sábado, junho 08, 2013

rezar ou actuar?



Custa muito olhar para este muro pintado e ler o que está escrito. Custa muito tê-lo visto pela primeira vez, reproduzido na primeira página da revista norte-americana «The Atlantic», fundada em 1857, com este título que aqui deixo
 
The Mystery of Why Portugal Is So Doomed

Did relying too heavily on mom-and-pop businesses hobble one of Europe's most imperiled countries? It's possible.


O artigo é extenso e bem documentado, com imensos gráficos, um dos quais da responsabilidade de um português, Ricardo Reis, professor na Universidade Columbia. Porque, eventualmente, nem todos os leitores dominem o inglês, deixo aqui  um resumo em português, publicado no Jornal de Notícias. Onde vamos parar? Mais do que rezar, temos de actuar.

«A revista norte-americana "The Atlantic" publica, na sua edição eletrónica, o artigo "O mistério de Portugal estar tão condenado", no qual argumenta que existe demasiada corrupção e regulação que leva a que as PME não queiram crescer.

O artigo, assinado por um dos diretores da revista cultural e lieterária, Matthew O'Brien, e que está na página inicial da publicação, começa com uma fotografia de um mural em Portugal onde se lê, em letras grandes, 'Pray for Portugal' ('Rezai por Portugal'), com uma criança a rezar 'Livrai-nos Senhor destes porcos corruptos que assolam Portugal', e diz que, ao passo que a Grécia teve uma bolha governamental e que a Espanha e a Irlanda tiveram bolhas imobiliárias, Portugal, sem bolhas, teve "uma das mais calmas catástrofes da memória económica".

Citando estudos que mostram que Portugal, entre 2000 e 2012, cresceu "per capita" menos do que os Estados Unidos durante a Grande Depressão dos anos 30 ou que o Japão durante a sua "década perdida", o artigo faz ligações para várias outras páginas de jornais como o Financial Times ou o Wall Street Journal para ir sustentando a sua opinião, por exemplo no que se refere à evolução de Portugal nos primeiros anos da democracia ou aos dados económicos que mostram a fraca performance da economia portuguesa na última década.

Relembrando erros de política económica e mostrando gráficos sobre a evolução de indicadores como o crescimento comparado de Portugal, Estados Unidos e Japão, o artigo argumenta que aquilo que separa Portugal de outros países em dificuldades é a cultura das pequenas empresas: "A maioria dos países do sul da Europa, Portugal incluído, sofre de demasiada corrupção e regulação".

As empresas, argumenta a revista fundada em 1857, "escolhem [em itálico] permanecer pequenas porque faz sentido lidar apenas com pessoas em quem se confia pessoalmente quando não se pode confiar no poder da autoridade livre de retaliações. As empresas podem [em itálico] ficar pequenas porque as leis tornam difícil crescer e atingir economias de escala. É um pesadelo de 'mom-and-pop' de fraca produtividade", diz a revista, numa referência a uma expressão que se refere a pequenas empresas de raiz familiar, sem grandes ambições empresariais e com forte implantação local.

No texto, defende-se que a situação piorou desde 2008 devido não só ao enorme peso das Pequenas e Médias Empresas (PME) na economia portuguesa, mas também porque elas estão a desaparecer, não apenas porque "a austeridade esmagou os seus clientes", mas igualmente porque enfrentam sérias dificuldades de acesso ao crédito.

Retomando a linha de pensamento norte-americana que defende que a Europa está a exagerar na austeridade como a receita para sair da crise, a revista diz que é claro que "Portugal tem de resolver os seus problemas estruturais" e argumenta que "deve ser mais fácil despedir quem trabalha mal, criar e expandir um negócio, e garantir o cumprimento dos contratos".

A Europa, sublinha, "deve parar de insistir no castigo [da austeridade] como o caminho para a prosperidade".

Se não o fizer, sentencia a Atlantic no parágrafo final do texto, "então a ideia de uma saída do euro deixará de ser apenas o tópico de um popular livro português", referindo-se ao último livro do economista João Ferreira do Amaral. Poderá ser a plataforma de um partido popular português, conclui».

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