quinta-feira, novembro 11, 2010

a nau portugal 1

A crónica publicada pelo Comendador Marques de Correia na sua coluna Cartas Abertas, na Revista Única do passado dia 6 de Novembro e intitulada «Se não fossem os dois velhotes, o país ficava sem massa para mandar cantar um invisual», refere um acontecimento recente da Nau Portugal que ficará para sempre registado na memória dos portugueses. Não vale a pena referir-me a ele, uma vez que o ilustre Comendador o faz de forma magistral. Aconselho-vos a sua leitura e agradeço ao Expresso, ao autor e ao ilustrador que não se zanguem por esta publicação no blog.



Agora que todo o país viu a fotografia dos dois velhotes a assinar a papelada e que se espera sinceramente não haver mais problemas, posso revelar que fui eu quem tirou a fotografia. Podem perguntar: que raio estava um Comendador já muito entrado de idade a fazer em casa de Eduardo Catroga quando este discutia o futuro do país com Teixeira dos Santos? A minha resposta é simples: Não têm nada a ver com isso!
A coisa foi assim. O Teixeira telefonou ao Catroga e este convidou-o a beber um chá de tília lá em casa. Aceite o convite, o Teixeira entrou e disse:
- Boa tarde! Trago aqui uma proposta nova ...
- E corta na despesa?
- Sei lá, eu já não percebo nada disto, achas que eu me entendo com estes números todos?
- Eu também não, mas se pudermos dizer que corta na despesa eu digo ao miúdo e ele fica todo contente.
- Mas eu não posso dizer ao meu que corta na despesa. Dá-lhe uma birra que ainda me parte a cabeça!
- A Merkel não lhe falou?

- Deve ter falado! Falou com o teu?
- Falou, no PPE...
- Hummm ... Então dizemos que corta na despesa ...
- E as deduçõezinhas?
- Vai a meias. Quantas queres?
- Só o sexto e o sétimo escalão. O miúdo não queria nenhuma, mas eu convenço-o. E no que cedes mais?
- Não me venhas com cedências que o Sócrates não gosta ...
- Mas isto é só para chatear o Sócrates, ou achas que estou aqui a fazer o quê? A tornar melhor uma porcaria de OE que não tem pés nem cabeça?
- Olha que não é assim tão mau ...
- Bebe o chá, anda. Dá-me lá uma cedência ... Já me deixaste a secar quatro horas ainda me zango contigo!
- Só se tu me deres outra. Convence lá o Passos ...
- Ok, cedemos os dois. Achas bem?
- Acho, assina aí!
- Assino o quê?
- Um papel qualquer, para o Comendador tirar uma fotografia que amanhã podes mostrar aos jornalistas.
- Mas fizeste as contas?
- Ah...
- Pois...eu também não!
- Para quê? Eu por mim tinha fechado isto há mais de um mês!
- Também eu, mas eles lá sabem ...
- Pronto, já assinei, toma lá a caneta.
- Venha ela ... Ah ... espera aí um bocado, não sais daqui sem acabar o Conselho de Estado.
- Vamos ver televisão, está a dar o Porto.
- Não vês futebol nenhum cá em casa. Ficas à espera que o Passos telefone e eu lhe conte ...
- Vá lá, deixa-me ver o Porto!
- Queres negociar isso, também?
- Se me deixares ver o Porto dou-te mais uns pós.
- Tipo quê?
- Sei lá, mantém-se o leite achocolatado a 6%.
- Vê lá o Porto, mas olha que esta parte é secreta.
- E na especialidade abstêm-se, ouviste?
- Claro. Bem, podes ir embora. Vemo-nos amanhã ...
- Adeus, Eduardo, ainda vamos ter saudades disto.
E, separaram-se com a sensação do dever cumprido. Tinham feito mais um serviço à Pátria. Doravante, sempre que pensardes no país, pensai nos velhotes que, salvando-o da bancarrota, vos meteram a vós nela.

Comendador Marques de Correia

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