A pandemia acabou com o respeito pelos mortos e ainda menos pelos vivos, aos quais vai, traiçoeiramente, passando a ceifadeira da morte, agora também ela mascarada de corona, que invisível e miserável nano-virua, vai limpando sobretudo aqueles que ele entende serem excedentes.
E, sempre escondido, vai desestabilizando o mundo inteiro e modificando a vida em si, cortando a liberdade de cada um e assim, a de todos. Mas não lhe chega isso, em grau de malvadez. Não basta matar, mas criar as condições que impeçam o culto da morte, o respeito pelo morto e o funeral. Hoje, o morto não é velado por ninguém ou por um número limitado de pessoas e durante o confinamento, quase sem ninguém, nem o padre. Quando se veem na televisão aquelas centenas de caixões supostamente com gente que foi gente lá dentro, com um número ou um manhoso rascunho de um nome, o que podem sentir os familiares que eventualmente possam estar presentes e como podem eles acreditar que é dentro daquele caixão que se encontra o seu ente querido? Antigamente, mesmo A.C., havia as chamadas carpideiras, profissão femininas, cuja função era chorarem por um defunto desconhecido e recompensadas por esse serviço. Faziam o teatro da dor que não sentiam, mas procuravam estimular nos outros, em homenagem àquele ou aquela que partia. Foi profissão que quase desapareceu, senão em certas regiões do Brasil. Mas ainda no século XX, se mantinham no activo profissional em grande parte da Europa. Mas o respeito pelo morto era ainda mantido pelos familiares próximos, com o uso do trajar em preto ou na forma mais aliviada com uma pequena banda no braço ou na gola esquerda do casaco. Mas antes deste tempo de pandemia o velar o morto e o seu funeral eram fortemente sentidos e simbólicos. Mas a pandemia veio querer escavacar até o respeito pelos mortos. Todos esperamos que acabe por chegar o dia em que se possa recuperar, se não a vida como era, pelo manos, a possível. Para que se recorde essa antiquíssima profissão de carpideira, vou postar um vídeo de Raul Vasquez, La Plañidera".
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