sábado, julho 31, 2010

morreu antónio feio

O teatro português teve mais uma baixa de peso. António Feio morreu ontem e realiza-se hoje o seu funeral para o Cemitério dos Olivais, onde será cremado. Lutou como poucos contra o mal que o venceu, com uma imensa coragem e dignidade, tornando pública a sua doença e passando uma mensagem de luta, de força, de verdade, de paz.
A homenagem que hoje os órgãos de comunicação, os amigos, os admiradores lhe prestaram revelou bem a forma como era admirado o seu trabalho de actor, encenador e professor e a pessoa que era.
Ainda há menos de um ano assisti a um espectáculo seu no Teatro Virgínia, em Torres Novas, com o seu colega de há muitos anos, José Pedro Gomes. A doença já se manifestara e iniciara o seu caminho de destruição. Mas António Feio, corajosamente enfrentava-a. Um teatro inteiro, de pé, aplaudiu com entusiasmo e gratidão pela dádiva de humor e riso que em período cinzento e depressivo de todos, conseguiste nos dar.
A doença obrigou-te a partir, mas não conseguiu destruir a memória de ti. Palmas,
de todos nós.

sexta-feira, julho 30, 2010

canção da terra (earth song)

Este vídeo foi um dos melhores realizados por Michael Jackson. Esteve proibido nos E.U.A.. Fazia parte dos espectáculo marcado para Londres e que não chegou a realizar-se pela sua morte prematura. Merece ser divulgado. Por isso, o faço.

quinta-feira, julho 29, 2010

migalhas da sabedoria dos povos 1

Lamento não poder manter a qualidade gráfica do power point que me chegou às mãos. Contudo a qualidade do pensamento não sofre abalo e é sobretudo isso que eu vos quero aqui deixar. Convosco mais uma migalha da sabedoria dos povos.

a arte está no coração e na alma

Não deixe de ver este vídeo até ao fim. Delicie-se com o que vai ouvir e surpreenda-se no fim. Abaixo os preconceitos!

quarta-feira, julho 28, 2010

uma boa maneira de divulgar a música

Foi uma óptima e belíssima ideia esta que a AGAO (Asociación Gayarre Amigos de la Ópera de Navarra) teve de divulgar a ópera no Dia Europeu da Música. Efectuando uma actuação surpresa no Café Iruña em 7 de Maio passado, acredito que tenha despertado interesse pela ópera em muitos dos clientes que se encontravam no café. Seguramente nenhum deles esquecerá mais esse dia. A actuação esteve a cargo do Coro Premier Ensemble daquela Associação.
Tenho a certeza de que todos aqueles que virem este vídeo, para além de serem tocados pela música serão tocados pela beleza do Café Iruña que recordará a todos o nosso Café Majestic na cidade do Porto.

segunda-feira, julho 26, 2010

o belo é para admirar

Grande parte do que se pode ver no vídeo que aqui vos deixo já todos vós tereis visto algures , em quaisquer locais.
Mas, quase aposto, que há momentos aqui registados que nunca tereis visto, porque a perfeição é coisa tão rara que será difícil terem visto tal apuro de qualidade e grau de dificuldade como estes que Wu Zhengdan e Wei Baohua personificam ao som da banda sonora do filme Somewhere in Time, composta por John Barry. Esta exibição realizou-se no Festival de Circo de Mónaco.

treino e perseverança

Poucos gostarão desta música, mas não duvido que todos se rendam ao rigor e perfeição da execução. Só muito treino (nem falo em ensaio), esforço e reconhecida direcção do coreógrafo, pode conduzir a tal grau de perfeição. Pergunto-me que tempo de duração terão as articulações dos pés e joelhos destes bailarinos, submetidos a tais esforços e desgaste, mesmo descontando o acréscimo de resistência que lhes traz o treino.
O vídeo que vos deixo mostra cenas dos ensaios e uma apresentação do Georgian National Ballet, companhia fundada em 1945 por Iliko Sukhishvili e Nino Ramishvili e actualmente dirigida pelo filho do primeiro, Tengiz Sukhishvili e sua mulher Inga Tevzadze (ex primeira bailarina). Esta Companhia tem realizado espectáculos nas melhores e mais respeitadas catedrais da música, como La Scala, Metropolitan Opera, Albert Hall, Madison Square Garden, etc...

domingo, julho 25, 2010

migalhas da sabedoria dos povos

Recebi hoje um magnífico power point sobre provérbios do mundo, variado, subtil, inteligente e apoiado em belíssimas imagens e enquadramento gráfico. Espero que o autor, não identificado, não leve a mal que lhe vá publicando aqui, um a um, a sua bela recolha da sabedoria popular ou de alguém que escreveu pelo povo, mandatado pela sua reconhecida sabedoria. Lamento que haja uma pequena perda de qualidade de imagem em relação ao original. E pensem, por favor.

quinta-feira, julho 22, 2010

ricos, mas pobres


Quando este texto de Mia Couto me chegou às mãos foi minha intenção publicá-lo aqui. Não sei porque razões, não cheguei a fazê-lo. Hoje o texto voltou a visitar-me, mas vinha amputado da parte final. Como não encontro o antigo e porque penso que é um texto importante que, mesmo incompleto, deve ser dado a conhecer, publico-o hoje mesmo assim.
Se, entretanto, encontrar o texto completo, logo o substituirei. Fiquem com Mia Couto.

Pobres dos Nossos Ricos
por
Mia Couto


A maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos. Mas ricos sem riqueza. Na realidade, melhor seria chamá-los não de ricos mas de endinheirados.
Rico é quem possui meios de produção. Rico é quem gera dinheiro e dá emprego.
Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro, ou que pensa que tem. Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele.
A verdade é esta: são demasiado pobres os nossos "ricos".
Aquilo que têm, não detêm. Pior: aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros.
É produto de roubo e de negociatas.
Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram. Vivem na obsessão de poderem ser roubados.
Necessitavam de forças policiais à altura. Mas forças policiais à altura acabariam por lança-los a eles próprios na cadeia.
Necessitavam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade. Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem (...)
Mia Couto




Encontrado o texto original, aqui o deixo para quem o queira ler -

Rico é quem possui meios de produção. Rico é quem gera dinheiro» dá emprego. Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro. Ou que pensa que tem. Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele. A verdade é esta: são demasiado pobres os nossos “ricos”. Aquilo que têm, não detêm. Pior, aquilo que exibem como seu é propriedade de outros. É produto de roubo e de negociatas. Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram. Vivem na obsessão de poderem ser roubados.

Necessitariam de forças policiais à altura. Mas forças policiais à altura acabariam por os lançar a eles próprios na cadeia. Necessitariam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade. Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem.

O maior sonho dos nossos novos-ricos é, afinal, muito pequenito: um carro de luxo, umas efémeras cintilâncias. Mas a luxuosa viatura não pode sonhar muito, sacudida pelos buracos das avenidas. O Mercedes e o BMW não podem fazer inteiro uso dos seus brilhos, ocupados que estão em se esquivar entre chapas muito convexos e estradas muito côncavas. A existência de estradas boas dependeria de outro tipo de riqueza Uma riqueza que servisse a cidade. E a riqueza dos nossos novos-ricos nasceu de um movimento contrário: do empobrecimento da cidade e da sociedade.

As casas de luxo dos nossos falsos ricos são menos para serem habitadas do que para serem vistas. Fizeram-se para os olhos de quem passa. Mas ao exibirem-se, assim, cheias de folhos e chibantices, acabam atraindo alheias cobiças. O fausto das residências chama grades, vedações electrificadas e guardas privados. Mas por mais guardas que tenham à porta, os nossos pobres-ricos não afastam o receio das invejas e dos feitiços que essas invejas convocam.

Coitados dos novos ricos. São como a cerveja tirada à pressão. São feitos num instante mas a maior parte é só espuma. O que resta de verdadeiro é mais o copo que o conteúdo. Podiam criar gado ou vegetais. Mas não. Em vez disso, os nossos endinheirados feitos sob pressão criam amantes. Mas as amantes (e/ou os amantes) têm um grave inconveniente: necessitam ser sustentados com dispendiosos mimos. O maior inconveniente é ainda a ausência de garantia do produto. A amante de um pode ser, amanhã, amante de outro. O coração do criador de amantes não tem sossego: quem traiu sabe que pode ser traído.

Os nossos endinheirados-às-pressas não se sentem bem na sua própria pele. Sonham em ser americanos, sul-africanos. Aspiram ser outros, distantes da sua origem, da sua condição. E lá estão eles imitando os outros, assimilando os tiques dos verdadeiros ricos de lugares verdadeiramente ricos. Mas os nossos candidatos a homens de negócios não são capazes de resolver o mais simples dos dilemas: podem comprar aparências, mas não podem comprar o respeito e o afecto dos outros. Esses outros que os vêem passear-se nos mal-explicados luxos. Esses outros que reconhecem neles uma tradução de uma mentira. A nossa elite endinheirada não é uma elite: é uma falsificação, uma imitação apressada.

A luta de libertação nacional guiou-se por um princípio moral: não se pretendia substituir uma elite exploradora por outra, mesmo sendo de uma outra raça. Não se queria uma simples mudança de turno nos opressores. Estamos hoje no limiar de uma decisão: quem faremos jogar no combate pelo desenvolvimento? Serão estes que nos vão representar nesse relvado chamado “a luta pelo progresso”? Os nossos novos ricos (que nem sabem explicar a proveniência dos seus dinheiros) já se tomam a si mesmos como suplentes, ansiosos pelo seu turno na pilhagem do país.

São nacionais mas só na aparência. Porque estão prontos a serem moleques de outros, estrangeiros. Desde que lhes agitem com suficientes atractivos irão vendendo o pouco que nos resta. Alguns dos nossos endinheirados não se afastam muito dos miúdos que pedem para guardar carros. Os novos candidatos a poderosos pedem para ficar a guardar o país. A comunidade doadora pode irás compras ou almoçar à vontade que eles ficam a tomar conta da nação. Os nossos ricos dão uma imagem infantil de quem somos. Parecem criancas que entraram numa loja de rebuçados. Derretem-se perante o fascínio de uns bens de ostentação.

Servem-se do erário público como se fosse a sua panela pessoal. Envergonha-nos a sua arrogância, a sua falta de cultura, o seu desprezo pelo povo, a sua atitude elitista para com a pobreza. Como eu sonhava que Moçambique tivesse ricos de riqueza verdadeira e de proveniência limpa! Ricos que gostassem do seu povo e defendessem o seu país. Ricos que criassem riqueza. Que criassem emprego e desenvolvessem a economia. Que respeitassem as regras do jogo. Numa palavra, ricos que nos enriquecessem. Os índios norte-americanos que sobreviveram ao massacre da colonização operaram uma espécie de suicídio póstumo: entregaram-se à bebida até dissolverem a dignidade dos seus antepassados. No nosso caso, o dinheiro pode ser essa fatal bebida. Uma parte da nossa elite está pronta para realizar esse suicídio histórico. Que se matem sozinhos. Não nos arrastem a nós e ao país inteiro nesse afundamento.

terça-feira, julho 20, 2010

o importante e o supérfluo

Estamos a viver uma época em que quase nada é feito ou vivido como sempre foi. As pessoas parecem sentir necessidade de introduzir qualquer coisa de novo, qualquer coisa de diferente, que possa distinguir quem o faz de forma diferente daqueles que o faziam ou fazem de forma normal. Tudo isto vem a propósito do vídeo que aqui deixo em que nos aparece a tocar piano um pianista acrobata, que parece mais interessado em que vejamos as suas capacidades acrobáticas do que as musicais. Chegamos ao fim sem saber exactamente se ele é pianista, se é acrobata, se é ambas as coisas. Por mim preferia que não fizesse acrobacias enquanto toca e que quando tocasse o fizesse melhor. Gostava, por mim, que fosse só pianista e um bom pianista e deixasse as acrobacias para os acrobatas. A música é mais para ouvir do que para ver, por isso precisa de ser boa, de soar bem e dispensa outras penas de pavão. Só aqui deixo o vídeo porque serve de exemplo às muitas outras coisas que se rodeiam de artifícios para encobrir o que interessa e mostrar o dispensável.

concerto para violino em ré menor de Sibelius (integral)

Ilya Kaler, foi o único violinista a vencer as 3 medalhas de ouro dos concursos mais prestigiados deste instrumento musical - Paganini (Génova, 1981), Sibelius (Helsínquia, 1985) e Tchaikovsky (Moscovo, 1986).
Ilya Kaler nasceu em 1963 na União Soviética.
Tocou com as mais famosas orquestras, como a de Leninegrado, Moscovo, Dresden, Montreal,
Copenhaga, Berlim, Zurique, entre outras. Deu recitais a solo na Europa, na Ásia, foi professor de violino em Rochester, New York, Bloomington e actualmente na DePaul University School of Music de Chicago.
O concerto para violino e orquestra em ré menor, de Sibelius, que vão ouvir é a gravação do concerto em Helsínquia quando ganhou o Prémio Sibelius.







segunda-feira, julho 19, 2010

quando a terra resolve mudar de sítio

Há imagens que devem ser vistas porque nos deixam a pensar, por serem inesperadas até percebermos que são reais, inexplicáveis por não encontrarmos imediatamente a razão porque sucederam. Causam respeito e medo porque nunca queremos encarar a hipótese de poderem ser possíveis. Vale a pena verem este movimento gigantesco de terras ocorrido em Itália há alguns meses.

sexta-feira, julho 16, 2010

antes rir que chorar

O mundo está uma confusão e a maioria das pessoas interroga-se como foi possível chegar a tal estado e como sair do fosso em que se caiu. Por outro lado não acredita nos políticos e não entende a forma como eles a fazem. Não lhes reconhece preparação, entrega à causa pública, liderança, preocupações sociais e encontra neles mais o que não queria ver, nem desejava que eles tivessem - interesses pessoais, pouca honestidade, desejo de poder. As pessoas andam deprimidas, tristes, revoltadas. Porque sabem que rir é um grande remédio, cartoonistas e vídeo designers esforçam-se por nos trazer algum espaço de bem estar e de nos fazer rir. O vídeo que aqui deixo é um bom exemplo disso - com o uso da técnica, enxerta humor sobre imagens reais da CNN e goza com a política, com a forma como os políticos a vêem e fazem. Riam à vontade, mas não esqueçam o desconforto,o protesto e se puderem, a acção.



Para aqueles a quem interesse, deixo aqui a letra:

Hugo Chavez: Tun tun tun tun tun tun tun tun
Seamos un tilín mejores
Y un poco menos egoístas
Tun tun tun tun tun tun tun tun
Huele a esperanza

Fredrik Reinfeldt 1.ºMinistro da Suécia: In this common endeavor
Huele a esperanza

Gordon Brown: All of us work together

Hugo Chavez: Tun tun tun tun tun tun tun tun

BO: We must embrace a new era of engagement
Because the time has come

UN Choir: To smell the hope!
Gordon Brown: For growth to be sustained
It has to be shared

UN Choir: ohhh, We can smell the hope!

BO: The time has come

UN Choir: To smell a better world!!

Fredrik Reinfeldt: A better world to live in for future generations everywhere.

Adam Grayson: Don't get sick
That's right, don't get sick
If you have insurance, don't get sick
If you don't have insurance, don't get sick
If you're sick, don't get sick
Just don't get sick
That's the Republicans' health care plan

CC: He has a chart

Adam Grayson: An angry chart

CC: A chart that helps us learn!

Adam Grayson: ooh ooh ah ah
If you get sick in America, die quickly
That's right--the Republicans want you to die quickly if you get sick
Adam Grayson: I agree!

CC: He agrees!

Adam Grayson: Angrily!

CC: Cuz he's angry!

Keith Olbermann: Afford to live?
Are we at that point?
Are we so heartless?
How can we not be united against death?

Us: My BFF Gilgamesh knows eternal life's an impossible quest
The resources exist for your father and mine to get the same treatment
Yeah, we're in agreement
But first we gotta lay down some
All: High speed rail
Us: Bail out some
All: Banks
Us: Save your daddy with the leftover change

Keith Olberman: How can we be so heartless?
Us: We're nihilists!
Keith Olbermann: How can we be so heeeeaaartless?
Us: We're tryna die quick!
Keith Olbermann: What more obvious role could government have
Than the defense of the life of each citizen?

Keith Olbermann: How is the Nobel Peace Prize decided?

Bob Schieffer: Well, uh, that is what people were asking all day today

Minister Bølverk: We mix a secret potion,
And roll the ancient dice,
Then hire a focus group
And have a human sacrifice.

Keith Olbermann: A lot of people are asking today why do you think the committee elected President Obama?

Minister Bølverk: I believe a prize for peace should go to the biggest wuss.

Bob Schieffer: They were giving Obama a prize for not being George Bush.

Choir: They can smell the hope!!

KC: Take a deep breath!

Choir: And hope a smelly world!

Keith Olbermann: A deep breath!

Friedrich Reinfeldt: A better world to live in for future generations everywhere

quinta-feira, julho 15, 2010

o vinho e o mosto - um exercício de intertextualidade 31


116.
Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e o representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana.
Não é esse o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso.

Bernardo Soares, Livro do Desassossego (Assírio e Alvim, 1998)


Se é verdade que os escritores escrevem sempre o mesmo livro e os romances que escrevem têm sempre qualquer coisa de autobiográfico, talvez possamos concluir que eles não escrevem senão a vida, seja ela a que viveram, a que quiseram viver ou a que imaginaram. E se for assim, não será como Pessoa dizia que escrever é esquecer, mas sim que escrever é lembrar. E a literatura não será nunca a maneira mais agradável de ignorar a vida, mas a melhor forma de a lembrar.
Diz Pessoa que a literatura simula a vida. E o que fazemos nós dela, quando a vivemos? Quando simulamos mais? Quando a vivemos ou quando a escrevemos? A literatura tem uma grande vantagem – podemos simular o que queremos e não simular a realidade que nos enfrenta.


CVR

quarta-feira, julho 14, 2010

carlos relvas e a sua casa-estúdio


Penso que a maioria dos portugueses desconhece a actividade cultural existente fora das grandes cidades. É natural que assim suceda num mundo que se pauta pelo individualismo, pelo stress, pela solidão individual e grupal. O conceito muito explorado ultimamente do «viaje para fora cá dentro» foi feliz na sua enunciação e no iniciar de um movimento de conhecimento do país que é nosso, onde nascemos, mas que desconhecemos e maltratamos.
No que me diz respeito posso considerar-me um privilegiado, já que o ter nascido no norte mais norte, roçando a raia com Espanha, estudado no centro, bem no centro territorial e académico e ter exercido a minha vida profissional no sul ou no princípio dele, capital do país, me permitiu toda a vida um viajar de norte a sul e sul a norte, que me foi pondo sempre em contacto com o país real e profundo, como é politicamente correcto dizer-se.
Mesmo sendo e considerando-me um privilegiado nesse sentido, tenho que reconhecer que existe uma malha de desigualdades culturais nos 89.000 Km2 em que o nosso país se contém (92 389 Km2 se incluirmos Madeira e Açores). Mas se é verdade que existe essa desigualdade não é menos verdade que cada dia me surpreendo mais com as manifestações culturais que vão brotando por esse país fora.
Perguntarão os leitores que bicho me terá mordido para que eu hoje me tenha posto a debitar sobre esta matéria. E perguntam bem, já que raramente trago este assunto à baila nas inúmeras crónicas que aqui vou colocando; e para que esta escolha fique esclarecida, digo já que há razões para que eu o esteja a fazer. Reparem no plural usado e logo entenderão que eu devo ter algo para contar e opinião para dar sobre aquilo que me espicaçou.
Para encurtar, devo dizer que por razões várias tive de me deslocar num curto período de tempo a cidades do interior que conheço razoavelmente, mas nas quais sempre vou encontrando qualquer coisa de novo para ver e para me admirar, admirando-as.
Refiro-me especificamente a Évora, Tomar e Torres Novas, onde tive oportunidade de assistir a espectáculos magníficos de que já dei registo neste meu blog.
No entanto, o tema desta crónica tem a ver com a inauguração em 20 de Abril de 2007, da Casa-Estúdio Carlos Relvas na Vila da Golegã, após as demoradas obras de conservação e beneficiação que ali ocorreram.


Carlos Relvas nasceu na Golegã, no dia 13 de Dezembro de 1838, filho do abastado lavrador, presidente da Câmara e procurador da Junta Geral do Distrito José Farinha Relvas de Campos, e foi registado com o nome de Carlos Augusto de Mascarenhas Relvas e Campos.
Casou com D. Margarida Amália Mendes de Vasconcelos, filha dos condes de Podentes, com a qual teve 4 filhos. Por morte desta voltou a casar em segundas núpcias com Mariana Pinto Correia Relvas, contra a vontade de seus filhos, especialmente de seu filho José que viria a abandonar os ideais monárquicos de seu pai e a abraçar os ideais republicanos, sendo ele quem proclamou publicamente a República em 5 de Outubro de 1910, nos Paços do Concelho em Lisboa, exercendo depois funções governativas.
Com apenas 16 anos foi nomeado fidalgo cavaleiro da Casa Real. O rei ofereceu-lhe o título de barão e, mais tarde, o de visconde, mas Carlos Relvas recusou sempre essas mercês. Comendador da Ordem de Nossa Senhora da Conceição do Vila Viçosa.
Carlos Relvas foi repórter fotográfico de 1ª categoria, inventor de sucesso, músico, lavrador, cavaleiro tauromáquico e mestre de equitação, jockey de cavalos de corrida, hábil atirador de pistola e de carabina, dextro jogador de pau, de florete e de sabre. Possuidor de cavalos magníficos, sabia ensiná-los a primor. Toureou a cavalo e a pé; sempre em festas de caridade, para as quais não recusava nunca o seu concurso. A última tourada em que tomou parte foi no Verão de 1893, a favor das vítimas do ciclone dos Açores. Mandou construir na Golegã uma praça de touros, que se inaugurou com uma corrida em benefício do hospital daquela vila.




Em 1880 assistiu a um naufrágio na barra do Douro, o que o levou a estudar a maneira mais rápida e segura de acudir aos náufragos. Durante três anos não descansou, e nos fins de Outubro de 1883 dirigiu ao ministro da Marinha um requerimento, apresentando o barco salva-vidas da sua invenção. No dia 7 de Novembro desse ano realizou-se a experiência na Foz do Douro, com tripulação comandada por Carlos Relvas. Duraram uma hora essas experiências, que mostraram as vantagens incontestáveis do salva-vidas Relvas sobre os salva-vidas existentes. Pelas suas características passou a ser conhecido pelo nome de «sempre em pé» e foi pintado por Malhoa.


A paixão pela fotografia foi adquirida já adulto (pode dizer-se que se iniciou nessa arte aos 24 anos) durante as suas frequentes viagens à Europa. Carlos Relvas era um viajante, já que nessa época, correu mundo - China, Japão, Índia, Estados Unidos e toda a Europa.
Carlos Relvas criou o primeiro estúdio fotográfico de raiz em Portugal e é considerado o primeiro fotógrafo amador do país. Muitas das suas fotografias e dos seus instantâneos figuraram em várias exposições nacionais e estrangeiras.


Carlos Relvas era membro da Sociedade Francesa de Fotografia e obteve medalhas nas exposições dessa sociedade, de 1870, 1874 e 1876. Alcançou outros prémios, de que destaco –
1873 - Medalha do Progresso, em Viena de Áustria,
Medalha de prata, em Madrid,
1875 – Medalha de prata da Sociedade Fotográfica, Viena de Áustria,
1876 – Medalha, em Filadélfia,
Primeiro prémio, na Exposição de Amesterdão,
Cruz de Bronze dourado, na exposição hortícola do Palácio de Cristal do Porto, 1877 - Medalha de ouro, na Exposição do Porto,
Medalha de ouro na Exposição da União Central de Artes Decorativas no Palácio da Industria em Paris.
Inicialmente, Carlos Relvas usava um processo que suplantava todos os métodos existentes (que usavam clara de ovo); o chamado processo do "colódio úmido", veio resolver a dificuldade até aí existente (quando se usava o vidro como base do negativo), que era encontrar-se algo que contivesse, numa massa uniforme, os sais de prata sensíveis à luz, para que não se dissolvessem durante a revelação. O único inconveniente deste método era a necessidade de sensibilizar, expor e revelar a chapa num curto espaço de tempo.
Carlos Relvas tinha um espírito curioso e inventivo, visitava estúdios fotográficos da Europa e possuía uma biblioteca de 4.000 volumes. Pelo que não é estranho que fosse acompanhando toda a evolução da técnica fotográfica. Por isso, em 1875 introduziu em Portugal a fototipia, processo fotográfico de Jacobi de Neuerdorf, que consistia na impressão com tinta forte em meio de gelatina bicromada e exposta ao sol, técnica que marcou a substituição do colódio pela gelatina (embora se fale de colódio seco).
Era respeitado e estimado pelo seu carácter franco e bondoso; muito caritativo e esmoler, tornou-se na Golegã o verdadeiro pai dos pobres, segundo dizem jornais da época.
Morreu em 23 de Janeiro 1894, num acidente de cavalo.

O atelier fotográfico Carlos Relvas na Golegã, foi construído entre 1872 e 1875, com os recursos financeiros da sua fortuna pessoal, segundo projecto de Henrique Carlos Afonso e idealizado pelo próprio Carlos Relvas.

Uma construção original em termos de arquitectura europeia, em que foram utilizados mais de 30 mil quilos de ferro. A sua arquitectura lembra uma igreja precisamente para parecer um templo, um templo da fotografia. A fachada principal aparece-nos ladeada por dois baptistérios (que correspondem interiormente aos laboratório de claro e escuro) e apresenta um baixo relevo representando um cavalo marinho e por cima um janelão enquadrado pelos bustos de Niépce e Daguerre e um pouco mais acima uma rosácea ladeada por anjos que seguram câmaras fotográficas. Construído em estilo neo-gótico, mas com muito da arquitectura industrial de então, com motivos de inspiração muçulmana nos estuques, conta com um amplo estúdio completamente envidraçado no piso superior, com uma luz natural soberba, coada através de panos brancos controlados manualmente, com uso de roldanas.

O acesso dos clientes fazia-se quer pelas escadarias laterais, quer pela belíssima escada de caracol em madeira, vinda de Itália. O chão da casa foi revestido a mosaicos importados de França.

Em 1870, mandou construir um belo jardim romântico em volta da casa estúdio, para onde Carlos Relvas chegou a trazer árvores das viagens que fez pelo mundo.
Em 1887, Carlos Relvas, foi obrigado a habitar o estúdio, por incompatibilidades com o filho José, em consequência de partilhas e antagonismo político, decorrendo daí a destruição da singular tipologia do atelier. Só a Galeria norte manteve intacta a sua ossatura original de ferro e vidro de forma a permitir a continuidade da actividade fotográfica de Carlos Relvas.


Hoje este magnífico edifício é considerado monumento nacional, como se lê no Diário da República, com a data de 6 de Março de 1996, no Anexo I, com o título «Monumentos nacionais» - Casa-Museu de Carlos Relvas, também denominada «Casa-Estúdio de Carlos Relvas», «Atelier de Carlos Relvas» ou «Museu de Fotografia de Carlos Relvas», incluindo os seus jardins e recheio, no Largo de D. Manuel I e na Rua de José Farinha Relvas, Golegã, freguesia da Golegã.
A Casa-Estúdio Carlos Relvas que esteve à beira da degradação total e da ruína, com todo o seu espólio de cerca de 10.000 negativos e positivos fotográficos, adereços, mobílias e aparelhagem, encontra-se hoje completamente recuperada (salvo as peças já irrecuperáveis), graças à intervenção e combatividade da Câmara Municipal da Golegã, com o apoio do IPPAR e a ajuda recente do Instituto Português de Museus. Estas entidades estão de parabéns. No passado dia 22 de Fevereiro de 2008, foi assinado um protocolo entre a Câmara da Golegã e o Instituto Politécnico de Tomar, com vista à criação do Centro de Estudos de Fotografia que ficará instalado num anexo construído junto à Casa Estúdio para albergar o espólio fotográfico de Relvas.
Mal fora que se tivesse deixado continuar a caminho da ruína esta obra arquitectónica única no mundo e se deixasse no esquecimento a figura de Carlos Relvas, personalidade multifacetada de artista, inventor, desportista, lavrador, que era um verdadeiro gentleman rider e gentleman farmer (como diz José Veiga Maltez, presidente da Câmara da Golegã).
Aconselho a todos a visita, tendo a certeza que vão gostar e que serão surpreendidos agradavelmente por verdadeiras preciosidades que aqui, e de propósito, não referi.


Este post substitui o colocado em Março de 2008, com o mesmo nome

segunda-feira, julho 12, 2010

música e humor, em tempo de crise

Gidon Kremer, de família de judeus alemães, nasceu em Riga. Violinista e maestro. Abandonou a Rússia e foi viver para a Alemanha. Premiado em vários concursos internacionais, fundou em 1981, o Festival de Música de Câmera de Lockenhaus (Austria), destinado a música moderna e pouco convencional. O Festival de 1992 ficou conhecido como "Kremerata Musica" e em 1996, fundou com jovens músicos da região Báltica, a Orquestra de Câmera Kremerata Baltica. Foi um dos directores do festival "Art Projekt 92" de Munique e é director do Festival Musiksommer, em Gstaad (Suiça). Em 2008, realizou um tour com a sua orquestra, juntamente com o duo Igudesman & Joo. É deste tour que eu vos deixo a interpretação de «We will survive».
Gidon Kremer e a Kremerata Baltica, Aleksey Igudesman e Richard Hyung-ki Joo, tentam juntar a música e o humor, como representação da «Ascenção e Queda da Música Clássica». Eles assinam um manifesto em que afirmam vivermos numa época em que a economia de mercado tiraniza a arte e a qualidade da arte é medida pelo número de vendas. O que conta é o volume das vendas, o posicionamento nos top tens, chegando-se à errónea ideia de que o mais popular é o melhor e em que todos os artistas querem ser superstars.

sexta-feira, julho 09, 2010

um momento de magia em tempo de crise

Depois do humor, um pouco de magia, daquela que nos deixa com os olhos em bico, porque estivemos atentos, nada se passou, não nos apercebemos de nada e eis que a magia está ali à nossa frente.
Não temos dúvida que é truque, mas não sabemos explicar.
E, de repente, desejamos que se pudesse fazer o mesmo com a crise.

quarta-feira, julho 07, 2010

um momento de humor em tempo de crise

Em tempo de crise precisamos muito de momentos que nos façam rir e descarregar as raivas e raivinhas acumuladas. Isto não significa que com isso possamos esquecer as preocupações e a obrigação que temos de contribuir com uma parcela, mesmo que mínima, para a solução desejada e necessária dos problemas que nos afectam. Mas para que isso seja mais fácil e possível, necessitamos de estar bem, sem stress ou tensões acumuladas. É aqui que o humor pode entrar e dar uma ajuda.
Encontrei no YouTube este sketch em que Bruno Nogueira no seu programa Lado B entrevista virtualmente Marcelo Rebelo de Sousa. Vejam e ouçam esta mistura explosiva de bom humor. Tenho a certeza que Marcelo riu muito quando o viu.

terça-feira, julho 06, 2010

atlântida ou lemúria? ou nem uma nem outra?


Desde 1995, mergulhadores e cientistas japoneses estudam uma das mais importantes descobertas arqueológicas do planeta, localizada a alguns quilómetros da ilha de Yonaguni - os restos submersos de uma cidade muito antiga.
Em 1997, o Dr. Masaaki Kimura, professor da Universidade de Ryûkyû, PHD em geologia marinha, publicou A Continent Lost In The Pacific Ocean, onde defende a teoria da civilização submersa. Em 4 de Maio de 1998, a ilha e as ruínas foram sacudidas por um terramoto.
Ao longo de mais de uma década foram localizadas oito grandes estruturas feitas pelo homem, incluindo uma enorme plataforma com mais de 200m de comprimento, uma pirâmide no estilo das aztecas e maias, com 5 andares e alinhadas de acordo com os pontos cardeais, uma pedra mostrando a existência de escrita, conhecida agora como a Roseta de Okinawa e ferramentas várias.


Submersa, 18 metros abaixo da superfície, surge uma cabeça megalítica, um rosto de pedra gasto pela erosão das águas que faz lembrar as cabeças de pedra de Moais, no Pacífico ou de La Venta, Golfo do México.
Muitos falam em Atlântida (quarta raça, na teoria geológica do Catastrofismo), outros em Lemúria ou Mu, ainda mais antiga, chamada pelos esotéricos de civilização da Terceira Raça (a do esqueleto cartilaginoso e um terceiro olho na nuca).
Este apontamento que aqui deixo servirá apenas para aqueles que se interessam por estes assuntos mas, mesmo assim, penso que o devo divulgar para aqueles que se interessam com estes assuntos do desconhecido. E esses terão muito que averiguar, uma vez que o que aqui fica é apenas um tópico para início de pesquisa. Que alguém a faça, já que eu não a farei.