sábado, junho 18, 2011

o seu a seu dono


Sob o título «Cavaco & Barreto», escreveu hoje Fernando Madrinha estas justas e oportunas palavras nas suas crónicas habituais do Expresso. De facto, nunca se deve esquecer o passado e muito menos quando as pedras que se atiram podem atingir não só o telhado do vizinho, mas também o nosso próprio.
Por outro lado, há que ter cada vez mais cuidado com o ar que arvoramos de seres à parte, de méritos e comportamentos inatacáveis e acima de toda a suspeita, quando é cada vez mais estreito o orifício que nos separa dos demais e por consequência mais difícil de passar.
E no que respeita aos dois visados do título, se um, desde sempre, defende que nunca se engana e raramente tem dúvidas, o outro tem vindo a pouco e pouco a considerar-se um oráculo lusitano, um asceta e um despojado intelectual de interesses e honrarias, mas deixando antever ou suspeitar que o seu olhar e acção indicam o contrário. Talvez por isso esta crónica me tenha tocado e feito com que aqui a deixe para quem não teve a oportunidade de a ler antes.

«Nas cerimónias do Dia de Portugal, em Castelo Branco, o Presidente tinha um objetivo: "Trazer o interior do país para o centro da agenda nacional". Pois, o mais que conseguiu foi que lhe atirassem à cara as suas próprias responsabilidades pela situação a que o interior chegou, por força de decisões tomadas nos seus mandatos como chefe do Governo.
Por pouco não se apelou a que "o apuramento de responsabilidades" pedido por António Barreto se aplicasse não só aos recentes seis anos de José Sócrates, alvo aparente do orador, mas também aos 10 anos de Cavaco como chefe do Governo. Aliás, se a responsabilidade criminal- supondo-se que era a esta que Barreto se referia - fosse aplicada retroativamente aos agentes políticos, quem sabe se o próprio sairia imune, visto que também ele tomou decisões controversas, pelo menos aos olhos do PCP, enquanto ministro da Agricultura nos idos de 1976.
Não é fácil ser prior nesta freguesia e Cavaco paga o preço da sua longevidade política. Mas factos são factos. O abandono da agricultura a troco de uns milhões que se esfumaram rapidamente, boa parte deles nas mãos de uns poucos, foi uma opção fatal para o interior e para o país no seu conjunto. Muita gente o disse na altura e ao longo destes 20 anos. Não admira, pois, que um discurso certeiro e consistente, como o que Cavaco proferiu no 10 de junho, perca toda a sua eficácia. É difícil alguém passar a mensagem quando as preocupações enunciadas hoje não batem certo com decisões tomadas ontem».

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