domingo, janeiro 09, 2011

o candidato-presidente que não deve explicações 2


Também no Expresso de ontem escreveu Daniel de Oliveira, sob o título «A credibilidade de Cavaco», o seguinte texto que vem complementar o que ontem aqui publiquei. Aviso que talvez se venha a justificar a publicação de um terceiro. Amanhã verei.

«Quando confrontado por Francisco Lopes com o 'caso BPN', Cavaco Silva ignorou o assunto. Defensor Moura voltou à carga e o Presidente optou pela vitimização. Por fim, em resposta a dúvidas de Manuel Alegre, decidiu atacar a atual administração do BPN. Ou seja, quando os seus amigos andavam a brincar com o fogo fez negócios com eles; quando o caso rebentou, manteve-se em silêncio; quando Dias Loureiro mentiu ao Parlamento veio em sua defesa; quando o BPN foi nacionalizado assinou por baixo; e só resolve abrir a boca para criticar quem, mal ou bem, recebeu o presente envenenado.
Mas o silêncio, a vitimização e a fuga para a frente não o salvam dos esclarecimentos que tem de dar. E ninguém quer saber das suas poupanças familiares. Cavaco Silva e a filha compraram ações da SLN, empresa detentora do BPN e sem cotação na bolsa. Foi definido, sabe-se lá com que critérios, o preço de um euro por ação. Dois anos depois vendeu as mesmas ações por 2,4 euros e teve um lucro de 147,5 mil euros (e 209,4 para a filha). Ações de uma empresa que, mesmo com as contas aldrabadas, dava um lucro anual insignificante. Os preços de venda e de compra foram definidos pela SLN. Na administração da sociedade estavam um ex-secretário de Estado, um ex-ministro que Cavaco viria a nomear para o Conselho de Estado e vários membros da sua atual Comissão-de Honra. Se Cavaco quer matar o assunto em que ele próprio se enfiou é simples: explica porque teve um tratamento de favor na venda de ações.
Por enquanto, a suspeita é esta: a entrada de Cavaco Silva para o grupo acionista da SLN, mesmo com a certeza de que a sociedade iria perder dinheiro com a compra e venda das ações, teria como única função a utilização do seu nome para credibilizar a empresa junto de outros investidores. Se esta suspeita se confirmar, o caso tem relevância política. Afinal de contas, o buraco do BPN é agora de todos nós. O assunto é sujo? Claro que sim. Mas quem não se quer enfiar na lama tem cuidado com quem faz negócios, política ou as duas coisas em simultâneo. É fundamental saber em que tipo de gente confia um chefe de Estado. E se, consciente ou inconscientemente, andou a oferecer a sua credibilidade a quem não devia. Mais ainda, quando Cavaco Silva faz dela o seu único argumento político. Precisamos de saber se a pôs a render.»

Sem comentários: