sábado, junho 19, 2010

última carta para josé saramago



Em 9 de Outubro de 1998, enviei esta carta oficial a José Saramago


Em nome da Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos e no meu pessoal, apresento ao homem raro, íntegro, coerente e frontal e ao escritor ímpar da literatura contemporânea, burilador e alquimista da palavra portuguesa, as melhores felicitações pela justiça que lhe foi feita quando, em boa hora, lhe atribuíram o Prémio Nobel da Literatura de 1998.
Apresento-lhe também os parabéns, ou parabenizo-o como dizem os brasileiros, pelo Prémio Nobel, em nome da União dos Médicos Escritores e Artistas Lusófonos – UMEAL, que ajudei a fundar em 1992 e a que actualmente presido, certo que estou que será esse o sentir de todos os colegas que têm no português a sua forma de expressão oral e escrita.
Em nome de todos nós, que já somos bastantes, deixe-me que lhe diga – Obrigado, José Saramago, por ter elevado a nossa língua ao local que ela merece e a tenha levado ao conhecimento dos muitos que teimam em nos ignorar.
Pombalinho, 9 de Outubro de 1998
Carlos Vieira Reis
Presidente da SOPEAM e da UMEAL


Hoje, um dia depois da sua morte e uma hora depois da sua chegada ao Salão Nobre da Câmara Municipal de Lisboa, escrevo-lhe esta última carta, em meu nome pessoal, para lhe agradecer que nestes 12 anos de nobelizado não tenha mudado a sua maneira de ser nem as qualidades que sempre teve e cultivou.
Não lhe faltaram tentações que conduziriam a uma mudança a que muitos não resistiriam, mas a que o José Saramago soube resistir. A sua escrita ficou cada vez mais vintage.
São cada vez menos aqueles que nos ignoram como povo e como língua e, se assim sucede, a sua grandeza para isso contribuiu.
Cumpriu-se como Homem e como Escritor. O novo caminho espera por si. Por certo será mais macio do que foi este.
Até breve.
CVR


1 comentário:

msg disse...

Muito bom dia,CARO DOUTOR

Perante a dimensão dos seus dois testemunhos,só ficaria bem um silêncio. Como sempre,sem emenda,aqui ficam o que encontrei por aí.

"Morreu um homem que ganhou o pão com o suor do seu rosto,e fê-lo,pode dizer-se,até o fim. Foi um homem de desafios,um homem corajoso. Terá exagerado nalguns passos que deu. O que o levou a dá-los? Sem dúvida,foi um grande homem."

À semelhança do que alguém lembrou,gostaria que ele,onde agora está,tivesse uma transcendente surpresa,uma boa surpresa,a melhor surpresa.

Muito boa saúde,CARO DOUTOR