Há exactamente 40 anos o mundo vivia momentos únicos e históricos quer na Europa (o Maio de 68) quer na América do Sul, nomeadamente no Brasil, onde um país amordaçado pela ditadura militar, procurava libertar-se desse jugo e ser feliz. Por essa altura todos os da minha geração, especialmente os mais esclarecidos, andavam a par do que por ali se passava e procuravam de uma forma ou doutra ajudar no que pudessem, o que era pouco já que por cá, outra ditadura embora menos armada parecia ter acabado, mas se mantinha uma primavera a que dificilmente se viam folhas e flores.
Uma das canções que alguns tinham eleito como sua, na medida em que aliava a combatividade, o protesto e a harmonia, numa linguagem fácil, era aquela a que chamávamos "Caminhando". Era seu autor e cantor Geraldo Vandré, nome artístico de Geraldo Pedrosa de Araújo Dias, cantor e compositor brasileiro nascido em João Pessoa, em 12 de setembro de 1935. Em 1968, participou do III Festival Internacional da Canção com "Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores" ou "Caminhando", composição que era um hino de resistência contra o governo militar. O refrão "Vem, vamos embora / Que esperar não é saber / Quem sabe faz a hora / Não espera acontecer" foi interpretado como uma chamada à luta armada contra os ditadores.
Ainda em 1968, com o AI-5(Acto Institucional n.º 5), Vandré foi obrigado a exilar-se. Depois de passar dias escondido na fazenda da viúva de Guimarães Rosa, morto no ano anterior, o compositor partiu para o Chile e, de lá, para a França.
Voltou ao Brasil em 1973. Até hoje, vive em São Paulo e compõe. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Geraldo_...
Como tinha saudades de ouvir a canção que tenho numa péssima gravação em fita, pedi a colegas brasileiros que me arranjassem uma cópia em bom estado. Prontamente me chegou às mãos e já a tenho gravada no IPod para as minhas viagens de comboio ou bicicleta.
Por feliz coincidência chegou-me agora às mãos uma pérola rara desses tempos que é um vídeo que nos mostra logo no início um caixão levado em ombros, com o corpo de um estudante morto pelas tropas do exército, defronte ao aeroporto Santos Dumont, e depois imagens várias da famosa manifestação dos cem mil, no centro do Rio. Muitos artistas, intelectuais, políticos participaram da famosa marcha dos cem mil, creio que em 1968. Impressiona ver tal manifestação popular em que se incorporam freiras e padres, o que no nosso país me parece improvável que alguma vez sucedesse.
Ouçam a canção com atenção e vejam as imagens da luta contra a ditadura militar.
Faz sempre bem recordar estes casos para estarmos sempre atentos e não baixarmos a guarda.
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