Na edição da Visão do passado dia 10, publicou Viriato Soromenho Marques o artigo de opinião que aqui vos deixo, juntamente com a imagem com que foi publicado. Retoma nele a ideia de George Soros de transformar o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) num «Banco» com a devida licença bancária, que lhe permitisse o recurso ao BCE e beneficiar da taxa de 0,5%, como a dos outros bancos. Isso poderia resolver todas as crises presentes e futuras desta Europa em convulsão e anemia económicas. Parece-me que gostarão de o ler e perguntarem-se porque razão todas aquelas cabecinhas luminosas que se passeiam por Bruxelas, não são capazes de dar o passo em frente.
«De vez em quando as agências noticiosas dão conta de inquéritos de opinião, independentes, que quase passam despercebidos, efetuados em toda a União Europeia (UE), sobre as questões que colocam os governos em rota de colisão com os seus povos. Em maio deste ano, o Pew Research Center realizou um inquérito em vários países europeus, visando medir o grau de adesão dos diferentes eleitorados à Zona Euro (ZE). Surpreendentemente para muitos observadores, apesar da duríssima austeridade, a maioria esmagadora da população quer que os seus países nele continuem. A Grécia está em primeiro lugar, com 69%, seguida da Espanha, com 67%, e da Alemanha, com 66%. Na Espanha e na Itália, a opinião favorável ao euro cresceu entre 2012 e 2013. Dia 2 de outubro, o instituto Gallup divulgou outro inquérito, ainda politicamente mais sensível, sobre o balanço da austeridade. Interrogados sobre se a austeridade está ou não a dar os resultados prometidos. 51% dos inquiridos disseram que não está. Apenas 5% concordam com a continuação desta via dolorosa. Nos países fustigados pela austeridade, os respondentes céticos em relação ela escalam para 94% dos gregos, 81% dos portugueses, 80% dos espanhóis. Mas, mesmo na Alemanha, 50% considera existirem outras opções melhores do que a austeridade, enquanto 25% não concebe outro caminho.
Diagnósticos e terapias - Mas o mais surpreendente é verificarmos que a desconfiança dos povos europeus no sistema bancário é absolutamente esmagadora. Curiosamente. Portugal é o campeão das atitudes mais favoráveis do público em relação à banca:
40% confia nos bancos, contra 54% que desconfia. Até os alemães temem mais os bancos do que os portugueses: 37% contra 62%. A desconfiança eleva-se para 87% em Espanha, 84%, na Irlanda ou 80% na Grécia. É impossível não destacar o consenso dos cidadãos europeus em relação a origem da crise em que estamos mergulhados: ela foi causada pelos abusos do setor financeiro, o que, na Europa, é quase sinónimo de setor bancário. O cidadão comum, em todos os países da EU, não parece engolir a narrativa dos «Estados que viveram acima das suas possibilidades», usada como desculpa para a austeridade. Na verdade, a cumplicidade e a promiscuidade entre governos e bancos são intensas, o que, aliás, explica a ausência total de regulação eficaz como se viu na queda da Irlanda, no Bankia em Espanha, no Paschi em Itália e nos casos BPN e BPP em Portugal.
A reforma dos Tratados - A única maneira segura e estrutural de fazer sair a Europa da crise será a da reforma profunda dos Tratados, construindo as instituições de um federalismo republicano e constitucional à escala europeia. Mas, se os governos escutassem a dor dos seus povos, em vez dos interesses da pequena elite do poder financeiro, mesmo sem mudar poderiam ser tomadas medidas que aliviariam a austeridade, e que, ao contrário desta, estariam predestinadas a ter sucesso. Por exemplo, o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) na linha de uma sugestão já antiga de George Soros, poderia receber uma licença bancária. Em vez de ir buscar os seus fundos aos mercados mediante emissões obrigacionistas, com garantia dos Estados da ZE (incluindo Portugal), o MEE iria buscar o dinheiro ao BCE, à mesma taxa de referência oferecida à banca comercial. As garantias poderiam ser as mesmas oferecidas aos credores obrigacionistas, caindo as taxas de juro para 0,5% Com isso, o alivio na despesa anual com juros permitiria realizar as reformas estruturais, num quadro constitucional, ao mesmo tempo que aliviaria o impacto da austeridade sobre a procura interna, contribuindo para o desenvolvimento económico. Contudo, as enormes vantagens desta solução prejudicariam o mito sacrossanto da valorização interna como via para a competitividade, e lesariam os lucros da especulação com a divida pública. Razão tinha Henry Ford quando afirmava que se o povo percebesse como funcionava o sistema monetário e bancário, aconteceria uma revolução antes do amanhecer do dia seguinte».
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