segunda-feira, março 11, 2013

de costas

 
 
Tiago Mesquita (www.expresso.pt), escreveu hoje o artigo que vos deixo para reflexão, depois de conhecermos o prefácio do Presidente a abrir o seu último volume de discursos e outras intervenções.
 
Chávez morreu, Cavaco faz de morto.

«Hugo Chávez, morreu. O presidente português, Aníbal Cavaco Silva, continua a fazer-se de morto. Nada de novo, pelo menos por cá. Bem vistas as coisas, à imagem do Papa Ratzinger, Cavaco devia ser um Presidente Emérito. Entretanto elegíamos alguém para desempenhar o seu cargo. Se Ratzinger escolheu Castel Gandolfo, não seria má ideia Cavaco recolher a Boliqueime. Com Cavaco em Belém vivemos em constante Sede Vacante, com o Presidente, sozinho, em permanente conclave. Mesmo nunca tendo apreciado o estilo, sou obrigado a reconhecer que um Hugo Chávez morto mexe muito mais com os destinos de um país, com as políticas e com os sentimentos do cidadãos que um Aníbal Cavaco vivinho da Silva. Depois de 33 dias em cativeiro, qual eremita de Belém, Cavaco Silva reapareceu. Enquanto se discutia na AR o futuro do país, Cavaco foi assistir à inauguração de uma unidade de moagem na fábrica Cerealis (enfim, sem comentários...). E, não deixando créditos por mãos alheias, fez o que sabe fazer tão bem: disparou meia dúzia de lugares comuns aos jornalistas, sem que nada de verdadeiramente útil possa ser retirado das suas palavras. O Presidente da República portuguesa é, ao nível da retórica, uma desgraça, à qual se junta o nível de actuação de um ser embalsamado. "O Presidente da República quebrou assim o silêncio pelo qual vinha a ser criticado, insistindo que não deseja "protagonismos mediáticos", por saber que são "inversamente proporcionais" à capacidade de um Presidente " influenciar as decisões tomadas para o país". "Ninguém tem a experiência que eu tenho". Questionado sobre a manifestação do último fim de semana, o Presidente da República defendeu que "as vozes que se fizeram ouvir não podem deixar de ser escutadas"." Expresso Convém alguém dizer a Cavaco que não é um actor da Globo que procura tranquilidade e repouso entre a gravação de duas novelas. E de novelas a envolver amigos do senhor Presidente estamos nós, cidadãos, fartos. Se não quer protagonismo, se quer gozar a reforma antecipadamente (não o faz?) sugiro que renuncie, está na moda. Ouvi muita gente pedir a sua demissão e a do governo e, se acha mesmo que devem ser escutadas estas vozes, faça-lhes a vontade. Estou certo de que não faltarão pretendentes para o cargo, ávidos de protagonismo e dispostos a participar activamente na mudança do estado de coisas. A falta de protagonismo de V. Exa. é inversamente proporcional à paciência dos portugueses. E quanto à vasta experiência de que se gaba, se calhar é melhor não falarmos no assunto. Serviu-nos de quê? Fez-me lembrar aquela do "Eu nunca me engano e raramente tenho dúvidas". Depois de mais esta triste aparição, sou obrigado a concordar com a opção de Cavaco viver como a irmã Lúcia, uma espécie de monge sitiado num país à beira de um ataque de nervos. É que o silêncio dele é mesmo de ouro, pois de cada vez que abre a boca apercebemo-nos que o garante da democracia em que vivemos é, ele próprio, uma nulidade democrática».

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