Se há disciplina musical que durante séculos viveu espartilhada nos conceitos conservadores com que foi criada, essa foi a ópera.
Mesmo no século XX, a sensação que se tinha ao assistir na maioria dos Teatros de Ópera mundiais, era a sensação do regresso ao passado, como se estivéssemos a assistir a uma estreia mundial no século XVIII.
Era o libretto com histórias desajustadas, os cenários pouco inventivos, a carpintaria cénica, o «estar» quase imóvel dos cantores, com total ausência da noção do espaço cénico e da representação teatral que deveria complementar a excelência das suas vozes, até a própria plateia, sisuda, formal (representando um papel de entendido melómano), um olho no palco outro no camarote.
Leitura recente de uma reportagem com e sobre Peter Gelb, o actual director do Met de New York, levou-me a escrever sobre a ópera a que temos estado habituados e aquela que de agora em diante poderemos ver.
Pode quase falar-se em democratização e renascimento da ópera.
Dentro de poucos meses poderemos adquirir em Portugal os primeiros DVD’s gravados no Met, com a ajuda de variadíssimas câmaras robóticas que, sem afectarem o espectáculo ou distraírem o público, nos vão dar uma visão total do espectáculo operático numa das melhores salas do mundo.
Já estão em execução, em vários países que estabeleceram acordo com o Met, as transmissões em directo dos espectáculos ali realizados, que poderemos ver nas salas de cinema ou depois nos sofás de nossa casa, com a vantagem de vermos mais do que aqueles que assistem sentados nos lugares caríssimos do Met.
Graças aos robots nós teremos a visão integral de todo o espectáculo, close up’s, cenas passadas atrás dos cenários, entradas de cena, etc…, enquanto nos deliciamos escutando as melhores vozes do mundo, em directo do Met.
E, o que é ainda mais importante, deixaremos de nos contentar (raras vezes empolgar) com as 4 ou 6 óperas por temporada de São Carlos e passaremos a ter uma programação variada, com as melhores vozes do mundo.
É certo que já começava a haver sinais de mudança e novos ventos sopravam sobre a ópera.
E porque isso é verdade e porque me parece ser um documento representativo dos novos tempos, deixo-vos com um vídeo em que Anna Netrebka e Roberto Alagna, cantam uma cena do 1.º acto da Manon, de Massenet, em espectáculo realizado em 10 de Março de 2007, na Ópera de Viena.
Sem comentários:
Enviar um comentário