domingo, julho 12, 2015

a loja dos trezentos






Transcrevo este texto de Mariana Mortágua que me parece oportuno e directo.

Ainda me lembro da primeira (e única) loja dos 300 que abriu na minha terra. Ficava ali a seguir ao largo da Câmara, logo depois do talho da Fatinha, e vendia tudo, mas mais barato. Ontem, quando olhei para as capas dos jornais, senti-me a viver numa loja dos 300. Os chineses da Fosun dizem que Portugal é o melhor país da Europa para vir às compras. Não vêm comprar sapatos, nem vidro da Marinha Grande, querem as empresas. Em três jornais distintos aparecem ligados a negócios na saúde, turismo, agricultura e comunicação social. Não para investir ou criar emprego, mas adquirir o que já existe e foi, tantas vezes, criado com o nosso dinheiro.
Percebe-se, o negócio que fizeram com a Fidelidade, que era pública, deixou um sabor a pouco. Foi há um ano que a Fosun se endividou (a 5%) para comprar a maior seguradora portuguesa por mil milhões de euros. Entretanto a Fidelidade usou os seus recursos para emprestar esse valor à Fosun, que precisava de reduzir o endividamento, mas a 3%. E ainda sobraram umas centenas de milhões para comprar imóveis de um outro negócio que o fundo decidiu fazer. A Fidelidade é uma árvore das patacas e dá imenso jeito à Fosun ter um jardim delas. Também dava jeito ao Estado, mas para isso era preciso que não tivesse sido privatizada.
Os chineses da Fosun não são os únicos, nem os primeiros. Se há muito que as fronteiras travam e destratam quem procura uma vida melhor em Portugal e na Europa, o mesmo não se aplica ao dinheiro. Os aeroportos portugueses são, na verdade, franceses, assim como a gestão das duas maiores pontes sobre o Tejo. A eletricidade portuguesa é, na verdade, chinesa. As infraestruturas elétricas nacionais são, na verdade, do Qatar. Os bancos são angolanos, como parte da comunicação social, onde agora também os fundos chineses querem entrar. Irónico, ou perigoso, dada a difícil relação que ambos os países mantêm com a noção de liberdade e democracia.
Mas ainda falta! Falta o Novo Banco, a TAP que vai, em parte, e pelo que se sabe, para o Estado brasileiro. Ainda faltam hospitais, transportes, resíduos e quem sabe, em breve, a água. O Governo esforça-se, apressa os processos e leva o país ao Mundo, em road shows para investidores em que apresenta as vantagens do paraíso português, onde tudo se vende, barato e fácil, com direito a um visto dourado. É prò menino e prà menina.
Que toquem as trompetas e se alegrem as cortes, a estratégia resultou. Portugal entrou no mapa! É a loja dos 300 da Europa.

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