, que ofereceu todo o valor do prémio para a reconstrução desta igreja.
Olhando esta Igreja ou vendo o filme que documenta todas as fases da sua reconstrução total, podemos apreciar como ela integra apenas algumas pedras da antiga igreja. Mas deve dizer-se que os materiais que restaram após o bombardeamento foram todos separados, guardados e posteriormente aproveitados e reciclados e incorporam muito do material novo que agora foi usado.
Dresden tem hoje uma população de cerca de 500.000 habitantes e recuperou o seu título de Florença à beira do Elba.
Quem olha para a majestosa Semperopera (assim chamada para honrar o nome do arquitecto Semper, que foi também o responsável pelo Teatro do Rio de Janeiro), é bom que saiba que demorou 40 anos a ser reconstruída.
Quem conhece o seu interior, assiste a um concerto, vê a sala completamente cheia, olha o programa anual e verifica que na quase totalidade dos meses há espectáculos diários, alternando os concertos, com a dança e a ópera, tem pena ou mesmo inveja de não ter na sua terra esta permanente oferta cultural e dói-lhe que os seus compatriotas não tenham poder de compra suficiente para encherem de forma continuada aquela imensa sala em que, de forma inteligente, o interior das várias categorias de camarotes foram transformados em lugares de balcão, para maior comodidade, visibilidade e aumento de lugares.
Quem no intervalo vê os foyers cheios de gente bem vestida, bem cuidada, dignificando o espectáculo (mas não em mostra de vaidades), bebendo água ou champagne francês, mordiscando qualquer coisa que conforte, tem pena que na nossa cidade com mais do dobro dos habitantes os espectáculos sejam uma raridade, as casas não estejam cheias ou raramente o estejam e que alguns por lá se passeiem como se estivessem na rua, atropelando-se uns aos outros, mostrando-se apenas.
Dresden é uma cidade bonita, espaçosa, cuidada, com um sistema de transportes públicos eficaz, com pouca circulação automóvel, com muitas zonas verdes, com sábio aproveitamento de espaços de lazer.
Não faltam monumentos belos e cuidados, museus, animação de rua, tradições, que afirmam bem o seu direito de ser cidade europeia de qualidade.
Um passeio de barco no Elba entre as duas margens desta cidade é reconfortante e enche-nos os olhos de beleza.
Na margem contrária àquela que é considerada a cidade histórica ou o centro, encontram-se vários edifícios de qualidade como o Palácio Japonês ou a Leitaria de Pfund, considerada a mais bela do mundo.
E volto ao princípio. Tudo se pode fazer se para isso houver determinação e capacidade. Mesmo uma cidade destruída se pode reconstruir, respeitando a memória e a traça. No fundo, uma afirmação de marca, de vontade de um povo unido em volta dos seus valores.
Mas é preciso acreditar e saber do que se é capaz. Ter a medida exacta do que se quer e do que é necessário para o conseguir. É preciso não chorar sobre o leite derramado, mas saber o que fazer para se encher novamente a leiteira.
É preciso acreditar no bem comum, na entreajuda, na solidariedade, no povo que connosco faz uma Nação. É preciso ter fé e não nos deixarmos derrotar pelas contrariedades, mas antes fazer-lhes frente e continuar. Há muito se diz que o caminho se faz caminhando, mas há situações em que é preciso que todos sigam o mesmo caminho, para que juntos conquistemos o que nos parece possível e justo.


sexta-feira, novembro 21, 2008

há cantar e há cantar e sentir

Sem palavras. Apenas com a Elis, atrás da porta.

sexta-feira, outubro 17, 2008

um outro 11 de setembro

Segundo Altamiro Borges diz, em NovaE, Willian Colby, ex-diretor-geral da agência de inteligência dos EUA, disse um dia que «a CIA tem o direito legítimo de se infiltrar na imprensa estrangeira. e através dos meios de comunicação, influir no desenlace dos factos políticos em outros países».
Esta agência acaba de divulgar vários documentos até então classificados como ultra-secretos. Eles compõem os arquivos sugestivamente chamados de «jóias da família», assim designando algumas operações ilegais deste organismo que causam constrangimento ao governo americano.
São 11 mil páginas que revelam as acções terroristas do imperialismo em várias partes do planeta entre os anos 50 e 70.
Os documentos comprovam que esta central de «inteligência» sempre teve um papel activo na América Latina.
Após o 11 de Setembro, onze realizadores foram convidados para fazer um filme sobre a queda das torres gémeas.
Deixo aqui a contribuição de Ken Loach que traça um paralelo com um outro 11 de Setembro, o ocorrido em 1973, no Chile.
A ver, pensar e julgar.

sábado, outubro 04, 2008

ida e volta

Vou num instante a Dresden e já volto. Querem alguma coisa de lá?

Vejam como ficou Dresden após os bombardeamentos na 2.ª Guerra Mundial.



E vejam como está.




sábado, setembro 27, 2008

mamma mia !



Não consigo perceber porque só hoje resolvi publicar este post sobre um filme que me encheu as medidas. Fez-me bem à memória, ao coração, aos sentidos e pôs-me de bem com a vida.
Recomendado, dos sete aos setenta.

quinta-feira, setembro 25, 2008

talentos médicos

Os médicos sempre tiveram alguma aptidão para as artes e para as letras, de tal modo que alguns acabaram por abandonar a medicina e dedicar-se à sua nova (ou primeira) paixão da escrita, da música, da pintura ou da escultura.
O que me levou a falar disto, foi ter-me lembrado de um colega amigo (Wolfgang Ellenberger) com quem mantenho contacto frequente e que além de médico é pianista profissional, professor de piano (criador de um novo método de ensino) e que já deu concertos nas melhores salas da Europa. Além disso dirige uma orquestra de Talentos Médicos (não tendo eu a certeza se o talento é grande...). Dele, eu sei que é um magnífico pianista e que tem vários discos gravados, a solo, acompanhando cantoras, ou como solista de concertos para piano e orquestra.
Mas a razão primeira para eu falar disso e dele, foi ter encontrado hoje no You Tube um vídeo que ele ali colocou, para mostrar os 16 cartoons feitos por Wilhelm Busch (o desempenho do pianista e do seu ouvinte, caracterizando andamentos e movimentos, no concerto de Novo Ano de 1865), com música de Chopin, Beethoven e Liszt.
Wolfgang Ellenberger planeou, dirigiu, executou, com a colaboração do actor Emilio de Marchi.

quarta-feira, setembro 24, 2008

esperando a vitória da ciência

Só hoje, algum tempo depois de ter ouvido a notícia da primeira avaria no LHC (Large Hadron Collider), o maior acelerador de partículas existente no mundo, que se estende por 27 quilómetros e existe com a colaboração de milhares de cientistas e o patrocínio do CERN, é que li a interessante crónica de Luís Fernando Veríssimo que não resisto a repassar, para que a possais ler.
É um investimento científico ímpar que permitirá chegar ao grau de conhecimento máximo na Física de Partículas e que talvez venha a permitir explicar os momentos antes do Big Bang, esclarecendo a existência da primeira partícula ou partícula divina.
Como em tudo, há sempre os Velhos do Restelo que, mesmo em questões científicas, levantam problemas e dúvidas que a maioria da comunidade científica não valoriza.
Ora, a crónica de Veríssimo é exactamente sobre isso. Mais actual não pode haver. Mais oportuna não podia ser, exactamente no dia em que algo não correu bem no sector do arrefecimento, a cargo de portugueses e com algum material de fabrico português (felizmente, parece não haver qualquer responsabilidade portuguesa, já que a causa terá sido eléctrica).

Espero que, mais uma vez, os Velhos do Restelo não tenham razão.

domingo, setembro 21, 2008

a imagem não é nada, senhores

Recebi e repasso este texto assinado por Herbert Vianna, cantor e compositor brasileiro, por me parecer razoavelmente escrito, cheio de humor e de razão e escrito num país que foi um dos berços do desenvolvimento imparável da cirurgia estética e, felizmente, também da cirurgia plástica reconstrutiva. Vale a pena ler.

Cirurgia? Lipoaspiração? Pelo amor de Deus, eu não quero usar nada nem ninguém, nem falar do que não sei, nem procurar culpados, nem acusar ou apontar pessoas, mas ninguém está percebendo que toda essa busca insana pela estética ideal é muito menos lipo-as e muito mais piração?
Uma coisa é saúde outra é obsessão. O mundo pirou, enlouqueceu. Hoje, Deus é a auto imagem. Religião é dieta. Fé, só na estética. Ritual e malhação.
Amor é cafona, sinceridade é careta, pudor é ridículo, sentimento é bobagem.
Gordura é pecado mortal. Ruga é contravenção. Roubar pode, envelhecer não. Estria é caso de polícia. Celulite é falta de educação. Filho da puta bem sucedido, é exemplo de sucesso.
A máxima moderna é uma só – pagando bem, que mal tem?
A sociedade consumidora, a que tem dinheiro, a que produz, não pensa em mais nada além da imagem, imagem, imagem. Imagem, estética, medidas, beleza. Nada mais importa. Não importam os sentimentos, não importa a cultura, a sabedoria, o relacionamento, a amizade, a ajuda, nada mais importa.
Não importa o outro, o colectivo. Jovens não têm mais fé, nem idealismo, nem posição política. Adultos perdem o senso em busca da juventude fabricada.
O.K., eu também quero sentir-me bem, quero caber nas roupas, quero ficar legal, quero caminhar, correr, viver muito, ter uma aparência legal, mas uma sociedade de adolescentes anoréxicas e bulímicas, de jovens lipoaspirados, turbinados, aos vinte anos não é natural. Não é, não pode ser. Que as pessoas discutam o assunto. Que alguém acorde. Que o mundo mude.
Que eu me acalme. Que o amor sobreviva.

Cuide bem do seu amor, seja ele quem for.

quinta-feira, setembro 18, 2008

quem salavará a ponte de trajano, em chaves?

Basta esta imagem para se perceber que a minha terra natal é linda e antiquíssima.
Esta ponte romana, chamada de Trajano, parece ser a ponte romana existente na Europa, com maior número de arcos (18).
Se repararem bem e se derem ao trabalho de contar os arcos visíveis na fotografia, logo concluirão que metade deles não se vêem. Se agora olharem e virem as fotografias que se seguem, logo perceberão que grande parte deles perderam visibilidade pela simples razão que foram construídas várias casas sobre eles.

Este crime não é de agora, mas remonta já ao século XIX e ainda ao XX. Posso dizer, por saber do que falo, que uma das casas (a segunda a contar da esquerda) na fotografia que se segue era propriedade e residência de meus pais e nela morreu meu pai, em 1974. A casa foi construída em 1898, em granito e tem um arco da ponte nos seus alicerces. Este arco era amplo e completo e servia de armazém para coisas várias, com entrada pela Rua do Rio.

Esta ponte merece bem que a libertem finalmente da carga que lhe colocaram em cima e do crime horrível de lhe terem amputado a sua beleza e grandiosidade com aquelas construções. Não basta, pois, transformá-la em ponte pedonal, como recentemente foi feito, mas é fundamental restitui-la à grandeza e imponência com que os romanos a fizeram.
Deve ser património da humanidade.
Lutemos nós, flavienses, mais todos aqueles que admiram o belo e respeitam a História, pela sua libertação.
As casas devem ser destruídas e a ponte deve renascer.
Honrem o nome, flavienses.

O milagre, hoje – uma visão desiludida e sarcástica, em três minutos

O facto de um dos temas do próximo congresso da UMEM (União Mundial dos Escritores Médicos), a realizar em Dresden, ser «o milagre», levou-me a pensar sobre ele e verificar qual o ponto da situação actual ou, como é comum dizer-se hoje, qual o «estado da arte» daquilo que o dicionário define como sendo o acto ou acontecimento fora do comum, inexplicável pelas leis naturais, acontecimento formidável, estupendo, evento que provoca surpresa e admiração, tipo de drama medieval baseado na vida dos santos, qualquer indicação da participação divina na vida humana, indício dessa participação que se revela por uma alteração súbita e fora do comum das leis da natureza, objecto de madeira ou cera com reprodução de uma parte do corpo e oferecido aos santos em cumprimento de uma promessa, prodígio, maravilha, coisa prodigiosa, extraordinária …
Embora o trabalho que vou apresentar seja sobre o outro tema – a solidariedade – entendi que o ter pensado sobre o milagre me obriga, de certa maneira, a dar-vos conta dessa reflexão, pelas diferenças que encontrei ou me pareceram existir hoje e pela visão desiludida e sarcástica com que fiquei.
A primeira reflexão levou-me a pensar que o milagre «clássico» deixou de existir (salvo para aqueles que neles acreditam por devoção ou para a Congregação dos Santos que sobre eles se debruça e os analisa) e que passou a haver uma extraordinária inflação de milagrezinhos, no sentido do que provoca surpresa e admiração.
Actualmente, pode dizer-se que todos os dias há milagres, porque todos os dias alguém tem necessidade deles.
O milagre deixou de ser um acontecimento raro e fora do comum, só despertado por situações extremas que o justificassem, para passar a ser quase banal, tão banal que nem os telejornais o noticiam (mesmo sendo a especialidade desses jornais a banalidade).
Mas os milagres de hoje são muito diferentes, já não são o que eram (como aliás se passa com a maioria das coisas). Primeiro por já não serem de realização e decisão divina e terem passado a ser instrumentos do mais comum dos mortais.
Hoje, não é milagre dizer - «levanta-te e caminha» e assistir-se então à concretização dessa ordem divina, com o paralítico levantando-se e caminhando, manifestação contrária a qualquer teoria ou prática científica, mas manifesto sinal do poder divino.
Hoje o que é milagre, é muitos de nós chegarem ao fim do dia e dizerem – continuo vivo, apesar de tudo. Não fiz jogging, não fui ao ginásio, não tenho (nem posso ter) personal training, fitness é apenas uma palavra, não me resguardo de frio nem calor, só respiro poluição, como à pressa esse ignóbil manjar apelidado de fast food, sou pontapeado e escorraçado por uma série de supostos irmãos e amigos, em sentido figurado ou mesmo real.
Mas o que é prodigioso, extraordinário, ainda mais milagre, é chegar ao fim do dia e dizer – continuo a ter capacidade de amar, de me surpreender, de sonhar, de admirar, apesar de todas as contrariedades, da globalização, da uniformidade de formas, cores, gostos e funções, de tudo de que nos servimos e até daqueles outros humanos com que nos cruzamos ou convivemos de perto.
Hoje ninguém espera ver Deus a falar para o cego e a dizer-lhe simplesmente - «abre teus olhos e vê». E o cego abrir os olhos, fazer uma cara de espanto, olhar á volta como se sempre o tivesse feito, em todos os sentidos, devagar, logo depressa, logo devagar outra vez e gritar – obrigado, meu Deus, obrigado. E logo perguntando – Então o mundo é isto que eu vejo? E porque te não vejo a ti, meu Deus? Ou se te vejo, o que te distingue dos outros que estou vendo?
Hoje o que se espera é que um cientista, um investigador da grossa comunidade científica do mundo on line, mostre a sua cara na televisão e respondendo à pergunta do apresentador, diga simplesmente – hoje acabei com a cegueira.
Com o processo que eu e a minha equipa inventámos, todos, daqui em diante, verão todas as coisas e nas melhores condições. Que se cuidem pois os fabricantes de bengalas para cegos, os editores de livros em Braille, os treinadores de cães-guia. Reciclem-se, se não querem ir para o desemprego.
Aí o locutor dirá – confirma que, a partir de agora, todos os invisuais ou quase invisuais, passarão a ter uma visão completa?
Sim, confirmo. Isso, só não sucederá se os governos, míopes e mesquinhos como costumam ser, não abrirem os cordões às bolsas e não suportarem os altos custos do processo quase milagroso que inventei.
Está a tentar dizer-me que a situação encontrada para a resolução da cegueira é muito cara?
Estou a dizer-lhe que é cara para os necessitados, mas é perfeitamente suportável pelos ricos e por qualquer orçamento de um Estado que tenha um PIB decente. É isso que eu e os meus sócios esperamos.
Por certo, espera ganhar o Prémio Nobel deste ano?
Talvez seja justo que me seja concedido, mas se quer que lhe diga o que verdadeiramente espero e desejo, é que no próximo ano o meu nome já conste na lista da Forbes ou da Fortune…

quarta-feira, setembro 17, 2008

as músicas de meu pai (30)

Claudio Arrau, o famoso pianista chileno desaparecido em 1991, toca o 3.º andamento da Sonata op. 57, Apassionata , de Beethoven.
E fá-lo de forma magistral, apaixonada, num magnífico piano Steinway.
Penso que escolhi uma bela peça musical para encerrar «as músicas de meu pai». O número 30 não chega para eu colocar aqui todas as outras que conservo na memória, mas penso que estas trinta chegarão para vos dar uma ideia do universo musical de meu pai.

as músicas de meu pai (29)

Concerto para Violino e Orquestra D major Op.61 (Mov.1 Part.2), de Beethoven, numa magnífica interpretação da violinista Anne-Sophie Mutter e da Filarmónica de Berlim dirigida por Herbert von Karajan.
Hesitei entre esta interpretação e uma do celebrado Yehudi Menuhin. Apesar da categoria de Menuhin, optei por este encontro de gerações, entre o celebrado Karajan e a ainda jovem e bela Anne-Sophie. Tenho a certeza de que Menuhin aplaudiria vivamente esta magnífica interpretação que aqui vos deixo.


as músicas de meu pai (28)

Concerto para piano e orquestra em lá menor, Op.16 (I. Allegro molto moderato), de Edvard Grieg, interpretado pelo celebrado e recordado pianista Arthur Rubinstein e pela London Symphony Orchestra, dirigida por André Previn, em 1975.

quinta-feira, setembro 11, 2008

as músicas de meu pai (27)

Sinfonia n.º 9 ou do Novo Mundo, de Antonin Dvorak, interpretada pela Philharmoniker de Viena, dirigida por Herbert von Karajan.

quarta-feira, setembro 10, 2008

as músicas de meu pai (26)

Carmina Burana, de Carl Orff, executada pela orquestra e coro da Orquestra Nacional da BBC, em 1994, na Arena de Cardiff, para celebrar o 25.º aniversário de investidura do Príncipe de Gales.

as músicas de meu pai (25)

Gymnopédie n.º 1 de Eric Satie, interpretado por Ahmet Buyukkafali.

as músicas de meu pai (24)

Concerto in E Minor, para Violino e Orquestra, de Mendelssohn, interpretado por Anne Akiko Meyers e a Sinfónica de Hiroshima conduzida pelo Maestro Akiyama.

as músicas de meu pai (23)

Concerto para Piano e Orquestra No. 3 in C minor, de Beethoven, magistralmente interpretado por Artur Rubinstein e a Concertgebouw Orchestra, em Amsterdão, em Agosto de 1973.

as músicas de meu pai (22)

Uma bela interpretação da primeira parte da 9.ª Sinfonia de Ludwig von Beethoven, pela Filarmónica de Berlim, ainda dirigida por Herbert von Karajan.

sexta-feira, setembro 05, 2008

as músicas de meu pai (21)

Ouçam Placido Domingo e Teresa Stratas cantando a área do 1.º Acto da ópera La Traviata, de Verdi.

as músicas de meu pai (20)

Outra das primeiras canções que ouvi a meu pai e que correspondiam à sua fase brasileira, de paulista de palhinha e bengala

quinta-feira, setembro 04, 2008

as músicas de meu pai (19)

Encontrei hoje uma das primeiras músicas que ouvi a meu pai. Talvez a primeira de que tenho memória.

as músicas de meu pai (18)

Hoje é a vez de escutarmos o Intermezzo da ópera Cavalleria rusticana, de Pietro Mascagni. Gravada no Festival de Ravenna em 1996. Orquesta do Teatro Comunale di Bologna, dirigida por Riccardo Muti.

quarta-feira, setembro 03, 2008

será que beethoven escreveu a 5.ª sinfonia depois de uma cena destas?

Sem qualquer truque, teleponto ou repetições, Sid Caesar e Nanette Fabray gravaram este divertido sketch em 1950, para o sitcom televisivo Caesar's Hour, onde, servindo-se da música da 5.ª Sinfonia de Ludwig von Beethoven, representam uma cena de desavença familiar com final feliz.
Como dizia o meu colega alemão Wolfgang Ellenberger, médico e pianista profissional, que fez o favor de mo enviar, este é um vídeo imperdível.

o futuro estará aqui?

Recebi hoje este vídeo que não resisto a colocar imediatamente à vossa disposição.
A notícia desta invenção parece ser tão boa e tão cheia de esperança que custa a acreditar que a solução esteja aqui e seja tão aparentemente fácil.
Teremos que esperar um pouco mais para ver que dificuldades e contraindicações irão aparecer, a este invento do francês Guy Negre.
Será o novo ovo de Colombo?

sábado, agosto 30, 2008

o resto é nada

Não sei se preguiça, se falta de ideias, se falta de vontade. Sei, isso sim, que tempo não me faltou. Portanto, apenas um problema de "se". Se eu não tivesse preguiça, se ..., se ..., lá chegaria. E depois só precisava de "um pouco mais de asas ...".
Para quê esta introdução? Não bastava apenas dizer - não escrevi porque não me apeteceu? Seria, se fosse essa a razão. Se não é, qual foi então? E assim a volta está dada e voltei ao princípio. E no princípio era o verbo. Qual?
Deixa-te disso, desses rodriguinhos à volta da incapacidade de escreveres. Se escrevesses, de facto, nada disto se passava. Era só ter a ideia e depois materializá-la em letras e espaços. Letras e espaços, tens. Portanto, sê razoável por uma vez, e diz que só te falta a ideia. O resto é nada.

quinta-feira, agosto 28, 2008

uma forma especial de ver o mundo

Um vídeo que obriga a pensar e coloca dúvidas e muitas inquietações. É longo, mas vale a pena ver e ouvir até ao fim.

sexta-feira, agosto 22, 2008

as músicas de meu pai (17)

Ouçam o lindíssimo Sonho de amor (Liebestraum), de Franz Liszt, na magnífica interpretação de Eugeny Kissin.

as músicas de meu pai (16)

Da obra «O anel dos Nibelungos», de Richard Wagner, vamos escutar o início do III acto de uma das quatro óperas que a compõem - «As Valquírias». Trata-se da gravação da BBC Proms, em 2005, no Royal Albert Hall, com a orquestra da Royal Opera House, dirigida por Antonio Pappano. O papel de Brunhilde é desempenhado por Lisa Gasteen e o de Sieglinde por Waltraud Meier.

as músicas de meu pai (15)

Mais uma das músicas de que meu pai gostava muito. Hoje, deixo-vos com parte da Abertura da ópera Guilherme Tell (a carga da cavalaria), de Gioachino Rossini, interpretada pela Orquestra della Scala de Milão, dirigida por Riccardo Muti.

as músicas de meu pai (14)

Hoje vamos ouvir a Abertura da ópera «O Barbeiro de Sevilha», de Gioachino Rossini, na interpretação da Orquestra Sinfónica da Rádio de Estugarda, dirigida pelo maestro Gabriele Ferro.

as músicas de meu pai (13)

Vladimir Horowitz toca a Polonaise Op. 53 in A flat major, de Chopin, conhecida como Heróica, numa belíssima Sala de Concertos que não consigo identificar, mas que presumo ser em Viena. Este concerto deve situar-se por volta dos anos 1977/78, tendo Horowitz à volta de 75 anos, pois nasceu em 1903 (repare-se nas artroses bem visíveis em ambas as mãos).

quinta-feira, agosto 21, 2008

as músicas de meu pai (12)

Volto hoje à ópera Tosca, para vos deixar com a belíssima área «E lucevan le stelle», cantada por Roberto Alagna.

terça-feira, agosto 19, 2008

as músicas de meu pai (11)

Outro tipo de música que meu pai gostava era do «chorinho» brasileiro. Não consegui encontrar um dos seus favoritos, mas por certo ele gostaria deste «Tá perdoado», na voz de Maria Rita.

recordando walt disney

Uma verdadeira preciosidade. Com a arte e a magia de Walt Disney, Aguarela do Brasil. Um «intermezzo» nas músicas de meu pai.

segunda-feira, agosto 18, 2008

as músicas de meu pai (10)

Meu pai também gostava de Zarzuelas e esta que hoje vos deixo era uma das que cantava, chamada La verbena de la Paloma. Este vídeo foi gravado no Teatro Calderón de Madrid e foi cantada por Carlos Marin, que hoje faz parte do famoso grupo Il Divo.

as músicas de meu pai (9)

Jose Carreras e Teresa Stratas, cantando a área «Che gelida manina», da ópera La Boheme, de Giacomo Puccini, na Metropolitan Opera House, sob a condução de James Levine, em 1982.

as músicas de meu pai (8)

Gravada no Théâtre de l'Opera de Nice, em Abril 1980, José Carreras, como Cavaradossi, canta a área «Recondita armonia», da ópera Tosca de Puccin, sob a condução de Jesus Etcheverry.

domingo, agosto 17, 2008

as músicas de meu pai (7)

A mais bela área da ópera Madame Butterfly de Giacomo Puccini, cantada por Carla Maria Izzo, no papel de Cio-Cio-San.

as músicas de meu pai (6)

A belíssima área «Una furtiva lagrima», da ópera Elixir de Amor de Donizetti, cantada por Luciano Pavarotti em 1991, em Budapeste.

as músicas de meu pai (5)

Hoje deixo-vos com o famoso coro «Va Pensiero sull'ali dorate», conhecido como Coro dos Escravos, da ópera Nabucco, de Verdi, gravada no Met de New York em 2001, sob a direcção de James Levine.

sexta-feira, agosto 15, 2008

as músicas de meu pai (4)

Da ópera de Ruggero Leoncavallo, I Pagliacci, a área «Riddi pagliaccio» cantada por Luciano Pavarotti e por Mina, num dueto virtual.

as músicas de meu pai (3)

Hoje deixo-vos com a Ave Maria de Schubert, cantada em Novembro de 2006, por Luciano Pavarotti.
Esta música constituiu um dos exercícios de «ginástica sueca» aplicada ao desenvolvimento da minha sensibilidade musical e das minhas emoções... Ouvi-la assobiada pelo meu pai, emocionava-me muito mais do que ouvi-la reproduzida pelas melhores vozes que então a gravavam em disco.


as músicas de meu pai (2)

Hoje, apresento-vos «Barqueiros do Volga», canção do folclore russo, com adaptação e orquestração de Feodor Chaliapin. Cantada por um Coro do Exército Russo, em 2007.

quinta-feira, agosto 14, 2008

as músicas de meu pai

O ter tropeçado hoje no vídeo que vos vou mostrar, leva-me a que, à medida que as for conseguindo, vos apresente «as músicas de meu pai», significando com isso as músicas de que ele gostava e, de quando em quando, trauteava, assobiava ou cantava mesmo. De outras gostava só, ouvindo-as com paixão, em absoluto silêncio.
Sem qualquer espécie de ordenação começo com as «Czardas» de Vittorio Monti, na interpretação das jovens artistas Valerie Kim (violino) e Dominique Kim (piano), num recital privado em 8 de Março de 2007.
Ao ouvi-las quase percebi a razão porque meu pai quis que fosse o violino o instrumento que eu deveria aprender.


terça-feira, agosto 12, 2008

haydn. who?

Há vídeos que são momentos únicos e irrepetíveis. Vejam e escutem com a máxima atenção esta jóia musical, com vozes únicas, boa dicção, naturalidade, inteligência e senso de humor q. b..
É importante não perder a letra.



sexta-feira, agosto 08, 2008

a ópera em mudança

Se há disciplina musical que durante séculos viveu espartilhada nos conceitos conservadores com que foi criada, essa foi a ópera.

Mesmo no século XX, a sensação que se tinha ao assistir na maioria dos Teatros de Ópera mundiais, era a sensação do regresso ao passado, como se estivéssemos a assistir a uma estreia mundial no século XVIII.

Era o libretto com histórias desajustadas, os cenários pouco inventivos, a carpintaria cénica, o «estar» quase imóvel dos cantores, com total ausência da noção do espaço cénico e da representação teatral que deveria complementar a excelência das suas vozes, até a própria plateia, sisuda, formal (representando um papel de entendido melómano), um olho no palco outro no camarote.

Leitura recente de uma reportagem com e sobre Peter Gelb, o actual director do Met de New York, levou-me a escrever sobre a ópera a que temos estado habituados e aquela que de agora em diante poderemos ver.

Pode quase falar-se em democratização e renascimento da ópera.

Dentro de poucos meses poderemos adquirir em Portugal os primeiros DVD’s gravados no Met, com a ajuda de variadíssimas câmaras robóticas que, sem afectarem o espectáculo ou distraírem o público, nos vão dar uma visão total do espectáculo operático numa das melhores salas do mundo.

Já estão em execução, em vários países que estabeleceram acordo com o Met, as transmissões em directo dos espectáculos ali realizados, que poderemos ver nas salas de cinema ou depois nos sofás de nossa casa, com a vantagem de vermos mais do que aqueles que assistem sentados nos lugares caríssimos do Met.

Graças aos robots nós teremos a visão integral de todo o espectáculo, close up’s, cenas passadas atrás dos cenários, entradas de cena, etc…, enquanto nos deliciamos escutando as melhores vozes do mundo, em directo do Met.

E, o que é ainda mais importante, deixaremos de nos contentar (raras vezes empolgar) com as 4 ou 6 óperas por temporada de São Carlos e passaremos a ter uma programação variada, com as melhores vozes do mundo.

É certo que já começava a haver sinais de mudança e novos ventos sopravam sobre a ópera.

E porque isso é verdade e porque me parece ser um documento representativo dos novos tempos, deixo-vos com um vídeo em que Anna Netrebka e Roberto Alagna, cantam uma cena do 1.º acto da Manon, de Massenet, em espectáculo realizado em 10 de Março de 2007, na Ópera de Viena.


quinta-feira, agosto 07, 2008

um sinal de vida

Embora sinta que estou em férias todos os dias, acabo por ser envolvido nas férias dos outros, perdendo um pouco do controlo do meu tempo ou da minha forma de o gerir. Quero dizer com isto que a razão para o período já longo em que estive ausente deste blog, tem aqui a sua justificação.
Hoje entendi que devia dar sinal que estou vivo (não se trata da prova de vida...) e após ter escutado o magnífico vídeo que hoje aqui vos deixo, pensei que seria egoismo meu guardá-lo só para mim.
Tudo que é feito com mestria tem algo de arrebatador. Embora não se trate de guitarra portuguesa, nem seja Carlos Paredes o seu intérprete, tenho a certeza que vão gostar.
Os mais velhos de vós recordarão bem os tempos em que Paco de Lucia fazia parte dos vossos músicos predilectos. Mas não há que destacar nomes, pois todos são apenas um, com o resultado final de uma orquestra.
Ouçam Paco De Lucia, John McLaughlin e Al Di Meola em Dança do Sol no Mediterrâneo.


terça-feira, julho 15, 2008

a mulher na arte


A minha pouca sabedoria em lidar com estes problemas ou apenas uma real impossibilidade técnica, não me permitem colocar neste blog este extraordinário vídeo que vos quero mostrar.
Por me parecer que vos agradará e que a sua qualidade merece o esforço de terem que o abrir, aqui deixo o seu endereço: http://www.artgallery.lu/digitalart/women_in_art.html

Traduzi a informação recolhida no próprio vídeo, para aqueles que não conheçam a língua francesa. Lá se diz que - O vídeo "As mulheres na Arte", realizado pelo enigmático criador Eggman913, no Estado de Missouri, USA, é um hino impressionante consagrado à história da arte através da imagem da mulher.

Como fundo musical, a Sarabanda da Suite
n° 1 para Violoncelo, de Bach, interpretada por Yo-Yo Ma.

Este vídeo criou uma verdadeira euforia na web, no site YouTube, tendo sido visionado por mais de 5,3 milhões de visitantes e mereceu mais de 10.000 comentários, apenas em 2 meses.

Trata-se de uma verdadeira obra prima da arte digital, quer sob o ponto de vista tecnológico quer da criatividade artística.

As obras de arte utilizadas para a criação de "Women in Art" foram seleccionadas por Boni (http://www.maysstuff.com/womenid.htm).

sábado, julho 05, 2008

relembrar nemésio


A cultura, a espontaneidade, a rapidez de raciocínio, os desvios pelos inumeráveis circuitos por onde o pensamento flui, o estar no ecrã como se estivesse sentado numa das poltronas de nossa casa, fizeram dele a memória padrão da televisão portuguesa.
Todos ficámos em dívida com ele, por aquilo que nos ensinou, os caminhos que nos abriu, o estímulo que em todos deixou para tudo aquilo de que o conhecimento se faz.
Penso que só não aprenderam com ele os "senhores" da televisão, que apenas entendem o seu serviço como espectáculo e notícia seja ela qual for e não entendem que acima de tudo a autenticidade pessoal, a verdade e a cultura é que deixam marcas e não passam ao esquecimento imediato.
Para ficar na nossa memória, Nemésio não precisou de aparecer como um periquito engravatado, envolto em cenários de design especial, nem tão pouco virtuais como agora alguns são. A ele, bastava-lhe a câmara que o trazia até nós.
O que me levou a publicar este post sobre Vitorino Nemésio, foi a leitura recente de mais um magnífico texto de José Manuel dos Santos na sua coluna Impressão Digital.
E agora que justifiquei estas minhas pobres palavras, dou-me conta que o melhor que podia fazer (e vou fazer) era transcrever aqui o texto a que agora me referi. Penso que o autor não se importará, já que os leitores, por certo, aplaudirão esta minha decisão. Aqui vai ele, tal como vinha na Actual, do Expresso -

quarta-feira, julho 02, 2008

a voz humana - o mais belo dos instrumentos?

Ouçam Cecilia Bartoli na área «Una voce poco fa», da ópera «O Barbeiro de Sevilha», de Rossini e respondam à pergunta do título, se forem capazes.



E, se ficaram com dúvidas, ouçam no vídeo seguinte as vozes de Cecilia Bartoli e Maria Callas cantando a mesma área ao mesmo tempo.



Se continuarem as dúvidas, consultem o otorrino ou comprem uma prótese auditiva.

sexta-feira, junho 20, 2008

museu nacional ferroviário


Foi hoje inaugurada na Estação do Entroncamento a Rotunda das Locomotivas, versão actual da antiga Cocheira de Locomotivas implodida em 1976, a cargas de dinamite, pela CP, com a ajuda da Engenharia Militar.
Apresenta no seu interior uma placa giratória de 14 vias que conectam agora, não com as vias da estação, mas com a primeira parte do novo Museu Nacional Ferroviário.
O espaço arquitectónico pareceu-me bem e cumpre bem a missão para que foi criado.
Como se diz na brochura editada, foi criado um espaço «em que os comboios que foram passando, encontram as pessoas que hoje passam».
O projecto, a desenvolver ao longo de 7 anos, é muito ambicioso e aponta para - exposições permanentes e temporárias, centro de documentação, catálogos em linha, bolsa de apoio à investigação, serviço educativo, projectos nas áreas da cultura, ciência e tecnologia, parcerias com a Universidade e empresas privadas (na inovação e experimentação tecnológica), museu virtual, livraria, loja, restauração e aluguer de espaços. Dispõe de uma área de 46.500 m2.
A amostra que hoje se inaugurou tem qualidade. Espera-se que as fases seguintes não venham a abastardar-se e mereçam a confiança que hoje deposito neste projecto.