quarta-feira, agosto 17, 2011

mais um tiro no pé, senhor presidente


No Espaço público do Jornal Público do passado dia 10 de Agosto, publicou Arnaldo Saraiva (ensaísta, professor catedrático jubilado da Universidade do Porto), um magnífico artigo sobre a já habitual e esperada pontaria dos tiros decisórios do senhor presidente da República.
Porque entendo que se trata de um artigo que merece a atenção de todos, curto, incisivo e bem escrito, aqui o deixo para aqueles que visitem este blog.
Os tiros no pé não costumam ser mortais, mas são muito dolorosos e, quando frequentes, diminuem consideravelmente a base de sustentação do atirador.

«Para que serve o Conselho de Estado? Trata-se do "órgão político de consulta do Presidente da República", mas podemos pôr em causa a sua necessidade, a sua utilidade e a sua constituição; podemos perguntar-nos se ele não serve apenas para aumentar o número de artigos ou de páginas da Constituição (parte III, título II, cap. III, art.os 141-146), de leis (31/84; de 6/9) ou a burocracia, regalias, despesas e algumas projecções balofas.
Será que sem o Conselho de Estado o Presidente da Re­pública não poderia consultar e convocar, individual ou colectivamente, os que por inerência fazem parte desse Conselho - os presidentes da Assembleia da República, do Tribunal Constitucional e dos governos regionais, os antigos presidentes da República, o provedor da Justiça - e 10 "cidadãos" escolhidos pelo próprio Presidente da República e pelos partidos?
Será que sem o Conselho de Estado não haverá "ho­mens bons" ou boas mulheres para aconselhar o Presi­dente em tempos de paz e de guerra?
O que se sabe da história do Conselho de Estado, dá-o como uma desnecessária extensão da Assembleia da República, ou então como um ainda mais inútil poleiro dos partidos maioritários. Mas a constituição do actual Conselho de Estado, agora que Cavaco Silva indicou os 5 membros que por lei lhe competia indicar, pode suscitar reflexões expressivas.
Notemos por exemplo que ele só tem duas mulheres (Assunção Esteves e Leonor Beleza); que não tem ninguém à esquerda dos 5 socialistas (Mário Soares, Jorge Sampaio, Carlos César, Manuel Alegre e António José Seguro); que, com a excepção de Luís Filipe Menezes e dos presidentes das regiões autónomas, não tem ninguém de fora de Lis­boa; que não tem ninguém que represente a Igreja Católica (cuja importância histórica os políticos, mesmo os ateus e os agnósticos, costumam assinalar, supostamente sem hipocrisia); que não tem ou só tem um representante ge­nuíno da chamada "inteligentsia" sem política - das artes, das letras, da sociologia, da história, etc.
Se à partida havia o condicionamento legal e talvez discutível das inerências, se os partidos escolhem co­mo regra gente dos partidos - como se um Conselho de Estado devesse reger-se por uma lógica partidária -, competiria sobretudo a Cavaco Silva tentar estabelecer um pouco mais de equilíbrio ou de representatividade simbólica na constituição do órgão que o deve aconselhar, e em que seria à primeira vista proveitosa ou fecunda a existência de vozes bem distintas.
Mas não: ele escolheu João Lobo Antunes, Marcelo Rebe­lo de Sousa, Leonor Beleza, Vítor Bento, Bagão Félix. Quer dizer: escolheu só gente da sua área ideológica, engordou ainda mais a representatividade do PSD - que já tinha o poder de um Presidente, de um primeiro-mínistro e de uma maioria -, lisboetizou ainda mais um Conselho que ganharia em ter maior representatividade nacional, privi­legiou ainda mais a política dos políticos (sem se dar conta de que a política é coisa demasiado séria para que possa ser confiada apenas aos políticos profissionais), mostrou-se desatento lá onde poderia ser clarividente - por exemplo, recuperando Gomes Canotilho, que, por conveniências partidárias, deixou de fazer parte do Conselho, ou esco­lhendo um homem como o que ao longo de décadas mais e melhor pensou sobre Portugal, Eduardo Lourenço.
O Conselho de Estado vale o que na realidade vale, mas vale também simbolicamente. Como presidente desse Conselho e Presidente de Portugal, Cavaco Silva, que outrora escolheu Dias Loureiro para o Conselho de Estado, acaba de dar mais um tiro no pé - dele e dos portugueses».

segunda-feira, agosto 15, 2011

mentalmente gordos



Na década de 60 e mesmo na de 70, usei muito no meu vocabulário a expressão «mentalmente gordo», quando me referia a certas pessoas pelas quais não nutria qualquer afecto e nenhuma consideração intelectual. Não sei, de todo, como me surgiu tal formulação crítica, mas sei, seguramente que a não fui beber a qualquer fonte escrita ou ouvida a que tenha tido acesso. Sei, portanto, que foi uma criação minha. Já em 2010 tomei conhecimento por um mail que recebi que João César das Neves (por quem tenho respeito intelectual, mas com quem concordo raramente) tinha publicado no Diário de Noticias de 22/03/2004, uma crónica intitulada »Obesidade Mental». Li esse texto e concordei. Pensei, nessa altura, reproduzi-lo neste meu blog mas, feita pesquisa acerca do autor do livro referido encontrei muita controvérsia e pouca clareza, não ficando segura para mim a existência de tal livro. O tempo também não me permitiu ampliar a procura e, passado pouco tempo, não me lembrei mais do caso.
Quis o acaso que há poucos dias me tivesse vindo parar à minha caixa de correio electrónico, nova transcrição do citado artigo e, desta vez, resolvi reproduzi-lo, não porque concorde com tudo (estou longe de apoiar a crítica às classes visadas, globalmente), mas por me parecer merecer a leitura de quem o venha encontrar aqui e possa serenamente pensar sobre a matéria e tecer a merecida crítica.. E, evidentemente, porque fez renascer em mim aquela frase categorial que tanto usei, naturalmente, sem a ter ido buscar a alguém.

«O prof. Andrew Oitke, catedrático de Antropologia em Harvard, publicou em 2001 o seu polémico livro “Mental Obesity”, que revolucionou os campos da educação, jornalismo e relações sociais em geral. Nessa obra introduziu o conceito em epígrafe para descrever o que considerava o pior problema da sociedade moderna.
Há apenas algumas décadas, a Humanidade tomou consciência dos perigos do excesso de gordura física decorrente de uma alimentação desregrada. É hora de reflectir sobre os nossos abusos no campo da informação e do conhecimento, que parecem estar dando origem a problemas tão ou mais sérios do que a barriga proeminente. "
Segundo o autor, "a nossa sociedade está mais sobrecarregada de preconceitos do que de proteínas; e mais intoxicada de lugares-comuns do que de hidratos de carbono. As pessoas viciaram-se em estereótipos, em juízos apressados, em ensinamentos tacanhos e em condenações precipitadas.Todos têm opinião sobre tudo, mas não conhecem nada. "
"Os 'cozinheiros' desta magna “fast food” intelectual são os jornalistas, os articulistas, os editorialistas, os romancistas, os falsos filósofos, os autores de telenovelas e mais uma infinidade de outros chamados 'profissionais da informação'".
"Os telejornais e telenovelas estão se transformando nos hamburgers do espírito. As revistas de variedades e os livros de venda fácil são os “donuts” da imaginação. Os filmes se transformaram na pizza da sensatez."
"O problema central está na família e na escola. " "Qualquer pai responsável sabe que os seus filhos ficarão doentes se abusarem dos doces e chocolates. Não se entende, então, como aceitam que a dieta mental das crianças seja composta por desenhos animados, por videojogos que se aperfeiçoam em estimular a violência e por telenovelas que exploram, desmesuradamente, a sexualidade, estimulando, cada vez com maior ênfase, a desagregação familiar, o homossexualismo, a permissividade e, não raro, a promiscuidade.
Com uma 'alimentação intelectual' tão carregada de adrenalina, romance, violência e emoção, é possível supor que esses jovens jamais conseguirão viver uma vida saudável e regular".
Um dos capítulos mais polémicos e contundentes da obra, intitulado "Os abutres", afirma: "O jornalista alimenta-se, hoje, quase que exclusivamente de cadáveres de reputações, de detritos de escândalos, e de restos mortais das realizações humanas. A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular."
O texto descreve como os "jornalistas e comunicadores em geral se desinteressam da realidade fervilhante, para se centrarem apenas no lado polémico e chocante".
"Só a parte morta e apodrecida ou distorcida da realidade é que chega aos jornais."
"O conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades. Todos sabem que Kennedy foi assassinado, mas não sabem quem foi Kennedy. Todos dizem que a Capela Sistina tem teto, mas ninguém suspeita para quê ela serve. Todos acham mais cómodo acreditar que Saddam é o mau e Mandella é o bom, mas ninguém se preocupa em questionar o que lhes é empurrado goela abaixo como "informação".
Todos conhecem que Pitágoras tem um teorema, mas ignoram o que é um “cateto.”
Prossegue o autor: "Não admira que, no meio da prosperidade e da abundância, as grandes realizações do espírito humano estejam em decadência.
A família é contestada, a tradição esquecida, a religião abandonada, a cultura banalizou-se e o folclore virou "mico". A arte é fútil, paradoxal ou doentia.
Floresce, entretanto, a pornografia, o cabotinismo (aquele que se elogia), a imitação, a sensaboria (sem sabor) e o egoísmo.
Não se trata nem de uma era em decadência, nem de uma 'idade das trevas' e nem do fim da civilização, como tantos apregoam. " "Trata- se, na realidade, de uma questão de obesidade que vem sendo induzida, subtilmente, no espírito e na mente humana. O homem moderno está adiposo no raciocínio, nos gostos e nos sentimentos.
O mundo não precisa de reformas, desenvolvimento, progressos.
Precisa sobretudo de dieta mental.»

sábado, agosto 13, 2011

quem fala assim não é gago

Escrevi recentemente um texto neste blog, sob o título «o mais escandaloso do escândalo», em que concluía, ou receava, que progressivamente nos fôssemos habituando àquilo que nunca devia deixar de nos escandalizar.
Quando hoje, regressado de pequeníssimas férias transmontanas, li uma crítica ao discurso que o Bastonário da Ordem dos Advogados proferiu há alguns meses no Supremo Tribunal de Justiça, em que o crítico alegava que muito bem ele falava e protestava, mas que, em verdade, o que era preciso era reagir, levantar o traseiro do confortável assento e agir. E criticava como se, efectivamente, a crítica já não tivesse lugar e até fosse abrigo de quem não quer agir.
Não posso concordar com tal ponto de vista. É verdade e ninguém de bom senso o contestar+á, que é preciso agir e lutar. Mas não se pode criticar quem, como Marinho Pinto, perante tal assistência, tão frontalmente acusou. Eu penso que, em verdade, ele agiu, fazendo aquilo que não deixava de ser uma tarefa ingrata, mas necessária, a que, com coragem, não se esquivou. Teriam todos igual coragem de o fazer, inclusive o crítico que hoje li?.
Agir é fundamental. Mas falar aberto, denunciar as coisas erradas e escandalosas em toda a parte e diante alguns dos principais responsáveis é agir duplamente - mostrar coragem e aliciar todos que com ele concordem.
Penso que, apesar do tempo já passado, vale a pena deixar aqui esse discurso para quem o não ouviu e para o recordar àqueles que já o conhecem.

quinta-feira, agosto 04, 2011

brincando aos extra-terrestres



É frequente receberem-se mails com fenómenos estranhos, tão estranhos e improváveis, que não se percebe como a mão humana ou outro estranho artífice os poderia fazer. E, nestes casos, é invariável a afirmação ou a simples sugestão de que foram ou só poderiam ter sido, os extra-terrestres. E, quando não é isto, são achados da civilização inca. Sou muito resistente a aderir à hipótese de haver OVNIS, extra-terrestres e outras galáxias habitadas por seres vivos. Admito que esta atitude possa ser considerada pouco aberta e esclarecida, pouco científica e sobretudo, pouco fundamentada. E aceito esse julgamento, já que não fundamento a minha posição senão na dúvida que se me põe de não conseguir entender a razão porque esses seres (a havê-los) não se mostravam pura e simplesmente, sabedores que seriam de estarem mais avançados do que nós e nada poderem recear, uma vez que eles podiam vir até nós e não somos capazes de ir até eles e o fazem em velocidades estonteantes e nós temos ido não muito longe e sem aquela rapidez e simplicidade de métodos.
Por isso, quando hoje encontrei na Visão uma notícia que parece vir esclarecer cientificamente o problema, senti-me acompanhado e mais animado na minha incredulidade , por sso, não resisti a deixar aqui essa not+iicia e a imagem que abre este post.

«O físico Richard Taylor e a sua equipa da Universidade de Oregon analisaram as figuras geométricas perfeitas e cada vez mais complexas desenhadas em várias plantações, e concluíram que são feitas com recurso a lasers, micro-ondas e GPS.

«Publicado na revista Physics World, o estudo de Taylor encontrou mesmo um complicado teorema matemático num dos padrões desenhados numa plantação britânica, no que descreve "o movimento de arte mais orientado pela ciência da história". Até agora já foram documentadas duas mil formas diferentes.

O "fenómeno" surgiu nas últimas décadas do século XX, intrigando a comunidade internacional e levando ao surgimento das teorias de que os desenhos seriam obra de extra-terrestres. Em 1991, no entanto, dois homens reivindicaram a autoria de alguns dos padrões conhecidos até então.

Segundo a equipa de Richard Taylor, as figuras poderão ser conseguidas usando micro-ondas para fazer tombar as plantações rápida e eficazmente.

Seja esta a teoria correta ou não, é certamente mais científica do que aquela que fez furor na Internet na semana passada: a de que um círculo encontrado na Tanzânia, em 2009, teria sido obra de um grupo de animais da família do canguru, que, depois de terem ficado "pedrados" numa plantação legal de ópio, teriam andado aos círculos...»
Ler mais: http://aeiou.visao.pt/ainda-o-misterio-dos-circulos-nas-plantacoes=f616312#ixzz1U4zEgMU3

terça-feira, agosto 02, 2011

a arte está no artista, não no instrumento



Quando se pensa em castanholas, pensa-se em flamengo, em salero, em vestidos vermelhos com bolas pretas aos folhos, em peinetas, em orgulho espanhol, em raça gitana, mas creio que, nunca, em música.
Pelo menos, até hoje assim era comigo. Mas, agora, depois de ver e ouvir esta magistral demonstração de arte e raça de Lucero Tena acompanhada por orquestra sinfónica dirigida pelo maestro Enrique García Asensio, no Auditorio Nacional de Música, em Madrid, a minha opinião é outra e as castanholas ganharam definitivamente estatuto de instrumento musical.
A classe interpretativa desta professora do Conservatório de Madrid, que pertenceu à Companhia da grande Carmen Amaya e a quem Joaquin Rodrigo dedicou Dos Danzas Españolas e já teve a honra de ser dirigida por directores de orquestra de grande craveira como Mstislav Rostropóvich, por exemplo, ressalta em cada segundo da sua longa interpretação, nos sons obtidos, no gestual que os acompanha, na força interior que se adivinha.
Em tudo isto ressalta ainda, pela estranheza, que Lucero Tena não seja espanhola, mas mexicana, mostrando que quando a arte é grande ela está bem lá dentro de cada um.
Eu gostei. Espero que gostem ver e ouvir a sua interpretação no Intermedio de La boda de Luís Alonso, de J Gimenez, quando Lucero Tena tinha já 69 anos.

segunda-feira, agosto 01, 2011

recordando brito camacho


Manuel Brito Camacho, Um Médico da República
Mais político, do que Médico
por
Carlos Vieira Reis
Historiador Aprendiz

Falar sobre Brito Camacho e apresentá-lo a quem nos ouve pode ser aliciante, mas não é tarefa fácil. Não só pela multiplicidade das facetas que o caracterizam, como pela pouca clareza de algumas, pelos traços da sua personalidade, suas razões ou consequências, pela dúvida sobre qual foi a sua verdadeira profissão, se aquela para a qual a Universidade o preparou ou se aquela para onde uma paixão o arrastou, saber esclarecer quem era ele na verdade, se o orador inflamado, ou o panfletista, o escritor político ou o observador atento de viagens, o zelador escrupuloso do bem comum ou também um aproveitador de benesses, se o injustiçado ou o apagado servidor dos homens e da pátria?
Quem foi realmente Brito Camacho? O que o guiava, o que pretendia, porque lutava?
Foram todas estas questões que ora enunciei, que me coloquei antes de começar a escrever fosse o que fosse. Mas se levantei essas dúvidas e quis, desde sempre, conduzir as minhas palavras pelos carris da linha de pensamento que iria construir para esta viagem através da vida de um vulto histórico da República, que isso indubitavelmente é, rapidamente me apercebi que teria de arrepiar caminho e ficar-me pela singeleza de uma nota histórica que se poderia ler em qualquer enciclopédia, apenas pintalgada ou sarapintada de uns borrifos de novidade, de chamadas de atenção para isto ou para aquilo, aqui ou ali, em todo sítio que o pudesse fazer, pois, a ser de outra forma, a palestra poderia chegar ao fim mas seria já sem ouvintes, se considerar-mos a dimensão com que ficaria.
Percebi que para mostrar Brito Camacho tal como o desejava fazer, teria que dividir a sua vida em capítulos e tratar cada um deles isoladamente e desgarrados do resto. Mas, para assim fazer, nunca poderia ser hoje, numa conversa generalista como esta vai ser e que, sem convicção, espero que todos ouçam sem grande enfado.
Digamos que tenho que apresentar este monólogo como se fosse uma história que se conta e nada mais do que isto.
Sendo assim, terei que começar esta charla dizendo – Era uma vez
Um casal de lavradores alentejanos, ele Manoel de Brito Camacho, ela D. Maria Bárbara, que viviam e trabalhavam no Monte das Mesas da aldeia de Rio de Moinhos, concelho de Aljustrel, a quem no dia 12 de Fevereiro de 1862, nasceu um filho a quem deram o nome de Manuel Brito Camacho Júnior.


Não sei qual a razão, se por vontade do pai ou por sua morte, o certo é que aos 14 anos de idade este jovem, então estudante, deixou de usar o Júnior com que foi registado e passou a usar apenas o nome de Manuel de Brito Camacho.


Em vários lados se lê que terá tido um meio-irmão, cinco anos mais novo, que se chamou Inocêncio Camacho Rodrigues e que teve um futuro risonho, apenas ensombrado durante o seu mandato como governador do Banco de Portugal, pelo escândalo causado pelas burlas de Alves dos Reis. Não creio, contudo que isto seja verdade, a menos que a criança tenha sido registada em nome do marido da mãe, sendo verdadeiro pai Brito Camacho. De facto, encontra-se registado como filho de Manuel do Carmo Rodrigues da Costa e de sua mulher Genoveva Máxima Camacho.
Manuel de Brito Camacho fez os estudos primários em Aljustrel e no Liceu em Beja, sendo um bom e aplicado aluno, nada mais merecendo especial realce.

Fez os Estudos Preparatórios na Escola Politécnica em Lisboa e depois ingressou na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, onde se licenciou em 1884. Também aqui podemos dar esta informação telegráfica e considerá-la bastante.
Casou com Maria da Luz Nunes, uma filha do Dr. José Jacinto Nunes, Senador da República e presidente das Câmaras de Torres Vedras, Abrantes e Grândola figura grada em todas as regiões onde exerceu a profissão e a política autárquica, o que, de certo modo, indica que Brito Camacho tinha já alguma consideração a nível da burguesia e fez um casamento socialmente benéfico para ele.
Foi um casamento curto e infeliz, pois terminou com a morte de sua mulher durante o parto da única filha do casal a que se seguiu a morte desta, algum tempo depois. O enorme desgosto então sofrido pelo desaparecimento súbito da sua jovem esposa e da sua única filha, parece ter moldado o carácter de Brito Camacho, fazendo dele um homem duro, triste, revoltado e, por vezes, pouco sociável.




Logo após a sua licenciatura em Medicina iniciou a sua vida de médico no Alentejo, em Torrão. A sua actividade médica foi curta, muito curta mesmo, parecendo seguro ter preferido a escrita e a política à medicina, desviando-se assim daquela que, supostamente, iria ser a sua profissão.
Começou a escrever no jornal «Nove de Julho», folha política, litterária e noticiosa, que se editava em Beja, desde 1885.
Apesar disso, ainda ingressou no Quadro Permanente dos Médicos Militares em 23 de Abril de 1891, mas logo em 18 de Abril de 1895 solicitou a passagem à Inactividade temporária sem vencimento e em 11 de Julho de 1897 acabou por requerer a sua demissão, o que o Rei prontamente deferiu, podendo levantar-se aqui a hipótese deste deferimento rápido do rei ter a ver apenas com as ideias republicanas de Brito Camacho e os ataques que frequentemente dirigia à monarquia e ao rei.
Neste curto período de seis anos que durou a sua verdadeira carreira de médico militar, teve um processo disciplinar e um ano de suspensão de funções e foi transferido para os Açores.
Regressou em 1894 e foi colocado em Viseu.
Iniciou então colaboração regular na imprensa. Fundou, com Ricardo Pais Gomes e Ribeiro de Sousa, O Intransigente, jornal de crítica política e propaganda republicana que se publicou até Junho de 1895.
Nos anos de 1896 e 1897 dedicou-se à publicação e à colaboração com periódicos republicanos e desenvolveu em Évora intensa acção política, realizando conferências e inúmeros comícios.
Em 1902 apresentou uma tese de doutoramento na Universidade de Paris e em 1904 ainda concorreu a Professor da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa. Tanto quanto se sabe, não chegou a concluir nenhum destes projectos, nem se vislumbram os objectivos de tais esporádicas e falhadas incursões na Medicina e, muito menos a razão da escolha de Paris.
Em 1906, fundou, com outros, o periódico republicano A Lucta, que iniciou publicação no dia 1 de Janeiro. A Lucta foi o mais influente periódico republicano e, tempo depois, transformou-se no órgão oficioso do Partido Unionista.



Foi no Centro Socialista das Amoreiras que fez a sua primeira conferência política intitulada «A coroa substituída pelo chapéu alto».
Foi eleito deputado pela oposição republicana, nas eleições que se realizaram a 5 de Abril de 1908, após o Regicídio.
Falou pela primeira vez na Câmara de Deputados a 9 de Maio, protestando contra o facto de o terem obrigado, como deputado, a jurar manter uma religião que não professava e a ser fiel a uma instituição que combatia; e, logo então, apresentou um projecto de lei que visava abolir em todas as instâncias o juramento político. No Parlamento e na imprensa foi o grande defensor do derrube da monarquia e um dos líderes do movimento de opinião pública que criou as condições para a implantação da República Portuguesa a 5 de Outubro de 1910.
Em Agosto de 1909 tomou parte activa na organização das manifestações promovidas pela Junta Liberal de Miguel Bombarda. Foi dele que Brito Camacho recebeu as últimas indicações revolucionárias, a 3 de Outubro de 1910, quando aquele foi vítima mortal de um atentado.




As suas relações com o Almirante Cândido dos Reis, chefe militar do movimento insurreccional e com outros oficiais do Exército e da Marinha, permitiram a Brito Camacho, médico militar, ser um interlocutor privilegiado entre políticos e militares.
Foi um dos protagonistas da cisão do Partido Republicano Português (PRP), que originou os três principais agrupamentos políticos do novo regime - o Partido Democrático (Afonso Costa), o Partido Evolucionista (António José de Almeida) e o Partido da União Republicana ou Unionista (Brito Camacho).


Esta sua posição política, como líder e chefe de um dos principais partidos de então, levaram naturalmente à sua entrada para o Governo ou, pelo menos, a fazer dele um influente homem político.
Não é de estranhar, podendo até ajudar a que se perceba o comportamento político de agora, que o Governo tenha promulgado um Decreto, logo em 21 de Novembro de 1910, publicado na Ordem do Exército n.º 9, 2.ª série, que considerava Brito Camacho reintegrado nos quadros do Exército, no posto de capitão, contando a antiguidade desde 19 de Julho de 1901 e passando a ser promovido regularmente, ao longo da vida, até ao posto de Coronel Médico.
Este Decreto foi assinado por Joaquim Theófilo Braga, António José d’Almeida, Affonso Costa, José Relvas, António Xavier Corrêa Barreto, Bernardino Machado e António Luiz Gomes, para o qual tomo a liberdade de chamar a vossa atenção e que era do seguinte teor:


«Entre o grupo distincto dos mais ardentes servidores da Republica Portugueza, que como irrisória compensação, ainda hoje estão soffrendo as consequências da sua patriótica iniciativa, devotada isenção e inquebrantável amor pela causa pública, figura em vantajoso destaque o ex-cirurgião ajudante do regimento de artilheria n.º 2, Manuel de Brito Camacho.
Há cerca de vinte annos que este benemérito cidadão tem dedicado, com exclusivo e perseverante ardor, ao serviço e pública propaganda do ideal republicano, as melhores energias do seu carácter e os maiores fulgores do seu talento. Desde os seus artigos no extincto jornal Nove de Julho, até aos seus trabalhos brilhantes como conferencista, orador e organisador de núcleos de resistência contra o decaído regímen monarchico, e ainda ultimamente a diffusão esclarecida e methodica dos princípios democráticos feita entre as classes mais illustradas da sociedade portugueza pelo seu apostolado admirável no jornal A Lucta, Manuel de Brito Camacho tem-se revelado sempre como um dos mais arrojados, confiantes e leaes cooperadores n’essa obra grandiosa de saneamento e justiça que acaba de emancipar a Pátria Portugueza.
A collaboração de Manuel de Brito Camacho no jornal Nove de Julho e a apresentação da sua candidatura como deputado republicano, valeram-lhe a imposição d’uma grave pena disciplinar, que o levou, depois, com justificado desgosto, a demittir-se do exercito.
É agora um dever elementar de equidade reparar a injustiça feita e reintegrar o ex-cirurgião ajudante Manuel de Brito Camacho no cargo que antigamente exercia no exercito, com a sua folha de serviço limpa e occupando o posto na escala de promoção que hoje lhe pertenceria se não tivesse deixado o exercito.
É como expressão d’este levantado princípio de justiça que se publica o seguinte decreto.
O Governo Provisório da Republica Portugueza decreta, para valer como lei, o seguinte:
Artigo 1.º - É annullado o castigo imposto em 9 de Abril de 1894 a Manuel de Brito Camacho, sendo riscada a nota na respectiva folha.
Artigo 2.º - É reintegrado nos quadros do exercito o ex-cirurgião ajudante Manuel de Brito Camacho, no posto de capitão médico, por ser esta a sua altura na escala de promoção, com a antiguidade d’este posto, de 19 de Julho de 1901.
Determina-se, portanto, que todas as auctoridades a quem o conhecimento e a execução do presente decreto, com força de lei, pertencer, o cumpram e façam cumprir e guardar tão inteiramente como n’elle se contém.
Os ministros de todas as repartições o façam imprimir, publicar e correr.
Dado nos Paços do Governo da Republica, aos 21 de Novembro de 1910»

E logo a 23 de Novembro de 1910, foi nomeado Ministro do Fomento do Governo Provisório, substituindo o Dr. António Luiz Gomes.
Levou a cabo importantes reformas e decisões sobre o crédito agrícola, os caminhos de ferro e os transportes em geral.
Em 18 de Dezembro de 1910, com as assinaturas de Teófilo Braga e Brito Camacho, foi criada a ACAP (Associação de Classe Industrial de Vehículos e Artes Correlativas), hoje Associação Automóvel de Portugal que representa um dos mais dinâmicos e inovadores sectores da economia nacional.
Mas preocupou-se, sobretudo, com o ensino técnico. Neste sector fez publicar em Maio de 1911 (vão lá 100 anos) um Decreto onde procedeu à divisão do Instituto Industrial e Comercial de Lisboa, criando em sua substituição o Instituto Superior de Comércio (actual ISEG) e o Instituto Superior Técnico, por considerar que “o nosso atraso provém, apenas, de insuficiência do nosso ensino técnico, insuficiência que ontem era um mal e hoje é um perigo dada a luta de competência que é preciso suportar na concorrência aos mercados de todo o mundo”.
Em Setembro de 1911, após as primeiras eleições republicanas, voltou a integrar o Governo.
Durante a I Grande Guerra conservou-se afastado dos governos da União Sagrada, defendendo a ideia de que a participação de Portugal deveria ser nas colónias e não em França.
Apesar de ele não concordar, Portugal decidiu constituir o Corpo Expedicionário Português e entrou na Guerra.
No que a esta respeita, para além do seu pensamento político sobre ela, sobram dois acontecimentos que me parecem merecer especial atenção e reflexão sobre a sua personalidade e o poder do poder. Brito Camacho esteve mobilizado e foi desmobilizado, como se poderá ver na leitura de dois documentos que elaborou a esse respeito e que representam apenas a visão unilateral e pessoal dos factos e onde se pode ler o seguinte:
«Chegou ao meu conhecimento que um tenente coronel médico reclamou da ordem que o mandava seguir para França, em serviço de campanha, alegando que a mim e não a ele competia, n’aquella altura, uma tal missão de serviço.
Sou levado a crer que não tinha bons fundamentos a reclamação, visto não ter obtido despacho favorável; mas nem por isso deixa de ser verdade que na Secretaria da Guerra existe um documento em que um oficial do meu quadro e da minha patente se considera prejudicado em meu favor.
Em 12 de Fevereiro de 1917, sendo deputado da Nação, dirigi ao Presidente da Câmara dos Deputados uma carta assim redigida
Ex.mo Snr. Presidente da Câmara dos Deputados
Em nota de que me foi dado conhecimento hoje, o Quartel General da 1.ª Divisão do Exército ordenou ao Ex.mo Director do Hospital Militar de Lisboa que me mandasse apresentar na 5.ª repartição do Ministério da Guerra, afim de ser incorporado como capitão médico, na expedição a Moçambique.
Fiz imediatamente a minha apresentação.
Tenho, pela Constituição Política da República, o direito, que é ao mesmo tempo uma obrigação, de acompanhar regularmente os trabalhos parlamentares, e desse direito não prescindo enquanto durar a sessão legislativa ordinária, isto é, até 2 de Abril. Terminada ella, se o Ministério da Guerra carecer dos meus serviços fora do território continental da República, estarei pronto a desempenhá-los.
Digne-se V.a Ex.a comunicar ao Ministério da Guerra, para os devidos effeitos, o que deixo exposto.
Saúde e Fraternidade.
Sala das Sessões, 12 de Fevereiro de 1917
Manoel de Brito Camacho

No segundo documento dirigido ao Chefe da Repartição de Saúde Militar, a quem envia cópia do documento anterior, diz o seguinte:
Como V.a Ex.a vê, estou à disposição do Ministério da Guerra, para serviço de campanha, desde o dia 2 de Abril de 1917, até aos primeiros dias de Dezembro do anno corrente, por ter prescindido das minhas imunidades parlamentares, e a partir de então por ter perdido essas imunidades, dissolvido por decreto o Congresso da República.
No dia 8 de Junho próximo passado apresentei-me no Quartel General Territorial do C.E.P. com guia da 5.º repartição da 2.ª direcção da Secretaria da Guerra, e no dia 21 imediato, finda a licença regulamentar que gozara, foi-me lançada na guia esta verba – Apresentado e marcha amanhã para França no comboio das 20 e 05 a apresentar-se ao serviço do C.E.P. devendo apresentar-se na legação portuguesa de Paris no dia 25 do corrente.
Sucedeu, porém, que n’este mesmo dia, por motivos que ignoro, a Secretaria da Guerra mandou sustar a minha partida, ficando demorado sem limitação de tempo.
Encontro-me na situação que me criou a Secretaria da Guerra, por motivos de que nem sequer tenho o direito de inquirir; mas como já um oficial do meu quadro e da minha patente reclamou por não ir eu para França adiante d’elle, resolvi fazer a V.a Ex.a, como chefe da corporação dos médicos militares, a quem incumbe uma função tutelar com respeito aos seus interesses e decoro, esta exposição que fará parte do meu processo individual, para lhe dizer que marcharei para o serviço de campanha, logo que me mandem marchar, sem que verifique o logar que ocupo na respectiva escala e sem olhar para traz, no momento da partida, a ver se fica por cá alguém que devesse ir adiante de mim.
Saúde e Fraternidade.
Lisboa, 7 de Setembro de 1918
Manoel de Brito Camacho
Tenente-coronel médico»

Em 1920 e apenas com 58 anos de idade recusou o convite para formar um governo apoiado pelo Partido Liberal Republicano (que resultara da fusão dos Partidos Unionista e Evolucionista), o que seria a cereja em cima do bolo, pelo que representava ser o seu Partido Unionista, embora apoiado por outro, a chefiar o Ministério.
Mas, Brito Camacho recusou. Por medo ou cobardia não seria, pois disso a sua frontalidade o impediria.
Parece a um observador menos atento como eu, que Brito Camacho sofreria já os efeitos de uma vida agitada e tumultuosa e não via sair desses primeiros anos da República os frutos que imaginara e desejara para o país, mas antes via a repetição dos erros do passado e o domínio dos pobres pelos ricos, com umas finanças cada vez mais esgotadas, uma grave crise bancária e dívidas ao exterior.
Exerceu ainda as funções de Alto Comissário da República em Moçambique, de Março de 1921 a Setembro de 1923, embora regressasse a Lisboa em 1922, provavelmente por doença.
Em 1925, manifestou a vontade de abandonar a vida política activa e o cargo de Deputado.
Continuou, no entanto, a promover a defesa dos ideais democráticos e da estabilidade política da República, em inúmeras conferências pelo país.
Parecia adivinhar o que lá vinha, pois após a Revolução de 28 de Maio de 1926 foi obrigado a abandonar a actividade política e retirou-se para a vida privada.
Era um livre pensador. Pugnou por mais educação popular e apoiou os Grémios de Instrução e os Centros Escolares Republicanos pois considerava «…que aos letrados não convém que se difunda e intensifique a instrução, assim como aos ricos não convém que haja uma repartição mais equitativa das fortunas. Se o nível intelectual subisse, o valor de muita gente baixava, porque se tornaria manifesta a sua incompetência para ascenderam às posições que ocupam. A ignorância, mais que a preguiça, é a mãe de todos os vícios, porque, embora não tire ao homem o lugar que ocupa na escala zoológica, reduz a pouco mais de nada a sua categoria social, o seu valor como cidadão». (em Matéria Vaga, pág. 6).
Pertenceu ao Grande Oriente Lusitano, tendo-se iniciado em 1893 no triângulo de Torres Novas.
A sua vida literária foi vária e vasta, quer como publicista, contista, literatura de viagens, cronista político ou de costumes.
Dizia que era para si que escrevia - «esforço-me para que os meus escritos reflictam o mais exactamente possível o meu particular modo de pensar e de sentir, as minhas ideias e os meus sentimentos, sempre norteado por um ideal de justiça, de verdade e de beleza».
É muito extensa a sua obra publicada, de que são prova os 39 títulos abaixo descriminados. Mas além dos livros publicados há que ter em conta as centenas de artigos publicados, as dezenas de palestras efectuadas.

Lourdes / Gente vária / Contos e sátiras / Gente rústica / Contos ligeiros / A reacção / Por ali fora: notas de viagem / Os amores de Latino Coelho / Gente bóer: aspectos de África / Por cerros e vales / De bom humor / A linda Emília / Impressões de viagem: cartas a um jornalista / Longe da vista / Moçambique: problemas coloniais / Rescaldo da guerra: através do "Livro Branco" / Política colonial / D. Carlos, íntimo / Memórias e narrativas alentejanas / Contos selvagens: recordações de África / A caminho de África / Questões nacionais / Nas horas calmas / Jornadas / Dois crimes / Cenas da vida / Ao de leve / Ferroadas / Quadros alentejanos / Pretos e brancos / Pó da estrada / Terra de lendas / Portugal na guerra / Rescaldo da guerra através do "Livro branco": continuação do "Portugal na guerra" / Matéria vaga / A reacção / Longe da vista / A educação nacional / Por ahi fóra: notas de viagem



































Manuel Brito Camacho foi sempre uma personalidade polémica. Admirado por muitos e odiado por outros tantos. Era uma personalidade que não deixava ninguém indiferente.

Raul Brandão que considerava que a liderança da República assentava em três políticos dizia deles - «O Afonso Costa desperta paixões e manda, o António José (de Almeida) arrasta multidões com frases. O Brito Camacho, até quando tem razão, é detestado – talvez mais detestado do que quando a não tem […]” .
Podia ser detestado, tanto como era amado. Mas não era neutro.
Personalidade marcada e influente, pouco sociável e contestatária, peça importante na luta pelo derrube da monarquia e pela implantação da República, talvez isso explique o interesse que foi despertando naquela época e ao longo dos tempos e de que são prova os vários livros que sobre ele se escreveram:

Manuel Brito Camacho ; org. e pref. António Aresta
Brito Camacho : político 1862-1934 / textos Teresa Sancha Pereira ; coord. António Trindade, Álvaro Albuquerque
Manuel de Brito Camacho : alguns aspectos sobre o homem e a sua genealogia pela comemoração do centenário da fundação do jornal "A lucta" / Orlando da Rocha Pinto
O pensamento anticlerical de Brito Camacho / Luís Vaz ; pref. António Arnaut
Brito Camacho - calunialista / Eduardo de Almeida Saldanha
Brito Camacho / M. Ferreira de Mira e Aquilino Ribeiro
Brito Camacho : algumas reflexões acerca da sua obra colonial / João Fernandes
A rebolação: resposta ao folheto "A Reacção" do Sr. Dr. Brito Camacho / Frey Gil
Brito Camacho (Tropical) : compilação dos artigos publicados em 1933 / Ismael Alves da Costa
Brito Camacho ameaçado de morte pelos democráticos e o 19 de Outubro / Tomé Vieira


Contudo o interesse que motivou os autores destas obras, foi bem maior que o reconhecimento público da sua carreira de político e de médico. Teve poucos louvores e honrarias, talvez porque o seu pensamento político se poderia definir tal como o escreveu na página 6 de «Matéria Vaga» e que atrás vos li, mas não será de mais repetir:

«…que aos letrados não convém que se difunda e intensifique a instrução, assim como aos ricos não convém que haja uma repartição mais equitativa das fortunas. Se o nível intelectual subisse, o valor de muita gente baixava, porque se tornaria manifesta a sua incompetência para ascenderam às posições que ocupam. A ignorância, mais que a preguiça, é a mãe de todos os vícios, porque, embora não tire ao homem o lugar que ocupa na escala zoológica, reduz a pouco mais de nada a sua categoria social, o seu valor como cidadão». (em Matéria Vaga, pág.6).

Louvado pela muita competência de que deu prova nos trabalhos apresentados e pela dedicação e interesse como procurou levar a cabo a missão que lhe havia sido confiada como vogal da comissão nomeada para a reorganização do Exército (2 de Maio de 1911), é tudo menos um louvor a um homem da sua envergadura política.
Ordem Militar de Aviz, um pouco melhor.
Comendador da Ordem de S. Thiago da Espada, é pior que não ter, no seu caso. Comendador, só?
Medalha comemorativa das Campanhas do Exército Português?
E se considero que foi pouco louvado ou medalhado, não deixo de considerar estranho que tenha recebido a Medalha das campanhas do Exército, quando não fez nenhuma delas, fosse ou não por sua culpa, não as ter feito.
Como parece ser comum à maioria daqueles que fizeram algo de útil pela Pátria ou pela Humanidade, também com ele sucedeu que só passados anos sobre a sua morte a memória dos homens se tenha lembrado dele e tratasse então de perpetuar a sua memória:
Foi dado o seu nome a várias ruas e avenidas nas seguintes localidades – S. João do Estoril, Oeiras, Lisboa, Évora, Ferreira do Alentejo, Viana do Alentejo, Beja, Castro Verde, Montemor o Novo, Pedrógão do Alentejo, Pias, Lourenço Marques (hoje Patrice Lumumba em Maputo), Sesimbra, Évora, Rio de Moinhos, Almodôvar.
A 29 de Outubro de 1987, o Presidente da República Mário Soares, descerrou uma lápide comemorativa na casa de Aljustrel onde Brito Camacho viveu, onde se lê – Homenagem a Brito Camacho por ocasião da instalação da Presidência da República no Alentejo, sendo Presidente da República o doutor Mário Soares Aljustrel, 29-10-1987.



Em 1999 foi atribuído o nome de Brito Camacho à Escola Básica dos 2.º e 3.º Ciclos de Aljustrel, designado seu patrono e inaugurado o seu busto em bronze, perpetuando a sua memória.



Morreu em Lisboa no dia 19 de Setembro de 1934.

Tenho dito.