segunda-feira, maio 25, 2020

Dar corda ao neurónio

Acabo de enviar todas as pequenas correcções aos mais de cem textos, os mais variados, que completam este volumoso livro que vai seguir para a impressão. Isto é, se um revisor mais atento que eu ou com melhor visão, se aperceba ou encontre ainda, alguns erros, sejam vírgulas, pontos, falta de uma letra ou letra errada. Por mim, não lhe voltarei a pegar, não porque não gostei do que li, muito pelo contrário, mas por que me obriga a um esforço de visão que não devo exagerar. Sinto-me liberto e feliz, porque posso seguir por outros caminhos diferentes daqueles que recentemente me tinham capturado. É bom acabar um livro, mas ainda é melhor escrevê-lo, sentir o seu desafio e passar a ideia a texto. Mas penso que, ao contrário de todos aqueles que escrevem livros e eu imagino que gostam de os apresentar e lançar às feras ou às palmas, eu fujo dessas cenas obrigatórias, mas não desejadas por mim. Será por que receio a crítica ou os elogios, já que nem uns nem outros me fazem feliz. Nessas apresentações ou lançamentos ou sessão de autógrafos, de uma só coisa eu gosto. Do fim da sessão e da minha saída rápida dos holofotes. Se não tivesse sido sempre assim, começaria a pensar que tinha de me pôr a pau com o meu colega alemão, que todos receiam. Enfim, coisas...

quinta-feira, maio 21, 2020

Um dia único para recordar

Passaram já très dias sobre esse glorioso  dia que foi o dia 18 de Maio de 2020. A temperatura devida, o sol indicado, o mar como há anos o não via, sossegado, quase parado, completamente transparente e com um tom verde topázio único, mostrando as pedras junto à costa que o limita. E para tudo ser magnífico, os restaurantes à beira-mar reabriram e modificados para melhor, respeitando as regras impostas pela pandemia e uma calma segura convidando a entrar. E foi isso que fiz, entrando na Baíuca e comendo uma magnífica posta de peixe espada, grelhada com amor e sabor devido. A tarte de limão também estava boa, mas dispensável, não fosse a minha gula. E até o café estava bom. Por ali fiquei tempo bastante, não prejudicando ninguém que estivesse à espera de vez. E quando me levantei não dispensei a caminhada até S. João e o regresso a Cascais, sempre acompanhado pela visão daquele mar de calma, aquela cor única e a transparência que raramente se vê assim. Glorioso dia. Glorioso respirar, quase normal, sem o medo atrás de mim ou à minha frente.

domingo, maio 17, 2020

O regresso ao mar

 Quando pensava que tinha perdido o texto escrito há dias, sobre o regresso ao mar, horas depois de ter postado um novo texto sobre o mesmo tema, recuperei o inicial. Como entre eles  havia um intervalo de dois dias, resolvi publicar  esta segunda versão, para testar até que ponto a minha memória regista o que por ela passa e também para confirmar se o que agora escrevo se afasta muito do que escrevi na primeira versão. Após quatro anos de ausência parece que desaprendi várias regras de postar. Desculpem pois, este meu reabíltar de postar neste blog aquilo que me vai empurrando para a escrita diária ou não. Se tiverem paciência, comparem os dois textos e digam-me se preciso de ir ao médico ou se posso continuar a postar...

Finalmente regressei hoje ao mar, melhor dizendo, à beira-mar. Que não sendo tudo, para mim já o é. Vai já longe o tempo dos mergulho, das carreirinhas, da vela. Nos últimos anos fiquei limitado aos mergulhos e a umas braçadas de crawl na piscina. Não era mau, mas faltava o mar e a areia. Em vez desta, a relva e as flores. Sentia-me ligeiramente recompensado. Agora volto a ter o mar, perdão, a beira-mar e a máscara, para cima e para baixo, consoante houver passantes protegidos ou alguns que continuam a marimbarem-se nas regras de etiqueta pandémica. Depois de vários dias de chuva, o dia de hoje melhorou um pouco, juntamente com a reabertura do paredão. Num dos bares da praia, pessoal dinâmico distribui mesas, devidamente afastadas uma das outras, num novo espaço e anteriormente não ocupado, para daqui a três dias reabrir ao público, no muito desejado 18 de Maio. Mas falemos agora do dia e do estado do mar. Um dia bastante nubelado, com algumas abertas que trazem com ela um calor que não se sentia antes. O mar está pouco agitado e a pouco e pouco as ondas vão tentando vir passear conosco, não para passearem, mas para nos afastar delas e nos mostrar a sua força. Mas, ao contrário do que esperava, no retorno à beira-mar, mesmo com o mar calmo, aquilo que se vê é um mar estranho, desfocado, quase medonho, sem ter nada nesse sentido e que me traz a lembrança das pinturas de William Turner.

Regresso ao mar

Há já três dias que regressei ao mar, melhor dizendo à beira-mar. Já lá não ia há dois meses e nesse tempo só o imaginava, embora em dias de mau tempo o conseguisse ouvir bem. Já era qualquer coisa, mas não era tudo. Escutá-lo era bom, mas quase imediatamente, a ausência da proximidade anulava o prazer do seu estrondo. Mas finalmente a ele regressei. Mas mais uma vez me senti feliz e bem. Não totalmente, mas quase. Já que mergulhos, carreirinhas, vela, eram prazeres de que já estou afastado há bastante tempo. Água, mergulhos, crawl, nadar debaixo de água, só na minha piscina que me ia dando outramedida do prazer do mar. Agora, o mar para mim, é vê-lo, ouvi-lo e passear à sua beira, para lá e para cá, até ficar satisfeito o bastante, para o deixar num até amanhã, se puder.Mas neste regresso pós quarentena, o dia estava estranho, com um mar relativamente calmo, mas estranho. Não ele, própriamente, mas a neblina e um jogo quase constante entre o nubelado, fechado e ameaçando chuvada forte e um sol que aquecia por momentos e trazia alguma alegria ao que se via. Quando regressei a casa, sentei-me para postar as minhas impressões deste regresso e depois de escrever resolvi acrescentar uma imagem de William Turner, para completar o quadro que eu vivera. Pois não sei ainda o que teria feito de mal, que acabei por eliminar tudo que escrevi. É essa a razão porque volto hoje a escrever sobre o regresso à beira-mar que, seguramente, nada terá a ver com o que então escrevi, porque o estava a escrever a quente. Por isso, fica assim. Apenas a notícia, com muito do que senti, já amputado de emoção.
os

terça-feira, maio 12, 2020

Os novos funerais

A pandemia acabou com o respeito pelos mortos e ainda menos pelos vivos, aos quais vai, traiçoeiramente, passando a ceifadeira da morte, agora também ela mascarada de corona, que invisível e miserável nano-virua, vai limpando sobretudo aqueles que ele entende serem excedentes.
E, sempre escondido, vai desestabilizando o mundo inteiro e modificando a vida em si, cortando a liberdade de cada um e assim, a de todos. Mas não lhe chega isso, em grau de malvadez. Não basta matar, mas criar as condições que impeçam o culto da morte, o respeito pelo morto e o funeral. Hoje, o morto não é velado por ninguém ou por um número limitado de pessoas e durante o confinamento, quase sem ninguém, nem o padre. Quando se veem na televisão aquelas centenas de caixões supostamente com gente que foi gente lá dentro, com um número ou um manhoso rascunho de um nome, o que podem sentir os familiares que eventualmente possam estar presentes e como podem eles acreditar que é dentro daquele caixão que se encontra o seu ente querido? Antigamente, mesmo A.C., havia as chamadas carpideiras, profissão femininas, cuja função era chorarem por um defunto desconhecido e recompensadas por esse serviço. Faziam o teatro da dor que não sentiam, mas procuravam estimular nos outros, em homenagem àquele ou aquela que partia. Foi profissão que quase desapareceu, senão em certas regiões do Brasil. Mas ainda no século XX, se mantinham no activo profissional em grande parte da Europa. Mas o respeito pelo morto era ainda mantido pelos familiares próximos, com o uso do trajar em preto ou na forma mais aliviada com uma pequena banda no braço ou na gola esquerda do casaco. Mas antes deste tempo de pandemia o velar o morto e o seu funeral eram fortemente sentidos e simbólicos. Mas a pandemia veio querer escavacar até o respeito pelos mortos. Todos esperamos que acabe por chegar o dia em que se possa recuperar, se não a vida como era, pelo manos, a possível. Para que se recorde essa antiquíssima profissão de carpideira, vou postar um vídeo de Raul Vasquez, La Plañidera".

Enquanto há vida, há esperança

Que ninguém durma, que ninguém durma, Guardi le stelle/ Che tremano d'amore e di speranza. Assim começa a área Nessun dorma do último acto, da ópera Turandot de Giacomo Puccini. Falo hoje dessa magnífica e bela área e coloco o vídeo em que Luciano Pavarotti a canta magistralmente, porque me têm preocupado as notícias frequentes e confirmadas em estudos, dos problema graves que as crianças estão a sofrer, com insónias frequentes e sonos agitados, consequência da pandemia. Com esta, alterou-se quase totalmente a forma de vida a que todos estávamos habituados e especialmente a das crianças, nos seus ritos e ritmos circadianos. Bom seria que elas não conseguissem dormir para poderem ver as estrelas e sentir o amor e desejar a esperança. Mas infelizmente não é isso que lhes perturba o sono, mas a anormalidade da vida que estão a viver nos tempos da quarentena, em que a nossa vida mudou, sem termos forma de a evitar. O máximo que temos podido fazer, é libertarmo-nos dela, através do trabalho e da procura do amor, do bem e da beleza, que temos ido procurar onde sabemos que está, pode estar ou tentaremos encontrar. Mas nem todos têm a possibilidade de se virarem para esta procura e esse exercício, porque estão a viver confinados onde já não há amor, mas desamor. Por isso, tem aumentado também a violência doméstica e nestes casos, quem vai ver as estrelas de forma brutal, nem forças e ânimo terá, para ter esperança. Tristes dias os nossos que temos vindo a atravessar, mas pensemos no Eclesiastes (9:4) que diz que enquanto há vida, há esperança. Guardi le stelle/ Che tremano d'amore e di speranza.

Luciano Pavarotti - Nessun dorma (Lincoln Center, 1979)

segunda-feira, maio 11, 2020

Neguinho Da Beija Flor Corona De Férias (Deus Sabe O Que Faz)

Um regresso acidentado

Após uma ausência de quatro anos e tendo pensado que aqui não voltaria, caí há dias na rasteira que a Covid 19 me preparava, após ter terminado (penso eu) os dois livros que tinha em acabamento e que após isso, me deixou num vazio insuportável que me mostrava pela primeira vez o que era estar confinado, sem ter que fazer. Foi tal o choque desse vazio que, de imediato, me lembrei do meu querido blog que durante onze anos me divertiu bastante e espero que alguns desprevenidos que, acidentalmente, o abriam e por vezes comentavam. Para mim, tudo bem. Gostava de o fazer e se outros gostassem de o ler, seria o ideal, mas não o fundamental, porque realmente eu o escrevia e mantinha, por puro prazer e descarga de chatices a expulsar, como se fossem demónios Mas em verdade, o blog dava-me muito prazer e era um grito de libertação e afirmação. A tal escrita em sobressalto que anunciava no seu início e definição. Quando agora o retomei, percebi que o longo tempo da ausência, levara com ele, a capacidade adquirida em outros tempos, de saber usá-lo. Agora, sinto-me um quase infoexcluído, que desaprendeu tudo ou quase tudo. Logo no primeiro post do recomeço, troquei o vídeo por uma imagem, impedindo que o vídeo abra. E agora o que fazer? Como eliminar o que está errado e como substituir esse pelo certo? Assim seria, se eu o conseguisse fazer. Mas, neste momento e destreinado como estava e com neurónios a menos, vou ter que esperar e vocês também se, porventura, já alguém reparou que o meu blog está de volta

quinta-feira, maio 07, 2020

Os inesperados benefícios da pandemia

Quem diria que eu voltaria anos depois a retomar este meu blog, empurrado por uma pandemia? Ninguém, evidentemente. E muito menos, eu. Mas a verdade é esta. A verdadeira verdade. Perguntarão porquê, como eu próprio me pergunto. Estar confinado e mascarado se me atrever a dar uns passos fora de casa, cria naturalmente, a mim e penso que a todos uma sensação de estar preso e limitado na minha liberdade. Preso em casa, sem guarda armado a fazer-me a segurança, a amputar-me a liberdade, porque o que agora me mantém preso não é o guarda, mas o medo. Um medo de algo sem rosto, invisível a todos, salvo aos cientistas que o podem identificar e que depois nos mostram a sua verdadeira imagem. Já passei por muita coisa e muito perigo na minha vida, mas nada comparado com esta ameaça invisível que ainda não se pode eliminar. A esperança que um dia nos possamos defender dele e anular o seu traiçoeiro perigo,está ainda viva, mas também ainda distante. Mas o que temos, para já, é só a esperança. Mas venceremos, assim o espero. Em nome da esperança a que nos agarramos. Mas voltemos agora ao princípio deste texto e à sua razão de ressurgir ou renascer. Para quem está confinado, o que nos resta que possa evitar que não daremos em doido ou comecemos a trepar pelas paredes? No meu caso, a solução era só uma. Dar corda ao neurónio. Inicialmente atacando em várias frentes os desafios que tinha em mãos e permanentemente retomados e inacabados, de terminar três livros dependurados nos seus três cabides, onde iam amadurecendo e também criando bolor. Não o esperava e garanto que preferiria não ter que acorrer à ajuda improvável da quarentena, para os dar como findos, não fosse a covid, riscar-me dos vivos, antes de terminar os livros. E agora, terminados que estão, ou pensando apenas que estão terminados, de facto, o que posso fazer mais para me defender deste ataque geral à comunicação, à amizade, à confraternização, à solidariedade, ao amor? Que fazer? Mais uma vez - dar corda ao neurónio. Só que desta vez, fazê-lo, onde ele começou. No blog com o seu nome. Por isso, aqui estou de novo e para continuar a mantê-lo. Para mim e para todos que o queiram consultar.