sábado, dezembro 08, 2012

ficção ou talvez não

 
O próprio título justifica que não faça comentários ao texto. Aqui fica para ser lido e cada um que resolva qual o título adequado.

«Nota prévia:- Este retrato do que poderá ser o nosso país daqui a dois anos é uma crónica de ficção. Qualquer semelhança com pessoas ou factos será mera coincidência... Ou talvez não?
Está quase a expirar o ano de 2014 e não há classe média em Portugal. Dos três escalões de IRS existentes em 2013, passaram a haver apenas dois desde o início deste ano. Inventado não se sabe por quem, está em voga usarem-se expressões anglo saxónicas para definir as duas classes existentes: a top class e a pop class. À top class pertencem cerca de 5% da população, constituída por banqueiros e funcionários do Banco de Portugal, empresários e gestores de topo, membros dos conselhos de administração de hospitais e clínicas privadas de saúde, sócios de grandes gabinetes de advocacia, a avenças do Estado, engenheiros de telecomunicações, juízes, alguns jornalistas e políticos. Vivem bem e gostam de ostentar a sua riqueza e poder.
Os restantes 95% de portugueses pertencem à pop class, na qual se incluem cerca de 40% que migraram daquela que era conhecida por classe média. São os migrantes e grande parte recorrem aos subsídios de pobreza disponibilizados pelo Estado. Abarca pensionistas, funcionários públicos, professores, polícias, militares e operários da construção civil entre outros.
Em relação a 2010, a população diminuiu 12%, equivalente ao número de portugueses que emigraram. Resolveu-se assim o problema do desemprego que baixou para os níveis de 2005. O Governo respira de alívio, dorme descansado e canta vitória.
Até final de Outubro, registaram-se 40 000 nascimentos. Um decréscimo a acompanhar a tendência para o despovoamento iniciada em 2011. Quanto menos formos melhor, parece ser o sentido da governança.
De forma a dar resposta aos "novos hábitos de compras dos portugueses", os supermercados criaram áreas distintas de vendas: o golden gate, destinado a quem pode adquirir produtos de marca, com direito a champanhe e bombons à entrada, e o portão popular que dá acesso às marcas brancas, de qualidade aceitável e a preços razoáveis. Evitam-se assim conflitos e atropelos à ordem e cada cliente faz as suas compras na área que lhe é destinada em paz e sossego.
O Aeroporto de Beja, desde que foi adquirido por um grupo árabe, revitalizou e é agora um centro comercial de qualidade internacional com casino, hotel e spa de luxo. Há vôos regulares de Luanda com clientes.
Desde a refundação do Estado anunciada pelo Primeiro Ministro em 2012 e à qual o PS se opusera com veemência inicialmente, mas que ratificou após ter obtido uma "grande vitória" ao obrigar o Governo a fazer cair uma alínea da proposta inicial, o chamado estado social deixou de ser obrigação do Estado. Em seu lugar criou-se o PIGS - Plano Individual de Gestão Social e o SNS foi banido passando a designar-se por SIS - Serviço Individual de Saúde. Em ambos os casos, compete aos interessados prover a sustentabilidade dos seus sistemas de saúde e segurança social.
Às hortas urbanas, sucedem-se as hortas de varanda mas há já quem comente que a Autoridade Tributária as traz debaixo de olho com vista ao agravamento do IMI.
Aqui e ali começam a aparecer os primeiros pré-fabricados e os bancos não sabem o que fazer a tanta casa devolvida! Alguns restaurantes e cafés continuam a resistir à crise, porém grande parte deles tiveram que encerrar as portas e os proprietários reformularam o negócio: rulotes e quiosques com comida de rua é a nova opção. A ASAE, sempre atenta, levanta multas mas o negócio sempre vai compensando. Certas zonas de Lisboa lembram já Manila e Bangkok.
Após vários desmandos provocados por populares contra os membros do Governo, que já atingiam também os deputados do maior partido da oposição, foi aprovada em 2013 no Parlamento uma alteração à lei penal que pune os atos preparatórios de ações de desagravo contra as decisões dos "altos representantes a Nação". Comparando-os a atos de terrorismo contra o Estado, a Polícia viu os seus poderes reforçados e pode reter, como medida cautelar, os presumíveis cabecilhas de manifestações anunciadas e reconhecidos agitadores, "mas pelo tempo estritamente necessário para o efeito" como houve o cuidado de se salvaguardar em abono dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. Afinal, Portugal é um Estado de Direito!
Com as eleições presidenciais à porta e o PR a fazer um retiro espiritual em final de mandato na ilha de São Jorge, Açores, onde anunciou que o futuro de Portugal passa pela indústria leiteira, conhecem-se já dois candidatos: Durão Barroso pelo PSD e José Sócrates pelo PS.
Os comentadores da televisão habituais exaltam as qualidades pessoais e o capital de experiência europeia e a visão europeísta dos candidatos "neste momento importante para o país". Desde a imposição do voto obrigatório, uma pequena alteração introduzida na Constituição para fazer face ao constante abstencionismo que se verificava, espera-se grande afluência às urnas numa clara manifestação do interesse que os cidadãos têm nos destinos e no futuro de Portugal».
Ass.) Vítor Catulo

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