sexta-feira, janeiro 15, 2010

a sagrada geometria da chance

Dá gosto ver o que se pode fazer com as nossas mãos - amassar pão, martelar pregos, carregar pesos, escrever, desenhar, salvar vidas, acariciar, dar, receber, bater, esmurrar, roubar, tocar música, agarrar, prender, massajar, uma infinidade de coisas reais e até magia.
Se muitas das coisas que as nossas mãos fazem ou podem fazer, são instintivas e naturais, outras há que exigem um treino intenso e constante e, sobretudo, o apoio indispensável da inteligência, da arte e de um dom especial da mente que lhes dá ordens.
Não está em causa o tipo de coisas a que, dom, inteligência, treino e arte as levam a fazer. É tão maravilhoso ver as mãos de um pianista tocando uma sonata ou um concerto, como espantoso é ver a forma como as mãos de um cirurgião ajudam a vida a vencer. Mas não é menos maravilhoso ver a arte do carpinteiro, do escultor, do mágico ou ilusionista.
As mãos deste último prendem o nosso olhar e sempre nos espantam, mesmo sabendo-se claramente que por trás daquela arte está um engano.
Não sei porque estou a escrever tudo isto, quando o que eu vos queria mostrar era este magnífico vídeo que nos mostra um truque espantoso realizado por Shawn Farquhar, duas vezes campeão mundial de mágica, enquanto a bela canção «shape of my heart, do Sting, nos acompanha todo o tempo
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2 comentários:

msg disse...

Muito bom dia


Desculpe,CARO DOUTOR,mas não pude resistir ao forte apelo do seu texto e do vídeo. Assim,aqui lhe deixo

A CARTOLA

A feira estava a terminar. Naquele ano,o negócio fora muito fraco. Tinham escapado,apenas,as barracas de comes e bebes. As ruas das roupas,dos sapatos,das quinquilharias metiam dó. Só lá de onde em onde, é que aparecia alguém a querer saber o preço,ficando-se,quase sempre,por ali. Os carrocéis,os cavalinhos,os automóveis estavam às moscas. Os miúdos insistiam,berravam,mas os paizinhos não se comoviam.
O circo ia pela mesma. Bem se esforçavam os arautos das maravilhas,mas os mirones não estavam para ali virados. Não queriam ouvir falar de trapézios,nem de arames,nem de malabarismos,quanto mais ver. Lembravam-lhes a ginástica que todos os dias tinham de fazer para equilibrarem as finanças. Os animais não os atraíam. Constava,até,que passavam fome. E as grades não pareciam,também, de confiança, por estarem muito atacadas de ferrugem.
Num último esforço,anunciaram uma novidade,uma novidade de estarrecer. Venham ver o homem da cartola,o homem das grandes surpresas. Carros percorriam a cidade,esquadrinhando todos os bairros,mesmo os de lata. Venham ver,venham ver,que é quase de graça.
O circo encheu-se. Houve outras intervenções,mas coisa rápida,a despachar. O suspirado momento chegou e fez-se um grande silêncio. O homem vinha de preto. A cartola era minúscula,pouco mais do que um dedal. Mostrou-a em todas as direcções,acariciado-a repetidas vezes. Depois,ao toque de uma comprida e fina vara,que roçava o tecto da tenda,sairam dela,em rápida cadência,objectos incríveis,que se iam amontoando.
O espaço mostrava-se acanhado para tanta bugiganga. Por acção da poderosa vara apareceu um maior. Mais objectos esquisitos foram saindo,sem descanso. O circo foi crescendo,crescendo,irresistivelmente.Atravessou fronteiras,atravessou mares. Ocupou o mundo todo. O maior espectáculo do mundo.


Mais uma vez as minhas muitas desculpas,e muito boa saúde,CARO DOUTOR.

cvr disse...

Lindo!
cvr