Acabei de ler esta nova crónica de Ricardo Araújo Pereira, intitulada «O semicavaco, um conceito ignorado pela ciência política», publicada na sua coluna Boca do Inferno da Revista Visão de hoje, dia 20 de Dezembro de 2012 e entendi, dada a coincidência da decisão esperada para hoje sobre o OE 2013,deixá-la aqui para que aqueles que não tenham a referida revista a possam ler.
O semicavaco, um conceito ignorado pela ciência
política
«Quando se diz , que o sistema político português é
semipresidencialista, o aspecto fundamental a reter é aquele «semi». Neste
momento, o nosso semipresidencialismo deve-se ao facto de termos um
semipresidente - particularidade teórica que Maurice Duverger não teve imaginação
para antecipar. O actual Presidente da República transformaria qualquer sistema
presidencialista num semipresidencialismo, dada a sua semitendência para ser
constantemente semi. Cavaco sempre foi um semipolítico. Por um lado, sempre
disse que não era político, dando a entender uma certa repugnância por essa
actividade; por outro, rodeou-se de Oliveira e Costa, Dias Loureiro, Duarte
Lima e de todos aqueles senhores que foram aparecendo semanalmente na primeira
página d' O Independente. Neste momento, é um semirreformado: por um
lado, trabalha; por outro, optou por recusar o salário e recebe uma reforma.
Quanto ao orçamento de Estado,
Cavaco é semicontra. De acordo com o Expresso, o Presidente tem muitas
dúvidas relativamente à constitucionalidade do documento. Porisso, vai
promulgá-lo.
O País
precisa de um orçamento, sob pena de se gerar um impasse. Por isso, Cavaco vai
enviar o orçamento para o Tribunal Constitucional, para fiscalização sucessiva,
o que gerará vários impasses. Vetar um orçamento que a generalidade dos constitucionalistas
dizem ser inconstitucional seria a forma de o Presidente da República exercer
uma das suas funções mais importantes: assegurar o cumprimento da Constituição.
Promulgar o orçamento seria uma forma de o Presidente sugerir que tempos
especiais requerem medidas especiais, e alguma flexibilidade. Cavaco terá
ponderado tomar uma destas duas atitudes, e optou por tomar uma semiatitude:
promulga o orçamento mas envia-o para o Tribunal Constitucional. Trata-se de
uma espécie de passa-a-outro-e-não-ao-mesmo político. Talvez fosse interessante
trocar o Presidente da República por uma estação dos CTT. O orçamento chegava
do Parlamento, colava-se um selo e enviava-se para o Tribunal Constitucional.
Poupava-se algum dinheiro, porque a casa civil dos CTT tem muito pouco pessoal,
e a casa militar ainda menos.
Em princípio, o Tribunal
Constitucional fará o mesmo que este ano: estudará o orçamento e, em meados de
2013, concluirá que ele contém, de facto, vários aspectos que violam a lei
fundamental do País. Isso fará com que Portugal continue a ser o semipaís que
conhecemos: de Janeiro a Junho, vivemos na ilegalidade; nos seis meses que
restam, continuamos a viver na ilegalidade, mas com uma consciência mais clara
disso. Que um semipaís possa ser chefiado por um semipresidente acaba por ser
uma sorte. A estabilidade política também se faz desta semihomogeneidade».
Boca
do Inferno de 20 de Dezembro de 2012-12-20 Ricardo Araújo Pereira
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