Nada fazia prever que o Rei D. Manuel I, em Dezembro de 1496, mandasse publicar um édito em que dava um prazo aos judeus para se converterem ao Cristianismo ou seriam expulsos de Portugal. Esse prazo foi fixado até Outubro de 1497.
Tudo indica que o rei teria sido pressionado pela sua noiva ou, não o tendo sido, tenha querido mostrar agrado às ideias que ela e seus pais tinham em relação aos judeus. Falo de D. Isabel, filha dos Reis Católicos e viúva do príncipe herdeiro do trono de Portugal, D. Afonso, com quem casara em Novembro de 1490. Em Julho de 1491, D. Afonso teve um acidente a cavalo e morreu em Almeirim.
D. Isabel, casou mais tarde, em segundas núpcias com D. Manuel I, em Outubro de 1497 e viria a morrer poucos meses depois (Agosto de 1498), durante o parto de seu filho D. Miguel da Paz, herdeiro jurado das coroas de Portugal, Castela e Aragão, que, ao morrer dois anos depois, viria acabar com a possibilidade da união dinástica ibérica sob a hegemonia de um rei português.
D. Manuel I viria a casar mais duas vezes – com D. Maria, irmã de Isabel, que lhe deu nove filhos e viria a morrer também de parto, e D. Leonor, filha de Joana a Louca e irmã de Carlos V.
Por força do édito de 1496, foi encerrada ao culto a Sinagoga. Foi então comprada por um particular desconhecendo-se quem a vendeu (a comunidade judaica? o Rei?). Voltou a ser vendida em 1516 para nela ser instalada a Cadeia Municipal, que deixava de estar no Castelo.
Fico a pensar no que se terá passado na cabeça do Rei quando informado da nova localização da cadeia se viu obrigado a publicar uma interessante Carta de excepcionais privilégios que determinava que os cristãos novos não podiam ser presos naquela cadeia. Depois da argúcia e manobra política de inventar os cristãos novos, para impedir que todas as fortunas na mão dos judeus saíssem do país, teve então de fazer nova manobra com esta Carta de privilégios, pois seria afronta demasiada prender judeus no seu local de culto, a Sinagoga.
Em
Segundo o Prof. Santos Simões, a profanação da Sinagoga teria sucedido no século XIX. Em 1 de Junho de 1885 era apenas uma casa térrea, servindo de palheiro. A 10 de Junho de 1920, segundo dados da própria Sinagoga, aquando da visita de um grupo de Arqueólogos Portugueses, havia ali uma adega e armazém de mercearias.
Por decreto de 29 de Junho de 1921 foi o edifício classificado como Monumento Nacional. Apesar desta classificação, o abandono e degradação em que se encontrava, levou Samuel Schwarz a comprar o edifício em 5 de Maio de 1923, que acabou por doar ao Estado em 29 de Março de 1939, com a condição expressa de ali ser instalado um Museu Luso-Hebraico, nome que foi homologado pelo Despacho ministerial de 27 de Julho.
Hoje em dia o Museu Luso-Hebraico Abrahan Zacuto pode ser visitado no n.º 73 da Rua da Judearia, antiga Rua Nova.
É uma visita que se recomenda a quem visite Tomar. Embora exteriormente o edifício não se encontre nas melhores condições, interiormente está bem conservado e as suas colunas e abóbadas merecem e despertam olhar atento e demorado.
Olhando as suas paredes e vendo as suas janelas tapadas, entende-se logo que elas foram fechadas porque da antiga Sinagoga resulta apenas esta sala de culto, tendo desaparecido grande parte do edifício inicial, hoje habitações particulares.
Quase de uma forma constante há uma pergunta que se ouve entre os visitantes – para que serve ou porque está ali na parede aquele vaso de barro voltado para baixo? A explicação não demora – se repararem, em todas as paredes e à mesma altura encontram-se buracos circulares e dentro da parede encontra-se em cada um deles um destes vasos de barro. Eles serviam como amplificadores dos sons e assim os transmitiam para galerias de outros espaços, onde se encontravam as mulheres e que, ouvindo através daquele sistema acústico, podiam acompanhar o culto a que só os homens podiam assistir.
A beleza do espaço não é acompanhada pela dos objectos ali expostos, com raras excepções. Mas vale a visita, mesmo que seja só uma parte da Sinagoga que ali está desde 1460.