segunda-feira, janeiro 14, 2013

benefícios indirectos

Tenho de evitar ler durante algum tempo as crónicas de Ricardo Araújo Pereira na Visºão..Não tenho outra alternativa para nºao me arriscar a que todas as semanas porte aqui outra das suas crónicas. Que diabo! O blog é meu e não dele! Por isso, de duas uma - ou começo a escrever crónicas minhas de que goste ou tenho que me reduzir à missão de divulgador do trabalho dos outros. Será que os cortes de 2013 me vão beneficiar indirectamente? Serei esfolado, mas vai haver quem se arrependa de o fazer. Podem acreditar. Eu não tenho humor nem a subtileza do RAP... 
 
Andava um burlão em Portugal mas identificaram-no

«O leitor acompanhou a his­tória daquele burlão que apareceu na comunicação social a dar falsas espe­ranças aos portugueses?

Foi realmente incrível, a mensagem de Natal de Pedro Passos Coelho. Quando o primeiro-minis­tro prometeu que, para o ano, todos iríamos beneficiar de novas oportunidades, fiquei com a sensação de que, em 2013, o País ia ser um lugar de sonho, em que toda a gente conse­guiria usufruir de condições excepcionais para subir na vida. No fundo, que o Portugal do ano que vem seria para os portugueses o que o BPN da última década foi para aqueles amigos do Presidente da República. Por isso mes­mo, a promessa não me entusiasmou. Gozar daquele tipo de benefício pode ser agradável, no início, e até render milhões, mas depois sabemos como tudo acaba: olhe-se para as dezenas e dezenas de implicados no escândalo do BPN, para as fortunas que tiveram que devolver, para as duras penas de prisão que estão a cumprir. A esse preço, ninguém deseja ser bem-sucedido na vida.

Falou-se ainda noutro burlão, mas confesso que não consegui perce­ber a história. Primeiro, a comunicação social disse que se tratava de um pres­tigiado professor de economia social e observador das Nações Unidas. Depois, a mesma comunicação social disse que era um charlatão. Eu, que não acredito em nada do que vem na comunicação social, fiquei satisfeito com a minha posição de princípio, mas sem saber o que pensar acerca deste caso concreto. Limitei-me a registar, com alguma surpresa, o entusias­mo dos que se gabaram de ter encontrado um burlão em Portugal. Olha que façanha. É por isto que o País não avança: as pessoas contentam-se com pouco. Muito menos compreendi a galhofa de quem assinalou que o burlão tivesse tido tempo de antena. Toda a gente sabe como funciona o mundo: um charlatão crítico da austeridade pode conseguir uma tribu­na na televisão; um charlatão partidário da austeridade pode chegar a secretário de Estado. Ou até um pouco mais acima.

Não quero fazer a rábula do cínico, mas a verdade é que o País já não me surpreen­de com estes truques antigos. Portu­gal terá de se esforçar muito mais se quiser impressionar-me - e acredito que queira. Sonho, por exemplo, com o dia em que não leremos considerações sobre o Natal no fa­cebookde Pedro Passos Coelho, mas considera­ções sobre Pedro Passos Coelho no facebook do Natal. Bem sei que as quadras festivas não têm (por enquan­to) facebook, mas seria tão estimulante para o povo português que os desabafos de Passos Coelho sobre o Natal fossem substituídos por desabafos do Natal sobre Passos Coelho. Exemplifico: «Amigos, este não era o primeiro-ministro que merecíamos. Muitas famílias não tiveram na Consoada os pratos a que se habituaram porque ele aumentou os impostos e cortou os subsídios, apesar de ter garantido que não o faria. A todos vós, no fim deste ano tão difícil em que tanto já nos foi pedido, peço apenas que procurem a força para, quando olharem os vossos filhos e netos, o façam não com vergonha por terem votado neste homem, mas com a esperança de quem sabe que a legislatura só dura até 2015 - ou mais cedo, se Paulo Portas entender que isso é benéfico para o CDS-PP. A Páscoa e eu desejamos a todos umas Festas Felizes. Um abraço, Nata!.» Isso seria suficientemente bizarro para conseguir ser surpreendente em Portugal. Ao menos, durante dez minutos».
 
Ricardo Araújo Pereira, Boca do Inferno - Visão de 3 de janeiro de 2013 

Sem comentários: