sábado, fevereiro 04, 2006

encontro

Pousar meu olhar em ti.
Suavemente, muito suavemente.
E sentir o olhar,
E todo eu,
Correr como água limpa,
Límpida e pura,
Todos os poros do corpo teu,
E sentir essa água-olhar,
Essa água-eu,
Penetrarem suavemente
Toda a textura tua.
E já serem corrente
Nos rios que te correm.
E não haver margens
Que me contenham.
E circular-te de alto a baixo,
Ser azul, verde, cinza,
Ao passar no teu olhar claro.
E ser castanho-dourado,
Quando te navego os cabelos,
Os pêlos, os acidentes.
E sentir-te inundada e bem,
Envolvida e feliz,
Penetrada e tu.
E continuar a navegar-te.
E sentir-te transbordar,
Por onde se pode fazê-lo.

Pôr-te a mão e dizer – o rio.
Tocar-te e dizer – o mar.
Permanecer e dizer – o veludo.
Estar e dizer – a minha casa.
Sentir-te e dizer – a minha mulher.
Olhar-te e ver teu rosto mudado,
De outra idade, sem idade,
Só a do desejo, do amor.
Ver tua boca entreabrir-se,
Sugar, lamber e penetrar,
E dizer – vem amor, aqui me tens
Para ti, só para ti,
Que conheces meus caminhos
E meus rios,
Meus vales e acidentes,
Meus segredos e verdades,
Meus cofres e tesouros,
Minhas sensações contidas
Que rebentas como vulcões.
Vem, amor, dizes tu.
Vem, amor e dizes fica,
Vem, amor e deixa-me ficar.
E eu vou e fico e deixo-te ficar.
E o rio cresce e inunda-nos.
E já não há nem tu nem eu.
Apenas uma união de corpos,
De acidentes complementares,
Onde tudo encaixa,
Porque tem que encaixar.
Porque Deus assim o quis,
Ao criar homem e mulher,
Mas uma só mulher
E apenas um só homem,
Com os mesmos acidentes,
Um mesmo puzzle para acertar.
Depois Deus criou o amor,
Uma estranha força que atrai,
Que ilude, engana, baralha.
Que parece dizer, encontraste.

Homens, mulheres,
Navegam na dúvida,
Navegam na esperança,
Na ilusão de que sim.
E logo duvidam,
Logo se interrogam,
Se o amor é isto,
Não devia ser.
Muitos morrem,
Todos, quase todos,
Sem o encontro, sem o sinal.
Sem o amor, afinal.

Mas se o sinal chega,
E chega por vezes,
Então, há apenas que agarrar,
Pegar bem o amor
E lutar, lutar até bem o agarrar.
Há que gritar, meu amor, meu amor.
Há que olhar bem fundo seu olhar,
E deixar o rio nascer, correr, crescer,
E, finalmente apaziguados,
Dizer suavemente – meu amor, meu amor.
E ser feliz.

E não há idade nem contratempo,
Desânimo ou malentendido,
Que corte a corrente de nossos rios.

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