sexta-feira, agosto 20, 2010

ondas da política

Até nas pessoas, individualmente, existem diferenças e alterações, consoante a 'onda' em que se está. Por exemplo, eu posso não apreciar muito os editoriais de um jornalista do Expresso e posso, ao mesmo tempo, apreciar muito e, quase sempre, o que escreve no mesmo jornal (o mesmo jornalista) em nome do Comendador Marques de Correia. Deixo-vos com uma das suas últimas Cartas Abertas em que disserta sobre ondas e política. Penso que devem ler e pensar sobre isso.

«(…) As ondas do mar fazem-me lembrar a política. Para quem anda em cima da terra já há uns bons anos, como eu, vejo que, ao fim do dia, já com o Sol a mergulhar no mar, as ondas se confundem, como os governos se confundem. Quereis um exemplo: o condicionamento industrial foi de Salazar ou foi o que agora se utilizou para vender um ativo da PT e comprar outro? Já não sei, de tal modo tudo se torna semelhante. Por outro lado, a justiça popular foi própria do PREC, em 1975, ou é uma coisa que os procuradores fazem atualmente quando não conseguem reunir provas que sustentem a sua pré-formatada tese ou a sua teoria da conspiração? Os lugares do Estado eram reservados para os adeptos do regime no tempo de Marcello Caetano e no de Vasco Gonçalves ou é agora que os reservam? Os escalões intermédios dos partidos eram mais papistas do que o Papa no tempo de Cavaco à frente do PSD ou no tempo atual?
A cada onda sucede outra, que desmaia com mais ou menos a mesma intensidade e estrondo do que a anterior. A cada vaga parece que o mundo é alterado, mas o mundo fica na mesma - os homens sussurram, mas o barulho do mar, o estrondo das ondas abafa as palavras ...
Os privilégios dos grandes grupos económicos eram do tempo de Alfredo da Silva, quando fundou a CUF, ou dos tempos de agora, quando ganham mais-valias de muitos euromilhões graças à intervenção do Governo? As companhias majestáticas eram próprias dos séculos XVIII e XIX ou continuam presentes nas EDP, PT, GALP e outras, que se mantêm protegidas por um poder forte e centralizado que as promove contra concorrentes internos e estrangeiros?
As vagas sucedem-se e, de quando em vez, rebenta uma com estrondo que parece ter destruído a ordem anterior. Porém, passados poucos minutos, tudo volta ao normal, ainda que se proclame que a nova ordem triunfou. Já não há latifundiários, há grandes proprietários agrícolas; já não há patrões, há empresários; já não há especuladores, há investidores; já não há patos-bravos nem novos-ricos, há respeitáveis presidentes de construtoras e ex-ministros que são seus homens de mão. Era no tempo de Salazar que era muito lucrativo já ter sido membro do Governo ou é agora?
Mais uma onda, mais um pedaço moldado, enquanto de terra olhamos com indiferença essa sucessão de pequenos ajustes.
Nada é novo. E, como dizia Cícero, "nihil fit quod non necesse fuerit" - nada acontece que não tivesse mesmo de ser. A clareza que desejamos, as fronteiras que construímos na teoria falham ou não existem na realidade ... A seguir a uma onda vem outra onda igual e faz mais ou menos o mesmo daquela que a precedeu. Estas linhas são novas ou já foram escritas? São a brincar ou são a sério?
Em breve serão esquecidas ... vem outra onda».

1 comentário:

msg disse...

Muito boa noite,CARO DOUTOR

A modos de marcar presença,com a sua permissão,o que acabei de ler sugere-me duas frases,uma(1),
atribuída a Gandhi,e a outra(2),
referida por Eça de Queirós,em
Cartas de Inglaterra.
1.Be the change that you want to see in the world.
2.A História é uma velhota que se repete sem cessar.

Muito boa saúde,CARO DOUTOR.