Tenho de evitar ler durante algum tempo as crónicas de Ricardo Araújo Pereira na Visºão..Não tenho outra alternativa para nºao me arriscar a que todas as semanas porte aqui outra das suas crónicas. Que diabo! O blog é meu e não dele! Por isso, de duas uma - ou começo a escrever crónicas minhas de que goste ou tenho que me reduzir à missão de divulgador do trabalho dos outros. Será que os cortes de 2013 me vão beneficiar indirectamente? Serei esfolado, mas vai haver quem se arrependa de o fazer. Podem acreditar. Eu não tenho humor nem a subtileza do RAP...
Andava
um burlão em Portugal mas identificaram-no
«O leitor acompanhou a história daquele
burlão que apareceu na comunicação social a dar falsas esperanças aos
portugueses?
Foi realmente incrível, a mensagem de Natal
de Pedro Passos Coelho. Quando o primeiro-ministro prometeu que, para o ano,
todos iríamos beneficiar de novas oportunidades, fiquei com a sensação de que,
em 2013, o País ia ser um lugar de sonho, em que toda a gente conseguiria
usufruir de condições excepcionais para subir na vida. No fundo, que o Portugal
do ano que vem seria para os portugueses o que o BPN da última década foi para
aqueles amigos do Presidente da República. Por isso mesmo, a promessa não me
entusiasmou. Gozar daquele tipo de benefício pode ser agradável, no início, e
até render milhões, mas depois sabemos como tudo acaba: olhe-se para as dezenas
e dezenas de implicados no escândalo do BPN, para as fortunas que tiveram que
devolver, para as duras penas de prisão que estão a cumprir. A esse preço,
ninguém deseja ser bem-sucedido na vida.
Falou-se ainda
noutro burlão, mas confesso que não consegui perceber a história. Primeiro, a
comunicação social disse que se tratava de um prestigiado professor de
economia social e observador das Nações Unidas. Depois, a mesma comunicação
social disse que era um charlatão. Eu, que não acredito em nada do que vem na
comunicação social, fiquei satisfeito com a minha posição de princípio, mas sem
saber o que pensar acerca deste caso concreto. Limitei-me a registar, com
alguma surpresa, o entusiasmo dos que se gabaram de ter encontrado um burlão
em Portugal. Olha que façanha. É por isto que o País não avança: as pessoas
contentam-se com pouco. Muito menos compreendi a galhofa de quem assinalou que
o burlão tivesse tido tempo de antena. Toda a gente sabe como funciona o mundo:
um charlatão crítico da austeridade pode conseguir uma tribuna na televisão;
um charlatão partidário da austeridade pode chegar a secretário de Estado. Ou
até um pouco mais acima.
Não quero fazer a rábula do cínico, mas a
verdade é que o País já não me surpreende com estes truques antigos. Portugal
terá de se esforçar muito mais se quiser impressionar-me - e acredito que
queira. Sonho, por exemplo, com o dia em que não leremos considerações sobre o
Natal no facebookde Pedro Passos Coelho, mas considerações sobre Pedro Passos
Coelho no facebook do Natal. Bem sei que as quadras festivas não têm (por enquanto)
facebook, mas seria tão estimulante para o povo português que os desabafos de
Passos Coelho sobre o Natal fossem substituídos por desabafos do Natal sobre
Passos Coelho. Exemplifico: «Amigos, este não era o primeiro-ministro que merecíamos.
Muitas famílias não tiveram na Consoada os pratos a que se habituaram porque
ele aumentou os impostos e cortou os subsídios, apesar de ter garantido que não
o faria. A todos vós, no fim deste ano tão difícil em que tanto já nos foi
pedido, peço apenas que procurem a força para, quando olharem os vossos filhos
e netos, o façam não com vergonha por terem votado neste homem, mas com a
esperança de quem sabe que a legislatura só dura até 2015 - ou mais cedo, se
Paulo Portas entender que isso é benéfico para o CDS-PP. A Páscoa e eu
desejamos a todos umas Festas Felizes. Um abraço, Nata!.» Isso seria suficientemente
bizarro para conseguir ser surpreendente em Portugal. Ao menos, durante dez
minutos».
Ricardo Araújo Pereira, Boca do Inferno - Visão de 3 de janeiro de 2013
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