terça-feira, setembro 18, 2012

baaaaaasta

 
Na página Cartas Abertas da Revista do Expresso de 15 de Setembro de 2012, o Comendador Marques de Correia publicava mais uma das suas viperinas cartas, embrulhada como sempre no melhor humor negro que se pratica em Portugal. Em complemento da inesquecível, desejada e esperada manifestação colectiva deste Portugal abusado e desrespeitado por quem se julga poder, publico esta última carta do Comendador em que ele próprio assume que -

«numa comovedora peça,apoia a política do primeiro-mi­nistro, sem corar nem nada»
 
«A MINHA PRIMEIRA RAZÃO para apoiar o dr. Passos Coelho é que as coisas podiam ser piores. Por exemplo: - Ele podia ser agente da peste bubóni­ca ou doutra praga qualquer; - Ele podia ter decretado a morte de todas as pessoas com 55 anos ou mais; - Ele podia ter decidido que os funcioná­rios públicos tinham de se chamar Ar­mindo ou Epifânia para poderem conti­nuar a receber, pelo menos, um salário por ano; - Ele podia ter obrigado os homens com rendimentos superiores a 1000 euros a casarem com a Dona Teresa Guilherme; - Ele podia ter decretado que as senho­ras solteiras, viúvas ou divorciadas não tinham direito à Segurança Social, a menos que casassem com um homem indicado pelo dr. Relvas, ou por alguém com equivalência a dr. Relvas; - Ele podia ter estatuído que apenas o Real Massamá podia ganhar jogos de futebol e que as telenovelas da SIC e da 1VI acabavam sem se conhecer o final; Enfim, ele podia muita coisa e, compara­do com o que acabo de descrever, a única coisa que fez foi cortar-nos 7% do rendimento. Ora isto, comparado com a peste negra, com o extermínio, com o fim das telenovelas, com a impossibilida­de de Benfica, Porto, Sporting ou mesmo o Braga ganharem o campeonato e outras malvadezas assim, nem parece muito. É, basicamente, por estes motivos que eu digo que podia ser pior e que devemos apoiar o dr. Passos Coelho. Há, ainda, outro motivo para não o contrariar e que todos conhecemos. Tem a ver com o tipo de pessoas que nunca se devem contrariar. porque isso é - digamos - contraprodu­cente. A propósito de contrapro- ducente: apesar de estar convencido de que a medida que o Governo tomou é contraproducente, penso que será ainda mais contraprodu­cente argumentar com o facto de ela ser contraprodu­cente. A gente deve é, pelo contrário, incentivar o dr. Passos Coelho a ir mais longe. Tipo como se fazia dantes em Alcântara: - É só isto? Ganda maricas! Vê lá se consegues cortar, assim tipo 12%? Ou outras coisas, como: - Na Segurança Social, minha ganda menina No lRS é que era de homem e nas grandes fortunas dar-lhe uns 400 por cento de imposto que é para eles terem de pagar se quiserem ser ricos! Ao contrário, os nossos políticos, como lhes falta imaginação vêm todos dizer a mesma coisa: que isto é uma tragédia e que o país assim acaba, como se o país não acabasse de qualquer maneira, sendo apenas uma questão de mais ou menos mil anos, o que não é nada na escala cósmica. Na verdade, ser apaga­do do mapa por Passos Coelho ou por mn meteortto não faz.grande diferen .. ça Talvez com o meteorito doa me- nos, mas tirando isso o resultado é igual. É também com base neste pensamento elevado (até porque é de cima que vêm os meteoritos e os impostos), acho que devíamos incentivar o dr. Passos Coelho a ir mais longe. -A Espanha? - Não, mais longe! -A França? - Ainda mais longe! -À Rússia? - Mais longe, mais longe! -À China? - Não estás a perceber, é mais longe! -A Marte! - Ora aí está! O dr. Passos Coelho devía ir a Marte porque além de poder haver marcianos dispostos a pagar taxas sub­venções e impostos, o que ajuda, as viagens educam a juventude e nós acha­mos que ele merecia ir, digamos, arejar as ideias, para que quando voltasse não levasse o país tão a sério e desistisse, por fim, de salvá-lo. Porque nós, os tugas, não queremos ser salvos! Acreditamos que a intenção do primeiro-ministro seja endireitar o país e pô-lo nos eixos. Apoiamo-lo nisso e desejamos o melhor para ele, queremos que ele vá mais longe e isso tudo. Mas, mal agradecidos, como de costume, preferíamos que o Governo nos deixasse com os 7% no bolso. Pode ser?» 

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