sexta-feira, março 27, 2009

o vinho e o mosto - um exercício de intertextualidade 20



Passa uma borboleta por diante de mim
E pela primeira vez no Universo eu reparo
Que as borboletas não têm cor nem movimento,
Assim como as flores não têm perfume nem cor.

A cor é que tem cor nas asas da borboleta,

No movimento da borboleta o movimento é que se move,

O perfume é que tem perfume no perfume da flor.

A borboleta é apenas borboleta

E a flor é apenas flor.

Fernando Pessoa

Quando repararei eu no essencial e esquecerei o supérfluo?
Só então poderei dizer que eu sou apenas eu e o que outros vêem em mim é apenas o que os outros em mim vêem.
Mas sinto que há uma grande contradição naquilo que julgo. Pois tenho tido sempre para mim que o que vejo das coisas e das pessoas é sempre o essencial e provavelmente apenas tenho visto o que dispensaria ser visto.
Mas será que eu me tenho enganado tanto?
Quando digo que olho para uma pessoa e lhe tiro logo o retrato a cores, será que apenas fotografo o que podia dispensar?
Eu sou realmente eu ou apenas o que aparento ser? O que outros vêem em mim?
Eu sou o todo de mim – o que sou, mais o que aparento.
E provavelmente o que sou é o que aparento.
Ou aparento exactamente o que sou?

CVR

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