Custa muito olhar para este muro pintado e ler o que está escrito. Custa muito tê-lo visto pela primeira vez, reproduzido na primeira página da revista norte-americana «The Atlantic», fundada em 1857, com este título que aqui deixo
The
Mystery of Why Portugal Is So Doomed
Did relying too heavily on mom-and-pop businesses hobble one of Europe's
most imperiled countries? It's possible.
O artigo é extenso e bem documentado, com imensos gráficos, um dos quais da responsabilidade de um português, Ricardo Reis, professor na Universidade Columbia. Porque, eventualmente, nem todos os leitores dominem o inglês, deixo aqui um resumo em português, publicado no Jornal de Notícias. Onde vamos parar? Mais do que rezar, temos de actuar.
«A revista norte-americana "The Atlantic" publica,
na sua edição eletrónica, o artigo "O mistério de Portugal estar tão
condenado", no qual argumenta que existe demasiada corrupção e regulação
que leva a que as PME não queiram crescer.
O artigo, assinado por um dos diretores da revista cultural e
lieterária, Matthew O'Brien, e que está na página inicial da publicação, começa
com uma fotografia de um mural em Portugal onde se lê, em letras grandes, 'Pray
for Portugal' ('Rezai por Portugal'), com uma criança a rezar 'Livrai-nos
Senhor destes porcos corruptos que assolam Portugal', e diz que, ao passo que a
Grécia teve uma bolha governamental e que a Espanha e a Irlanda tiveram bolhas
imobiliárias, Portugal, sem bolhas, teve "uma das mais calmas catástrofes
da memória económica".
Citando estudos que mostram que Portugal, entre 2000 e 2012,
cresceu "per capita" menos do que os Estados Unidos durante a Grande
Depressão dos anos 30 ou que o Japão durante a sua "década perdida",
o artigo faz ligações para várias outras páginas de jornais como o Financial
Times ou o Wall Street Journal para ir sustentando a sua opinião, por exemplo
no que se refere à evolução de Portugal nos primeiros anos da democracia ou aos
dados económicos que mostram a fraca performance da economia portuguesa na
última década.
Relembrando erros de política económica e mostrando gráficos
sobre a evolução de indicadores como o crescimento comparado de Portugal,
Estados Unidos e Japão, o artigo argumenta que aquilo que separa Portugal de
outros países em dificuldades é a cultura das pequenas empresas: "A
maioria dos países do sul da Europa, Portugal incluído, sofre de demasiada
corrupção e regulação".
As empresas, argumenta a revista fundada em 1857,
"escolhem [em itálico] permanecer pequenas porque faz sentido lidar apenas
com pessoas em quem se confia pessoalmente quando não se pode confiar no poder
da autoridade livre de retaliações. As empresas podem [em itálico] ficar
pequenas porque as leis tornam difícil crescer e atingir economias de escala. É
um pesadelo de 'mom-and-pop' de fraca produtividade", diz a revista, numa
referência a uma expressão que se refere a pequenas empresas de raiz familiar,
sem grandes ambições empresariais e com forte implantação local.
No texto, defende-se que a situação piorou desde 2008 devido
não só ao enorme peso das Pequenas e Médias Empresas (PME) na economia
portuguesa, mas também porque elas estão a desaparecer, não apenas porque
"a austeridade esmagou os seus clientes", mas igualmente porque
enfrentam sérias dificuldades de acesso ao crédito.
Retomando a linha de pensamento norte-americana que defende
que a Europa está a exagerar na austeridade como a receita para sair da crise,
a revista diz que é claro que "Portugal tem de resolver os seus problemas
estruturais" e argumenta que "deve ser mais fácil despedir quem
trabalha mal, criar e expandir um negócio, e garantir o cumprimento dos
contratos".
A Europa, sublinha, "deve parar de insistir no castigo
[da austeridade] como o caminho para a prosperidade".
Se não o fizer, sentencia a Atlantic no parágrafo final do
texto, "então a ideia de uma saída do euro deixará de ser apenas o tópico
de um popular livro português", referindo-se ao último livro do economista
João Ferreira do Amaral. Poderá ser a plataforma de um partido popular
português, conclui».
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