terça-feira, abril 09, 2013

repensar a europa

Cada dia que passa parece haver cada vez menos Europa e cada vez mais Alemanha, cada vez menos políticos competentes e cada vez mais vorazes banqueiros.  Cada vez menos humanismo e cada vez mais finanças. Cada vez menos espíritos abertos e esclarecidos e cada vez mais folhas de Excel. Sabe bem quando alguém se manifesta e expõe o seu pensamento. Deixo aqui um texto a ler e meditar da autoria de um professor universitário de Direito que vem afirmar o que outros não são capazes de dizer.  
 


A Europa da vergonha

«A União Europeia agoniza, ligada ao ventilador do Banco Central Europeu. Já é pouco mais do que um prestamista ávido e zeloso, que contabiliza dívidas, avaliza empréstimos e apresenta facturas. Gregos, irlandeses, espanhóis, portugueses ou cipriotas – e, em breve, outros – deixaram de ser povos ou nações, para passarem a ser, simplesmente, devedores.

É certo que a UE e as anteriores Comunidades sempre foram mais dos bancos e do capital financeiro do que dos cidadãos. Mas esse pecado original que, em certo momento, pareceu poder ser redimido por um baptismo de cidadania, foi-se, ao invés, agravando, com o esboroar do mito da Europa social, pela pressão conjunta da crise económica, da mediocridade e estupidez dos líderes europeus e do despertar dos nacionalismos adormecidos.

Não é a crise do euro enquanto moeda o mais preocupante. A moeda, esta ou outra, não passa de um instrumento económico. O preocupante é que o euro é uma moeda comum a vários países, tendo, por isso, um valor também simbólico. Como a bandeira, ou o hino. E, tal como estes, somente fazia sentido como etapa de um percurso integrador.

Mas o percurso integrador, perdidos os marcos que o pontuavam, desvaneceu-se.

O que ficou foi esta frustração angustiante, sem amanhã à vista, repleta de decisões que se adiam, de reuniões inconclusivas, de planos que não se cumprem, de mistificações infantis, de discursos gastos e patéticos. O episódio lastimável da tentativa de confisco dos depósitos nos bancos cipriotas é apenas o último e mais reles – até ao próximo.

O estertor da UE resulta de uma doença incurável, que os tolos de Bruxelas ao serviço de Berlim pretendem curar com aspirinas. Eu gostava de acreditar que, nos bastidores desta tragédia, não estão mãos alemãs. Mas tenho dificuldade. Não consigo esquecer que um país com menos de 150 anos já quase destruiu a Europa por três vezes, sempre com efeitos devastadores crescentes. Apenas se conteve quando foi obrigado a ajoelhar pela força ou quando precisou dos outros países, como no período pós unificação. Mas, graças à indiscutível capacidade dos alemães e à generosidade dos vencedores, sempre se reergueu.

Agora não precisa de divisões panzer: bastou-lhe endividar os compradores da sua gigantesca produção industrial, passando a controlar os seus bancos. Não precisou de ocupar a Europa porque a comprou. Culpa também nossa, é certo, que nos vendemos.

A humanidade já viu nascer e morrer reinos e impérios, sociedades brilhantes e tribos isoladas. Regra geral, não se evaporaram, transformam-se noutras coisas, em resultado de novas ideias, do progresso técnico, de revoluções, de catástrofes diversas.

Talvez seja de ponderar se esta Europa ainda nos interessa, àqueles países que apenas divisam um futuro de incerteza, sacrifício e empobrecimento. Talvez que o Plano B, que o governo diz que não tem, deva equacionar os custos e as vantagens – também existem algumas – não só da saída do euro, mas também de uma saída da UE. Talvez que o tempo da UE se tenha esgotado, devendo ceder o lugar a outra coisa.

Ou talvez quem esteja a mais na UE não sejamos nós, os espanhóis ou os gregos – mas os alemães».

Declaro que este texto e quaisquer referências ou citações nele contidas são da minha exclusiva responsabilidade.

Mar.2013    João Caupers

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