quarta-feira, janeiro 26, 2011

recordando o jeep willys


Sempre considerei a minha experiência profissional durante a guerra de Angola o melhor momento da minha carreira. Ser responsável pelo tratamento cirúrgico de 75% dos feridos de Angola durante 14 meses foi uma experiência que deixa marcas para sempre. Para além desta experiência profissional outras coisas houve de grande importância, como a amizade e a satisfação do dever cumprido. No que respeita a divertimento ou pequenos prazeres, não posso esquecer também o prazer que eu tinha conduzindo o jeep Willys que me estava distribuído, mesmo que ele tenha sido responsável pelas fracturas de costelas que tive e que nunca me impediram de trabalhar, apesar das dores. Coitado do jeep a ser aqui responsabilizado pelas fracturas, quando ele foi apenas, como eu, um dos intervenientes. Culpado foi aquele que mandou cavar buracos para plantar árvores que nunca foram plantadas e durante algum tempo, em dias de chuva eram autênticas ratoeiras...
Perceberão agora porque hoje vos deixo aqui um vídeo em louvor do Willys

terça-feira, janeiro 25, 2011

de como um quarto dos eleitores decide quem é presidente


No rescaldo das eleições presidenciais menos participadas, em que o presidente eleito corresponde apenas a 52,94% dos 46,63% que votaram, significando que apenas votaram nele 23,06% dos eleitores registrados (9.629.630), ou sejam 2.230.240 - o que o coloca bem distante da imagem de Messias ou Salvador da Pátria Portuguesa que os seus apoiantes e ele próprio para si reclamavam - parece-me interessante ter em atenção aquilo que depois do acto eleitoral se escreveu. Comecemos pelo texto «Peças do 'puzzle'» que Baptista-Bastos escreveu e assinou:

«Mário Soares foi o vencedor das eleições. A astúcia e a imaginação do velho estadista permitiram que Fernando Nobre, metáfora de uma humanidade sem ressentimento, lhe servisse às maravilhas para ajustar contas. É a maior jogada política dos últimos tempos. Um pouco maquiavélica. Mas nasce da radical satisfação que Mário Soares tem de si mesmo, e de não gostar de levar desaforo para casa. Removeu Alegre para os fojos e fez com que Cavaco deixasse de ser tema sem se transformar em problema. O algarvio regressa a Belém empurrado pelos acasos da fortuna, pelos equívocos da época, pelo cansaço generalizado dos portugueses e pelos desentendimentos das esquerdas (tomando esta definição com todas as precauções recomendáveis). Vai, também, um pouco sacudido pelo que do seu carácter foi revelado. Cavaco não possui o estofo de um Presidente, nem um estilo que o dissimulasse. Foi o pior primeiro-ministro e o mais inepto Chefe do Estado da democracia. Baço, desajeitado, inculto sem cura, preconceituoso, assaltado por pequenas vinganças e latentes ódios, ele é o representante típico de um Portugal rançoso, supersticioso e ignorante, que tarda em deixar a indolência preguiçosa. Nada fez para ser o que tem sido. Já o escrevi, e repito: foi um incidente à espera de acontecer. Na galeria de presidentes com que, até agora, fomos presenteados, apenas encontro um seu equivalente: Américo Tomás. E, como este, perigoso. Pode praticar malfeitorias? Não duvido. Sobre ser portador daqueles adornos é uma criatura desprovida de convicções, de ideologia, de grandeza e de compaixão. Recupero o lamento de Herculano: "Isto dá vontade de morrer!"».

segunda-feira, janeiro 17, 2011

para que se entenda bem como isto funciona

Já algumas vezes deixei aqui elementos credíveis e importantes e facilitadores da compreensão daquilo que quase nos parece incompreensível. Falo de geo-estratégia e mercados. Apesar disso e porque temos dificuldade em acreditar no que nos mostram e ensinam, vou deixar aqui mais dois vídeos que tocando a mesma tecla, reforçam o conhecimento. Vejam, se quiserem. Mas garanto-vos que não é tempo perdido.


quarta-feira, janeiro 12, 2011

o candidato-presidente que não deve explicações 3


Embora fugindo ao tema BPN e alargando a crítica a outros candidatos, resolvo terminar esta curta série sob o mesmo título, com a crónica de Henrique Raposo, no mesmo jornal e dia. Discordando quase totalmente das suas opiniões, vezes há em que as suas palavras me parecem justíssimas. Tal como no futebol, não é por ser do clube adversário que deixo de bater palmas a um grande golo.

«Caro Prof. Cavaco Silva, se o candidato das repúblicas soviéticas soubesse fazer uma 'conta’ de dividir, eu não me levantaria da cama para ir votar em V. Exa. Se o bardo de Águeda soubesse a diferença entre défice e dívida, eu iria engrossar as hordas da abstenção. Se Gama ou Amado estivessem no lugar de Alegre, eu votaria em branco. Mas, de facto V.Exa. é um mal menor, uma necessidade. O seu oponente, Manuel Alegre, é mau de mais para ser verdade. Alegre é uma espécie de Tiririca económico. Eu até acho que deviam meter este candidato numa sala da escolinha primária para lhe. perguntarem o seguinte: ‘V. Exa. sabe o valor do nosso PIB? Sabe qual é a dimensão do nosso endividamento externo?’ E, já agora, também podiam satisfazer uma dúvida epistemológica que me assalta há muito: "Caríssimo bardo, V. Exa. sabe fazer uma conta de dividir com dois divisores?" Sim, este Tiririca de Águeda é uma perigosa nulidade. Sobre isso estamos conversados. Mas, meu caro Presidente, a péssima qualidade do seu adversário não apaga os pecados do cavaquismo.
Com alguma sorte, V. Exa. ainda poderá representar um importante papel na renovação deste regime. Mas, nessa eventualidade, V. Exa. estará apenas no caminho da redenção. Porque o meu caro amigo é um dos responsáveis pela nossa presente situação. Este "Estado' enxameado de boys (o tal "monstro") também é uma invenção do cavaquismo. Aliás, neste momento, um dos grandes obstáculos à modernização do país dá pelo nome de PSD cavaquista, esse-exército-de-encostados-ao-Estado. E este PSD situacionista, meu caro Aníbal, segue a sua mui socialista filosofia de governo: o Estado lidera, a sociedade obedece. Sim, o professor vai à missa, sim senhor, mas isso não o retira do paradigma socialista, o paradigma onde sempre esteve e de onde nunca quis sair. V. Exa. parte do Estado para a sociedade, quando devia partir da sociedade para o Estado. Claro que o cavaquismo é diferente do guterrismo e do cavaquismo 2.0 (Sócrates & Cia.), mas a diferença é de grau, não de natureza. Guterres e Sócrates são socialistas assumidos e incompetentes. V. Exa. é muito competente, mas é um socialista de armário.
É por isso que o cavaquismo representa a descaracterização da Direita portuguesa. O meu caro Professor transformou a Direita na revisora de contas do regime, e anulou aquilo que Sá Carneiro e Lucas Pires tentaram construir: uma direita liberal e conservadora com a Vontade de fazer um debate moral e político com a Esquerda dentro do espaço democrático. V. Exa. deu medo à Direita, medo de se assumir, medo de dar a cara por ideias fora do padrão imposto pela macumba progressista. A sua sorte, meu caro Sr. Medo, é que a política passa pela escolha do mal menor. E eu tenho um medo bíblico do Tiririca de Águeda.»

domingo, janeiro 09, 2011

o candidato-presidente que não deve explicações 2


Também no Expresso de ontem escreveu Daniel de Oliveira, sob o título «A credibilidade de Cavaco», o seguinte texto que vem complementar o que ontem aqui publiquei. Aviso que talvez se venha a justificar a publicação de um terceiro. Amanhã verei.

«Quando confrontado por Francisco Lopes com o 'caso BPN', Cavaco Silva ignorou o assunto. Defensor Moura voltou à carga e o Presidente optou pela vitimização. Por fim, em resposta a dúvidas de Manuel Alegre, decidiu atacar a atual administração do BPN. Ou seja, quando os seus amigos andavam a brincar com o fogo fez negócios com eles; quando o caso rebentou, manteve-se em silêncio; quando Dias Loureiro mentiu ao Parlamento veio em sua defesa; quando o BPN foi nacionalizado assinou por baixo; e só resolve abrir a boca para criticar quem, mal ou bem, recebeu o presente envenenado.
Mas o silêncio, a vitimização e a fuga para a frente não o salvam dos esclarecimentos que tem de dar. E ninguém quer saber das suas poupanças familiares. Cavaco Silva e a filha compraram ações da SLN, empresa detentora do BPN e sem cotação na bolsa. Foi definido, sabe-se lá com que critérios, o preço de um euro por ação. Dois anos depois vendeu as mesmas ações por 2,4 euros e teve um lucro de 147,5 mil euros (e 209,4 para a filha). Ações de uma empresa que, mesmo com as contas aldrabadas, dava um lucro anual insignificante. Os preços de venda e de compra foram definidos pela SLN. Na administração da sociedade estavam um ex-secretário de Estado, um ex-ministro que Cavaco viria a nomear para o Conselho de Estado e vários membros da sua atual Comissão-de Honra. Se Cavaco quer matar o assunto em que ele próprio se enfiou é simples: explica porque teve um tratamento de favor na venda de ações.
Por enquanto, a suspeita é esta: a entrada de Cavaco Silva para o grupo acionista da SLN, mesmo com a certeza de que a sociedade iria perder dinheiro com a compra e venda das ações, teria como única função a utilização do seu nome para credibilizar a empresa junto de outros investidores. Se esta suspeita se confirmar, o caso tem relevância política. Afinal de contas, o buraco do BPN é agora de todos nós. O assunto é sujo? Claro que sim. Mas quem não se quer enfiar na lama tem cuidado com quem faz negócios, política ou as duas coisas em simultâneo. É fundamental saber em que tipo de gente confia um chefe de Estado. E se, consciente ou inconscientemente, andou a oferecer a sua credibilidade a quem não devia. Mais ainda, quando Cavaco Silva faz dela o seu único argumento político. Precisamos de saber se a pôs a render.»

sábado, janeiro 08, 2011

o candidato-presidente que não deve explicações

No Expresso de hoje, Miguel Sousa Tavares publica na sua habitual coluna um artigo que intitulou «O candidato-presidente que não deve explicações», em que de uma forma inteligente e sintética demonstra que afinal o candidato-presidente nos deve explicações. Os jornais estão cheios de textos sobre o caso BPN, em que uns procuram defender o candidato-presidente e outros o procuram acusar.
Resolvi publicar aqui este artigo por me parecer ser o mais isento e desapaixonado, mas seguramente o mais lúcido e crítico. Concordo absolutamente que, tal como se lê no fim do artigo, responda ele ou não, já será tarde de mais.


«Não me admira muito a facilidade com que Cavaco Silva se deixou enredar na armadilha do BPN. Pode-se pensar que foi falta de previsão da sua parte, mas eu acho que foi antes falta de visão: Cavaco Silva acha-se genuinamente acima e imune ao que considera "baixa política". E baixa política, para ele, pode ser muita coisa, mesmo aquilo que é perfeitamente legítimo e normal na luta política. A sua pretensão é a de andar à chuva sem se molhar, fazer política fingindo-se acima dela. Ainda na recente mensagem de Ano Novo, referiu-se aos "agentes políticos", como se deles não fizesse parte: E antes execrou a pestífera espécie dos "políticos profissionais", como se os dezassete anos que leva de funções políticas públicas tivessem sido desempenhados a título gracioso. E o mesmo em relação ao desdém que vota à "política partidária", como se não tivesse çhefiado durante dez anos um partido político.
Não admira, assim, que, desenterrado o assunto BPN, Cavaco Silva tenha reagido conforme a sua natureza política, em três diferentes e sucessivos andamentos: indignação majestática, desconsideração política e intimidação senhorial. Na primeira fase, achou que lhe bastaria dizer que seria preciso que alguém "nascesse duas vezes" para conseguir ser tão honesto como ele - uma resposta à medida da superioridade moral que atribui a si mesmo, mas contraproducente, visto que reconhecia que o assunto BPN era uma questão de honestidade. Na segunda fase, achou (como no caso da "conspiração das escutas", engendrada entre Belém e o "Público"), que se podia contentar com explicações que não vinham ao caso e nada interessavam: que consultassem a sua declaração de rendimentos (que não contém respostas a nada do que está em causa); que aplicou as suas poupanças em quatro bancos (o que só seria relevante saber se nos outros três tivesse obtido lucros tão extraordinários e fulminantes como no BPN); que se tratava de ‘poupanças de uma vida de trabalho’, (como se o que importasse fosse conhecer a origem do dinheiro investido e não a razão do dinheiro acrescentado); e que pagou todos os impostos devidos pela operação BPN (impostos insignificantes e cujo pagamento, deduzido à cabeça pelo Banco, ninguém questionara). Enfim, na terceira fase – a das ofensas – deu homem por si para acusar Alegre de ‘campanha suja, ‘indecente’, ‘ignóbil’, ‘cobarde’, ‘desonesta’ e de ‘baixa política’. E para concluir que ‘já tinha esclarecido tudo o que havia a esclarecer’. Pelo menos, vá lá, sempre reconheceu que alguma coisa havia a esclarecer.
Não sei ainda que desenvolvimentos terá este assunto nos próximos dias. Mas hoje, quinta-feira, em que escrevo este texto, duas coisas são claras para toda a gente: que, ao contrário do que afirma, Cavaco Silva não esclareceu nada do que interessava esclarecer e que já todos entendemos a razão para tal. Mas, como o assunto é, evidentemente, político, convém começar por responder a duas objecções políticas prévias dos defensores de Cavaco Silva.
A primeira tem a ver com a oportunidade do tema: porque é que o assunto só agora desceu à praça pública, porque é que um negócio particular, ocorrido entre 2001 e 2003, só agora surge questionado? Porque o negócio só foi conhecido em 2009, através de uma notícia deste jornal, embora já fosse falado à boca-pequena muito antes disso; porque, entretanto, o BPN foi nacionalizado e transformou-se num caso criminal, com as responsabilidades financeiras a cargo dos contribuintes; e porque, obviamente, estamos em campanha eleitoral e Cavaco Silva é candidato.
Isso remete-nos para a segunda questão prévia, que é a da legitimidade dos pedidos de explicações ao candidato-Presidente. Será isso apenas parte de uma campanha suja e desonesta? Não creio: será que, se se tivesse descoberto, durante a campanha presidencial americana, que Obama tinha conseguido uma taxa de lucro astronómica e rapidíssima com investimentos num dos bancos intervencionados pelo governo federal com o dinheiro dos contribuintes, isso não teria sido tema das eleições americanas? Ou se se tivesse descoberto o mesmo acerca de um negócio entre Gordon Brown e um dos bancos ingleses que o Governo teve de nacionalizar para evitar a falência? E se, por acréscimo, os bancos em causa fossem geridos na altura por amigos políticos ou pessoais de Obama ou Gordon Brown? E se, porventura, se descobrisse que tinha sido por ordens directas de um desses amigos e presidente do banco que eles tinham conseguido esse negocio da China? Em que democracia do mundo é que isto não seria tema de campanha e em qual é que ao candidato em causa bastaria responder que era preciso nascer duas vezes para ser tão honesto como ele? Ao contrário do que Cavaco Silva gostaria, não lhe basta declarar que não é político para se poder comportar como se o não fosse.
A questão é esta: em teoria, qualquer um de nós (vá-se lá saber como ... ), podia ter valorizado em 140% e em menos de dois anos um investimento no BPN, e não devia explicações a ninguém. Mas quem exerce o mais alto cargo do Estado, quem, validando uma decisão nefasta do Governo, teve a responsabilidade de nacionalizar o BPN, chutando para cima de nós uma factura que neste momento vai já em 500 euros por cidadão (e muito mais para os que verdadeiramente pagam impostos) devia, pelo menos, sentir-se incomodado por ele próprio ter ganho uma pequena e instantânea fortuna onde todos nós perdemos, sem culpa alguma. E, sobretudo, quando hoje já é claro que, corri um banco paralelo e 'virtual' numa garagem e outro banco de fachada em Cabo Verde, o BPN foi roubando os depositantes em benefício de alguns accionistas e outros privilegiados. E que tudo isto acabou num caso criminal escabroso como não há memória em Portugal. Bem pode Cavaco, para desviar as atenções do essencial, questionar a gestão pública e posterior do BPN ou tentar comparar a situação à dos bancos ingleses nacionalizados: uma coisa são as eventuais falhas da actual gestão pública do BPN ou os danos causados nos bancos ingleses por práticas de gestão irresponsáveis e aventureiras; outra coisa. são as consequências das actividades criminosas ocorridas no BPN, sob a presidência de um amigo político do Presidente.
Com tantos anos na "política profissional", Cavaco Silva não devia esquecer algumas das regras do jogo: que, na política, a única coisa que não se pode matar é o passado, que a vingança se serve fria e que não se deve desafiar quem nos pode atingir. Ao optar, soberbamente, por achar que ninguém se atreveria a questionar o seu passado com o BPN, ao imiscuir-se na última campanha das legislativas, lançando graves suspeitas contra o Governo com a história inconcebível das escutas inventadas, e ao não hesitar em atacar, para se defender, a actual administração do BPN e da CGD (onde estão amigos e membros da sua comissão de honra), Cavaco Silva pôs-se a jeito para o que agora lhe sucedeu. O ‘aparecimento’ do despacho em que Oliveira Costa ordena que se lhe comprem as acções da SLN e onde fixa o extraordinário preço de compra das mesmas, não conseguirá retirar-lhe a reeleição, mas retirou-lhe, e para sempre, coisas que, do meu ponto de vista, são bem mais importantes.
Assim, ficámos a saber, por outra via, duas das respostas que ele se recusou a dar, por si mesmo: quem lhe comprou, as acções da SLN e quem fixou arbitrariamente o preço de acções que nem sequer estavam cotadas em bolsa. Foi Oliveira Costa - seu ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, ex-membro da sua Comissão de Honra na candidatura de 2005 e financiador da campanha, ex-presidente do BPN e chefe da quadrilha a quem devemos 5000 milhões de euros de responsabilidades financeiras assumidas pelo Estado em nosso nome.
Restam as outras perguntas a que só Cavaco Silva pode responder; mas a que não responderá: quem e como o convenceu, a ele e à família, a investir na SLN, dona do BPN? Como e porquê resolveu sair? Não estranhou uma mais-valia de 75% ao ano? Não lhe passou pela cabeça que isso pudesse ser um negócio de favor à sua pessoa política? Não desconfiou, para mais sendo professor de Finanças, da solidez de um banco que assim remunerava investimentos particulares? Conhece mais algum cliente do BPN que tenha realizado semelhante negócio com o banco? Ou mais alguém que tenha realizado negócio semelhante com qualquer outro investimento financeiro, nessa altura?
Responda ou não, já é tarde de mais».



No texto original não há frases em bond

quinta-feira, janeiro 06, 2011

um estranho modo de ser português


No Jornal de Barcelos de 27 de Outubro de 2010, o professor Luís Manuel Cunha publicou em Sinais dos Tempos, o artigo que a seguir vos deixo. É mais um retrato a preto e branco dos portugueses de agora e sempre. O tempo que vivemos é de carpir lágrimas e de revolta, mas é preciso que seja exactamente o contrário disso - não de lágrimas e revolta, mas de lutar, arregaçar as mangas e andar em frente, cabeça erguida, orgulhosos de ser portugueses. Em nome de quê? Daquilo que ao longo dos tempos temos sido - uma coisa e o seu contrário. E sempre fomos grandes quando houve necessidade de o sermos. Pena que então e agora só sejamos o que devemos ser, quando mais nada nos resta antes do desastre. Será que não podemos acabar com esta fatalidade(?) e inverter a regra?

«Acabava de entrar o ano de 1872. E o novo ano que chegava interrogava o ano velho. "- Fale-me agora do povo’’, pedia o novo ano. E o velho: "- É um boi que em Portugal se julga um animal muito livre, porque lhe não montam na anca; e o desgraçado não se lembra da canga!': " - Mas esse povo nunca se revolta?’’, insistia ano novo, espantado. E respondia o velho: "- O povo às vezes tem-se revoltado por conta alheia Por conta própria, nunca: E uma derradeira questão: "- Em resumo, qual é a sua opinião sobre Portugal?': E a resposta lapidar do ano velho: "- Um país geralmente corrompido, em que aqueles mesmos que sofrem não se indignam por sofrer''. Este diálogo deve-se a Eça de Queirós. O mesmo Eça que escreveu sobre o Portugal de então: "O povo paga e reza. Paga para ter ministros que não governam, deputados que não legislam (…) e padres que rezam contra ele. (…) Paga tudo, paga para tudo. E em recompensa, dão-lhe uma farsa:’' Estávamos, repito, em 1872. Estamos obviamente a falar do povo português. Esta "raça abjecta''congénitamente incapaz de que falava Oliveira Martins. Este povo cretinizado, obtuso, que se arrasta submisso, sem pouco de indignação e muito menos de revolta Um povo que se deixa conduzir passivamente por mentirosos compulsivos como Sócrates ou Passos Coelho ou por inutilidades ignorantes como Cavaco Silva, não merece mais que um gesto de comiseração e de desdém. É vê-los nas televisões, por exemplo. Filas e filas de gente acomodada, cabisbaixa, servil, absurdamente resignada, a pagar as estradas que a charlatanice dos políticos tinha jurado "que se pagavam a si mesmas"! Sem qualquer tipo de pejo e com indisfarçável escárnio, o Estado obriga-os a longas filas de espera para conseguirem comprar e pagar o aparelho que lhes vai possibilitar a única forma de pagar as portagens que essa corja de aldrabões agora no poder, se lembrou de inventar! E eles passam a noite inteira à espera, se preciso for. E lá vão depois, bovinamente, de chapéu na mão, a mendigar a senha redentora que lhes dará o "privilégio de serem esbulhados electrónica e quotidianamente pelo Estado': Um povo assim não presta, não passa de uma amálgama amorfa de cobardes. Porque, se esta gentinha "os tivesse no sítio’’, recusar-se-ia massivamente a pagar as portagens. E isso seria o suficiente para que os planos governamentais ruíssem como um castelo de cartas. Mas não. Esta gente come e cala Leva porrada e agradece. E a escumalha de medíocres que detém o poder, rejubila e escarnece desta populaça amodorrada e crassa que paga o que eles quiserem quando e como eles o definirem. Sem um espirro de protesto, sem um acto de revolta violenta, se preciso for. Pelo contrário. Paga tudo, paga para tudo. Sem rebuço, dóceis, de chapéu na mão, agradecidos e reverentes, como o poder tanto gosta. E demonstram-no publicamente, disso fazendo gala. Como eu vi, envergonhado, a imagem de um homenzinho ostentando um sorriso desdentado e exibindo perante as câmaras da TV o aparelhinho que acabara de pagar, como se tivesse ganho uma medalha olímpica. Esta multidão anestesiada espelha claramente o país que somos e que, irremediavelmente, continuaremos a ser - um país estúpido, pequeno e desgraçado. O "sítio" de que falava Eça, a "piolheira’’ a que se referia o rei D. Carlos. "Governado" pelas palavras "sábias" de Alípio Severo, o Conde de Abranhos, essa extraordinariamente actual criação queirosiana, que reflecte bem o segredo das democracias constitucionais. Dizia o Conde: "Eu, que sou governo, fraco mais hábil, dou aparentemente a soberania ao povo. Mas como a falta de educação o mantém na imbecilidade e o adormecimento da consciência o amolece na indiferença, faço-o exercer essa soberania em meu proveito ... " Nem mais. Eis aqui o segredo da governação. A ilustração perfeita com que o rei D. Carlos nos definia há mais de um século: "Um país de bananas governado por sacanas’’. Ontem como hoje. O verdadeiro esplendor de Portugal».

segunda-feira, janeiro 03, 2011

custa muito ter esperança?


As palavras que o Embaixador da Grã Bretanha escreveu e publicou no Expresso aquando da sua recente despedida desse cargo, merecem ser atentamente lidas por todos nós, portugueses. A nossa auto estima anda um pouco por baixo e apesar destas palavras não pagarem a nossa dívida nem melhorarem a nossa situação económica, laboral e social, obrigam a pensar quem realmente somos, o que temos sido ao longo dos tempos e as nossas especificidades. Se assim fizermos, custa muito ter esperança?

Coisas que nunca deverão mudar em Portugal

«Portugueses: 2010 tem sido um ano difícil para muitos; incerteza, mudanças, ansiedade sobre o futuro. O espírito do momento e de pessimismo, não de alegria. Mas o ânimo certo para entrar na época natalícia deve ser diferente. Por isso permitam-me, em vésperas da minha partida pela segunda vez deste pequeno jardim, eleger dez coisas que espero bem que nunca mudem em Portugal.

1. A ligação intergeracional. Portugal é um país em que os jovens e os velhos conversam - normalmente dentro do contexto familiar. O estatuto de avô é altíssimo na sociedade portuguesa - e ainda bem. Os portugueses respeitam a primeira e a terceira idade, para o benefício de todos.

2. O lugar central da comida na vida diária. O almoço conta - não uma sandes comida com pressa e mal digerida, mas uma sopa, um prato quente etc, tudo comido à mesa e em companhia. Também aqui se reforça uma ligação com a família.

3. A variedade da paisagem. Não conheço outro pais onde seja possível ver tanta coisa num dia só, desde a imponência do rio Douro até à beleza das planícies do Alentejo, passando pelos planaltos e pela serra da Beira Interior.

4. A tolerância. Nunca vivi num país que aceita tão bem os estrangeiros. Não é por acaso que Portugal é considerado um dos países mais abertos aos emigrantes pelo estudo internacional MIPEX.

5. O café e os cafés. Os lugares são simples, acolhedores e agradáveis; a bebida é um pequeno prazer diário, especialmente quando acompanhado por um pastel de nata quente.

6. A inocência. É difícil descrever esta ideia em poucas palavras sem parecer paternalista; mas vi no meu primeiro fim de semana em Portugal, numa festa popular em Vila Real, adolescentes a dançar danças tradicionais com uma alegria e abertura que têm, na sua raiz, uma certa inocência.

7. Um profundo espírito de independência. Olhando para o mapa ibérico parece estranho que Portugal continue a ser um país independente. Mas é e não é por acaso. No fundo de cada português há um espírito profundamente autónomo e independentista.

8. As mulheres. O Adido de Defesa na Embaixada há quinze anos deu-me um conselho precioso: "Jovem, se quiser uma coisa para ser mesmo bem feita neste país, dê a tarefa a uma mulher". Concordei tanto que me casei com uma portuguesa.

9. A curiosidade sobre, e o conhecimento, do mundo. A influência de "lá" é evidente cá, na comida, nas artes, nos nomes. Portugal é um pais ligado, e que quer continuar ligado, aos outros continentes do mundo.

10. Que o dinheiro não é a coisa mais importante no mundo. As coisas boas de Portugal não são caras. Antes pelo contrário: não há nada melhor do que sair da praia ao fim da tarde e comer um peixe grelhado, acompanhado por um simples copo de vinho.

Então, terminaremos a contemplação do país não com miséria, mas com brindes e abraços. Feliz Natal.»

domingo, janeiro 02, 2011

feliz ano novo

Se tiver em atenção o que vai ler, o próximo ano será seguramente um feliz ano novo. É o que desejo a todos.

sábado, janeiro 01, 2011

as vantagens da cultura

Penso que é bom entrar no Novo Ano com um sorriso nos lábios que nos venha de algo nos ter feito sorrir e não da suposta alegria calendarizada pelo réveillon. Um amigo enviou-me um vídeo que tem por base o aproveitamento da música de Friedrich Kuhlau (Abertura de Elverhoj) por um gang ficcional de ladrões dinamarqueses encabeçado por Olsen, senhor de grande estratégia criminal e não violento. Sobre este Olsen gang foi feito um filme por Erik Balling intitulado "The Olsen Gang Sees Red". Esta obra musical e o seu autor representam a idade de ouro da música dinamarquesa. Embora um pouco longo penso que vale a pena assistir e rir ou sorrir com o assalto do gang.