O meu dia começou muito mal, pouco depois de partir que nem um tiro para junto do computador, para enviar um ficheiro a um amigo meu e que interessava aos dois. Abri o mail, coloqueio destinatário, escrevi o que tinha a escrever e finalmente anexei o ficheiro em causa. Cliquei e aí foi ele. Acabara de começar bem o dia e levantei-me num estiacar de alongamentos felizes, direito à Nespresso para tirar a bica merecida e complementar daquele bom início de dia. O café soube-me bem e especialmente na varanda, com um ar ainda matinal e fresco e reconfortante. Regressado à secretária para ver o correio, aconteceu o primeiro contratempo, que naturalmente eu poderia resolver. Mas não. A partir do primeiro, os contratempos foram somando-se numa escalada de tensão e desânimo que me deixou em raiva, como se o mundo se tivesse revoltado contra mim, sem eu perceber porquê. O que se estava a passar em vários episódios, era uma sequência de falhanços no envio do anexo inicial, supostamente enviado, mas realmente rejeitado.Inicialmente pensei que o ficheiro estava pesado e então resolvi enviá-lo pelo We Transfer. Mas nada. Várias tentativas e sempre dava ERRO. Ai é? Eu já te digo, pensei. Queres festa? Vamos a isso. E logo avancei para outra solução. Zipei o ficheiro, enter e aí foi ele. Foi. Pensei eu, mas logo chegou novamente o erro. Mais uma ou duas tentativas e desisti. Mandei um mail ao meu amigo, explicando o que se passava e que ia ligar para um informático. Mas nem para isso tive disposição. O dia estava perdido e o mundo contra mim.
E chegada quase depois, a hora de almoçar, resolvi comer algo que não comia havia já bastante tempo. Pois bem, o mundo estava mesmo contra mim. Acabei por deitar fora a comida, sossegar o vazio gástrico com duas ou três porcarias e esquecer que fingi que comi, pois mais me parecia que tinha pastado. Já horas passadas, em que nada me apetecia, voltei a ir ver o correio. E foi a primeira surpresa salvadora. Entre o vário correio ou lixo abusador, estava um mail do meu amigo, dizendo-me que afinal tinha recebido o anexo desejado. Fantástico. A descarga foi automática e eu retomei o meu natural bem-estar. E logo me passou a apetecer tudo. Mas não sabia ainda que ia ter uma nova surpresa que me ia aumentar a confiança na vida e vivê-la com gosto, como sempre gostei. De repente, aparece-me a notícia da retoma de concertos de música de câmara, por instrumentistas da Gulbenkian, no Grande Auditório. Cliquei imediatamente no primeiro que se oferecia e ele logo abriu e, com surpresa leio que se tratava do Octeto para cordas de Feliz Mendelssohn e numa janela dizia - a começar dentro de seis minitos e com um contador a marcar o tempo. Foi de mais a surpresa. Descobrir o concerto por acaso e perceber que seis minutos passados, Mendelssohn oferecia-se. E não só a sua música, mas a natureza que se oferecia também na visão daquele magnífico jardim ali à mão daquele magnífico palco. Uma maravilha que me salvou ainda mais o dia. Foi um bom concerto, mas melhor teria sido para mim, se tivesse sido o concerto para violino que eu adoro e ouço com frequência e me restaura. Definitivamente sou um tipo mal agradecido e a merecer o castigo. Tive a sorte de ouvir um concerto de câmara magnífico e ainda tenho a lata de ainda querermais. Não mereci o que me deram. Sou um mal agradecido.
Aqui ficam os nomes dos concertistas e um pequeno apontamento sobre este Octeto. Com os violinistas Francisco Lima Santos, Anna Paliwoda, Alexandra Mendes e Cecília Branco, os violas Lu Sheng e Leonor Fleming e os violoncelistas Marco Pereira e Martin Henneken. O
Octeto para Cordas, em Mi bemol maior, op. 20, em três andamentos - Allegro, Andante e Scherzo, de Mendelssohn, foi escrito em 1825, mas estreado em Leipzig, apenas em Janeiro de 1836.
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