domingo, junho 05, 2011

às urnas, hoje


Não é a primeira vez que transcrevo aqui os certeiros, justos, inteligentes, bem informados e sempre bem humorados pensamentos do ilustre Comendador Marques de Correia, fazendo-lhe mais uma vez a vontade de não desvendar o seu real nome, continuando a respeitar o nome que para si tomou.
Hoje é dia de eleições e já nada mudará as decisões tomadas por cada um após o prolongado período de reflexão ... Não há pois qualquer inconveniente em aqui transcrever tão bem informado testemunho, publicado no Expresso de ontem, com o título «Às urnas, seus mortos (que velamos por vós)». Parece para rir, mas não é.

«Às vezes, rio-me da importância que a comunicação social e as pessoas vulgares dão às campanhas eleitorais. Em particular, a esta campanha. Quem, como eu, já sabe o resultado até às centésimas não pode deixar de rir com aqueles pândegos a ficarem roucos de tanto gritar.

Nem Sócrates nem Passos o sonham, e os outros muito menos, mas tudo foi combinado no hotel de Bilderberg, em Arnhem, Holanda, a instâncias de um misterioso senhor Coubert, ou Joubert ou Loubert (há dúvidas sobre a correta pronúncia do seu nome). Comigo, estiveram presentes dois portugueses cujo nome jurei não revelar, embora eles sejam tão importantes que vocês nem sabem quem são. Dos outros, lembro-me de Ariel Goldschmidt, que representa os interesses da banca judaica; Adrià La Fuente, uma estrela ascendente do Opus Dei; Rudolf Grimms, que faz a ponte entre a Grande Loja Suíça-Alpina (repleta de banqueiros) e a Grande Loja de Inglaterra, poderosas obediências maçónicas; Rober Vilain, um templário esotérico; o cardeal Esquemini da Cúria Romana, Rouskiev, um enviado dos interesses petrolíferos russos; Danny Husk, um agente importante da CIA na Europa; Poul Thomsen, do FMI, Gerard Steinberg, um alemão da Trilateral e um chinês de nome Bao.

Estes eram apenas os mais importantes, havia outros, menos recordáveis, que se movimentavam com recados e intrigas sobre outras paragens. Como Bao deixou claro, Portugal é um pequeno problema, mas tem de ser resolvido por causa do euro, que por sua vez tem influência no dólar e no yuan. A fragilidade de um dos vértices deste triângulo afetaria terrivelmente a possibilidade de o capital financeiro continuar os seus negócios lucrativos - eis o que ali reunia tanta gente de tanta proveniência, para resolver o "pequeno problema português". Na verdade, as coisas ficaram rapidamente solucionadas. Quem ganha, por quanto ganha e quem perde e o que lhe acontece (está em aberto saber se é um lugar na Gazprom Renováveis ou ir dar aulas de política).
Jantámos bem e voltámos aos respetivos países.
Em Portugal começou a campanha com uma luta taco a taco. Essa é a maneira habitual, explicou Grimms, de levar mais gente a votar, instalando-se a ideia de que o povo decidiu o futuro do país. Vilain ainda tentou a piada de os deixar empatados - "só para nos divertirmos" - mas a ideia não pegou. De qualquer modo, Goldschmidt vincou o programa: No pain, no gain, como diz o provérbio! Ou seja, sem o sofrimento (dos tugas) não há ganho (nosso).
Até agora a campanha seguiu o guião.
Ninguém fala das medidas de Goldschmidt, autênticas imposições do grande (diria mesmo enorme) capital financeiro. Os pequenos incidentes, sem importância, como previu e preparou Rouskiev, tomaram conta do dia, a dia. As sondagens evoluíram de modo a que não se saiba quem será vencedor, dando a entender que a decisão cabe ao eleitorado, embora já desenhem os contornos da solução. Mas o importante é que os bancos voltem aos lucros e lá chegaram de Bruxelas os milhões.
Podem perguntar-me porque revelo, pela primeira vez, este tipo de informações. Ora, cinicamente, respondo: porque vós não acreditais! Ireis votar de qualquer modo, como zombies; mortos-vivos comandados por uma força superior. Como dizia La Fuente, "mandar os portugueses votar é como mandar mortos para às urnas. Quase me apetecia gritar: Às urnas, seus mortos!". E todos se riram, embora o russo e o chinês não tenham percebido a piada, pois nos seus países não metem cadáveres nas urnas, despacham-nos diretamente para a vala comum, acrescendo o facto de, na China, não terem, sequer, votos.
Poder-vos-ia dar já os resultados das eleições, mas os presentes na reunião fizeram um acordo com o Rui Oliveira e Costa, de modo a ser ele a dá-los às oito da noite de domingo, através de uma sondagem à boca das urnas que está numa gaveta lá de casa. Só por isso, não os partilho.
Porém, munido destes segredos, posso assegurar-vos: aconteça o que acontecer, os ricos vão continuar ricos, os pobres vão continuar pobres e o Tony Carreira vai continuar a encher concertos. Ou seja, no essencial a vida não muda, é previsível. E sabem porquê? Porque num hotel ao pé de Arnhem, o hotel de Bilderberg, alguns homens superiores tomam conta de vosso futuro. E do de Sócrates. E do de Passos».

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