Deixei passar alguns dias antes de reproduzir aqui a ùltima carta do Comendador Marques de Correia publicada no Expresso, na esperança de assistir entretanto à adesão de um verdadeiro patriota que respondesse ao apelo ali deixado pelo ilustre Comendador.
Verifico, entretanto, que ou o Expresso tem menos leitores ou o patriotismo está em crise. Na dupla esperança que a crise não tenha afectado por completo o espírito patriótico e que este blog tenha algum leitor de marcado sentido patriótico, reproduzo a carta ainda esperançado que alguém possa ainda pensar que o 1.º de Dezembro é amanhã e que a tradição deve ser mantida.
Janelas há muitas. Venha o patriota.
cartas abertas
HOJE É DIA DE ATIRAR UM MIGUEL PELA
JANELA E DEVEMOS HONRAR O DIA!
COMENDADOR MARQUES DE CORREIA
Onde o nosso
Comendador nos recorda o valor simbólico do dia 1° de dezembro e nos exorta a
que o comemoremos
PORTUGUESES CELEBREMOS o dia da redenção, em que valentes guerreiros nos
deram livre a Nação. A fé nos campos de Ourique coragem deu e valor aos famosos
de Quarenta que lutaram com ardor. Avante! Avante! É a voz que soará triunfal.
Vá avante mocidade de Portugal!
O espírito do
dia, portanto, é este. Estou convencido de que este hino é tão conhecido como
a canção 'Apita o Comboio', porque tem, também, um alto valor patriótico. No
dia 1 de dezembro, o povo que vivia miseravelmente explorado pelos castelhanos
levantou-se atrás dos 40 conjurados (no sentido em que os 40 conjurados se
levantaram mais cedo) e correu com os espanhóis. Depois disso passou a ser
miseravelmente explorado por castelhanos, mas também por ingleses, franceses e
portugueses. A movimentação mereceu, portanto, a pena. Perguntarão os mais
céticos: ganhámos alguma coisa em nos libertar da Espanha? E eu respondo sem
pestanejar: claro que sim. Acaso a madrugada redentora e restauradora não
chegasse, estávamos agora a braços com um referendo como catalães, bascos e
galegos hão de ter. Além disso, em Lisboa, o Rossio ligaria à Avenida da
Liberdade, pois nunca teríamos a Praça dos Restauradores - a menos que dessem o
nome de uma praça ao produto que o dr. Fernando Ruas usa no cabelo, o que seria
pouco provável, não tanto pelo produto, mas pelo facto de o dr. Ruas ser de
Viseu.
Os mais jovens
não se lembram já do que se passou nesse dia, mas eu explico. Valentes
guerreiros comandados por um senhor que era casado com a Dona Luísa de Gusmão
vieram para a rua e restabeleceram o domínio português. A coisa, basicamente,
aconteceu porque a Dona Luísa disse ao marido: “Ouça, mais vale ser rainha um
dia do que duquesa toda a vida, tá a ver?” A frase é importante na celebração
da independência de Espanha, uma vez que sendo Dona Luísa a instigar a
independência nos esquecemos que ela própria era da casa de Medina-Sidónia, a
casa ducal mais importante de um país que tem a capital em Madrid. Assim sendo,
Portugal deixou de ser comandado por um lacaio de Espanha e passou a ser
comandado por um homem que fazia as vontades a uma espanhola. Há aqui - e fala
a experiência de muitos anos toda uma diferença que não vou explicar agora,
por ser demasiado fastidiosa. Perguntarão os incautos: nesse caso, se isso foi
assim tão simples, por que razão tanta gente ilustre, nomeadamente o dr.
Ribeiro e Castro, se indigna e irrita com o facto de terem terminado com o
feriado do 1º de dezembro (que calhando este ano a um sábado e para o ano a um
domingo, só mesmo em 2014 nos fará falta)? Porquê tanta conversa à volta de uma espanhola substituir um
lacaio de Espanha?
Ah! Meus caros!
Quanta ignorância! É que no dia 1º de dezembro defenestrou-se (no sentido em
que se atirou pela janela) Miguel de Vasconcelos. E eu penso que a verdadeira
tradição do dia está em defenestrar um tipo poderoso, com influência no governo
do país e que se chame Miguel.
Durante anos,
esperámos pacientemente o D. Sebastião do nevoeiro e um traidor de nome Miguel
para voltarmos à tradição de o atirar
janela abaixo. E a mim ninguém me convence que foi, por agora o termos à mão, que terminaram com este feriado. Mas
eu daqui exorto: Mantenhamos a tradição, defenestremos o Miguel! Vá avante,
portugueses!
PS.: Miguel
Relvas é alvo de uma campanha infame na qual colaboro, com gosto, na medida das
minhas possibilidades.
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