Estive para não publicar este artigo de Domingos Lopes, não porque não tivesse qualidade, mas porque fala sobre quem não merece que se gastem palavras e, muito menos, tempo. Contudo, não resisti a publicá-lo, porque é o primeiro que o chama por um nome que ainda ninguém usou...
O íncola (morador, habitante) de Belém
Domingos Lopes, advogado
Disse, na mensagem de Ano Novo, que vêm aí as eleições, mas tudo deve ficar na mesma. Para que servem as eleições?
Doutorou-se em Economia Pública. O que dele se sabia até ao 25 de Abril não passava das paredes de sua casa. Há fotografias dele na tropa.
Singrou no PSD. A sua pulsão pela política pura e dura tornou-se tão incontida que no Congresso do PSD na Figueira da Foz maquinou a teia que impediu a chegada ao leme do partido de João Salgueiro, hoje banqueiro, como é tradição e convém aos do arco da governação.
Logrou encarrapitar-se no poleiro mais alto do partido durante uma década, tal era a sua ambição política...
Depois de ter o partido na mão, era e não era do PSD. Foi enquanto o ajudou a tecer o sonho de viver da política, desde que fosse no topo da pirâmide.
Criou uma corte de sacristãos de caruncho por dentro e reluzentes por fora, quase todos, hoje, a contas com a justiça que os vai deixando girar com as suas condecorações ao peito.
O chefe deixou-os a todos sem uma palavra que se ouvisse. Já não lhe serviam. Gabava-se que não lia jornais, nem errava, nem tinha dúvidas. E assim governou durante quase dez anos.
Provinciano, inculto, quis fazer crer aos portugueses que era o timoneiro do capitalismo popular. Criou o mito que podíamos viver com o que não se tinha e sobretudo com o que havia de chegar da CEE. Era uma espécie de tio rico a esbanjar presentes. Deu grandes machadadas no tecido produtivo português. Mas que importava se prometia a festa e a riqueza… Ajudou a entregar o país à burguesia compradora, parasitária, a que vende o que importa.
O PSD viu-o como pertencendo à estirpe dos homens providenciais. Dava ao partido a sua razão de ser: o poder. Estavam contentes um com o outro.
As maiorias eleitorais davam-lhe essa consagração. Apresentava o ar de quem fazia um frete, mas não largava o cargo, quase dez anos; só quando os acontecimentos o levaram a deixar o PSD a fazer contas, zarpou depois do longo período do tabu. Sim, ele, modesto e humilde, tinha um tabu que alimentou meses e meses…para se despedir com ela fisgada.
Passou a escrever, de vez em quando, o contrário do que fez, mas como só pensava no cargo, ei-lo a candidatar-se a PR. Com as manhas de politicão batido encostou-se ao PS, jurando-lhe cooperação estratégica, vezes sem conta, como aquele bem conhecido apóstolo da última ceia.
Tinha em mente ver a estrada limpa para o seu trajeto. E cooperou com o PS de Sócrates.
Largou-o quando já dele não precisava. Havia que voltar às origens e encostar ao PSD, o instrumento que lhe serviu de modo de vida, mais do que de convicção.
Quando rebentou o escândalo do BPN por lá andou ao rés da escandaleira onde se cruzou com uns tantos amigos, discípulos e delfins. E fez bons negócios.
Na campanha de 2011 de Belém declarou que era preciso alguém nascer duas vezes para ser mais honesto que ele. Dito isto de cima da sua magreza intelectual tudo ficou como estava e deixou a venda de acções do BPN encoberta naquela tirada bacoca.
Rivaliza com Tomás, o marinheiro – “é preciso decidir com conhecimento de causa”, “Portugal tem à sua frente um longo percurso”… Verdadeiras pérolas.
O homem parece o que não é. Sabe o que quer. É determinado. Vingativo. Tem o governo na mão. Para impedir uma mudança vai continuar obstinadamente a levá-lo ao colo. Um Presidente que não preside. Estafa-se a defender os credores e a pedir paciência aos portugueses.
Disse, na mensagem de Ano Novo, que vêm aí as eleições, mas tudo deve ficar na mesma. Para que servem as eleições?
Um homem carcomido pela ambição. Um político que se diz contra a política, mas o que mais tempo esteve no poder ao mais alto nível…
*Advogado
07/01/2015 - 05:33
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