terça-feira, novembro 13, 2007

a propósito de culpa


Já percebi que tenho de deixar de fazer promessas neste blog. Continuarei a avisar das minhas ausências forçadas, mas jamais direi quando voltarei, com ar de quem estima a precisão. Já lá vai o tempo em que apesar da vida dinâmica e super atarefada que eu levava, conseguia cumprir horários e raramente cometer a indelicadeza de deixar os doentes ou os amigos à minha espera. Sucedeu, é evidente que sim. Mas, tão raramente, tão forçosamente inevitável, que quase se pode dizer que nunca o fiz. Lembro-me, muitas vezes, de como nessas raras ocasiões em que me atrasava, por força de alguma intervenção cirúrgica que inesperadamente requeria mais tempo do que o esperado, eu mandava avisar os doentes da minha já provável demora e lhes mandava dizer que poderiam ir dar uma volta, fazer qualquer coisa, pois só chegaria por volta da hora X. E o que me faz lembrar disto com alguma frequência, não é o facto de os avisar, mas sim a cara de espanto que eles mostravam, quando após a entrada no gabinete de consulta eu lhes pedia desculpa pelo atraso. Era tal o espanto que eu me sentia um extraterrestre. Era tal o "poder" médico nessa altura que eles nunca esperariam que alguém lhes pedisse desculpa, mesmo que os tivesse feito esperar, porventura desorganizado as suas vidas.
Sempre procedi assim e não será agora que vou mudar. Mas agora, é tal a falta de domínio do meu tempo, que tenho receio de falhar sistematicamente. Com obrigações assumidas jamais falharia ou falharei. Se tenho um artigo para entregar, uma palestra para fazer, uma revisão com prazo limite, poderão estar sempre descansados todos aqueles que tal me solicitaram. O problema pôe-se ou, melhor dizendo, pôe-se-me, em tudo aquilo que não está programado ou é assumido como obrigatório. É o caso deste blog. Não tenho horário de trabalho, não tenho compromissos assumidos e só quando me lembro e, sobretudo, quando me apetece, é que aqui venho escrever sobre tudo ou nada, sobre os outros ou sobre mim. Pode dizer-se que é uma escrita em liberdade, mas não é. Acaba por ser mais livre aquela para a qual tenho prazo. Nessa, se aceito a incumbência e o prazo, não tenho qualquer problema. Nesta, em que aparentemente sou livre de escrever ou não escrever, sinto uma culpa enorme quando o não faço. Culpa, porquê, se não estou amarrado a compromissos e a cumprimento de qualquer palavra? Não me perguntem porquê. Só sei que é assim. Um dia voltarei ao tema, quando o souber explicar. Mas aqui fica o aviso - sem compromisso e sem data marcada.

1 comentário:

Didi disse...

Olá.
Desculpe postar neste tópico, mas estou interessada em um antigo tópico seu de Agosto de 2006, cujo título é: E, se eu vos contasse? – 25º programa – a evolução do transporte de doentes.
Bem, gostaria de saber se você pode me dizer como era o transporte de feridos na Idade Média.
Grata desde já,
Andressa.
antoine_dimanche@yahoo.com.br