segunda-feira, agosto 23, 2010

léo ferré ele próprio e revisitado

Aqueles que já contam mais de 50 anos, por certo apreciarão ouvir uma vez mais a poesia e a voz de Léo Ferré, esse magnífico escritor e cantor, nascido no Mónaco em 1916 e falecido em 1993. Todos os que então o ouviam, apreciavam garantidamente a beleza das palavras, a música que as acompanhava e ainda, ou sobretudo, a sensibilidade, a expressão, a emoção, que ele lhes imprimia. Poderia colocar aqui muitos dos seus sucessos. Escolhi colocar Thank You Satan, pela força da mensagem, pela modernidade com que construiu alguns efeitos musicais e, sobretudo, por poder deixar também aqui uma versão do mesmo poema interpretado por uma banda de rock ou art rock criada no mesmo ano em que Ferré morreu - os Dionysos. Banda de jovens liceais, residentes em Valence, no Drône, sudoeste de França. Vale a pena ouvir as duas versões. Vamos a Léo Ferré, o próprio:



Ouçamos agora os Dionysos - Mathias Malzieu, Éric Serra Tosio, Michaël Ponton, Guillaume Garidel, Élisabeth Maistre (Babet) e Stéphan Bertholio



Para aqueles que tenham perdido algumas das palavras do poema, deixo-vos uma tradução em português feita pelo brasileiro Paulo de Tharso

Thank You Satan, de Léo Ferré

Por essa chama que você acende

No vazio de uma cama pobre ou não
Pelo prazer que ela consome
Em panos de seda ou algodão
Pelas crianças que você cria
Nos dormitórios de querubins
Por suas pétalas esquecidas
Como a rosa da manhã

Thank you Satan

Pelo ladrão que você aquece
Com tua lã macia e berne
Por toda porta descerrada
Dos celeiros dos ricos empanturrados
Pelo condenado que você vela
Na abadia dos ministérios
Pelo rum barato e velho
E pela guimba que você lhe dá

Thank you Satan

Pelas estrelas que você semeia
No remorso de um matador
Pelo coração que bate igual
No peito das putas dos bataclãs
Pelas idéias maquiadas
Na mente de todo cidadão
Pela queda da Bastilha
Que nunca nos dará o pão

Thank you Satan

Pelo padre que se exaspera
Para encontrar o cordeiro de Deus
Pelo sangue vagabundo, elementar
Que ele bebe como Château Margoux
Pelo anarquista a quem você dá
As duas cores de teu país
O vermelho para nascer em Barcelona
E o negro para morrer em Paris

Thank you Satan

Pela sepultura anônima
Que você deu ao Monsieur Mozart
Sem cruz, sem nada, salvo a piada sem graça
De um cão surgido ao acaso
Pelos poetas que você escorrega
Nos travesseiros dos adolescentes
Quando eles crescem sob a sombra cúmplice
Das flores do mal dos dezessete

Thank you Satan

Pelo pecado que você faz nutrir
Nos seios das mais rígidas virtudes
E pelo tormento que irá surgir
No canto dos leitos onde você não mais está
Pelos imbecis que você ordena padre
No pasto como carneiros
Por teu orgulho de jamais aparecer
Na televisão

Thank you Satan

Por tudo, e mais ainda:
Pela solidão dos reis
E pelo riso na cara das caveiras dos mortos
O jeito de driblar a lei
E que não me ponham o dedo em riste
Pois eu canto por teu bem
Nesse mundo onde as focinheiras
Não são feitas só para os cães

Pela beleza destes dois vídeos poderei dizer - Thank You Satan

1 comentário:

msg disse...

Muito boa noite,CARO DOUTOR

Em primeiro lugar,THANK YOU. Depois,Pela solidão dos reis. Só dos reis?
Para terminar,

UM REI DO ORIENTE
Partiu com a bolsa cheia de ofertas para o Menino. No caminho, encontrou muita miséria, e lá se esvaziou a bolsa. Os últimos a serem contemplados foram uns escravos,que ele libertou. Pois estes escravos,já libertos,maltrataram-no, porque tinham fome. Contavam que o
rei lhes valesse mais uma vez.

Muito boa saúde,CARO DOUTOR