terça-feira, novembro 08, 2005

Os caminhos da mente

São infinitos os caminhos da mente. Infinitos e tortuosos, Por mais rectas que sejam as ideias ou a formulação dos pensamentos.
Eu penso, ou digo a mim mesmo que vou pensar, que não há nada melhor numa relação a dois do que o intercâmbio, a comunhão de ideias, de ideais e de vidas, sem que por comunhão se entenda forçosamente pensar o mesmo. Penso isso e como tal desperto em mim o estímulo - ordem para o processamento mental desta ideia, que vai do pensar isso, ao dizer isso.
Seja isto ou seja outra coisa, fisiológica e anatomicamente falando o caminho será o mesmo, não obrigatoriamente pelas mesmas ruas e praças da alma, mas pelo menos nas suas equivalentes. Nisso parece não haver dúvida ou simplesmente eu penso que não há. Recuso-me, como médico, a pensar que os caminhos sejam diferentes em cada um destes circuitos. Diferentes na sua estrutura, evidentemente. Embora possa pensar, e não me custe a admitir, que haja vias largas, de grande e fácil tráfego para as ideias correntes, de ésimos de segundo, e outras vias mais estreitas onde é preciso ter condução mais cautelosa. Mas voltemos ao início.
Logo, eu penso. E logo, aguardo ouvir os sons que fazem a tradução verbal daquilo que pensei. Nada mais fácil, nada mais frequente. Porquê, então, não os ouço sempre? Mas apenas, quase sempre?
O que sucede então ao que está para além do quase sempre? O que é que se passa para que a seguir à formulação da ideia se ouça o silêncio? Assim, tal e qual o escrevi. Se ouça o silêncio. Porque não é só não ouvir a ideia convertida em fala, mas pior que isso, é ouvir a ausência das palavras, ouvir o seu silêncio grave, que é feito de dissonâncias e atonias que arrepiam, que constrangem e angustiam.
O que é que se passa então? Aonde o lápis azul do neurónio censor? Quem coloca nos caminhos da mente as armadilhas e o conhecimento delas, o lápis e o azul? Quem é que não dá passagem à ideia? Quem causa os engarrafamentos que dificultam a sua circulação? Porquê não se escapa a ideia por caminhos secundários e faz bypass a todas as barragens? Haverá uma Brigada de Trânsito no nosso cérebro? Também andará de Toyota?
Como pode o próprio fazer mal a si mesmo e pensando que faz bem? Talvez pensando que proibir a tradução verbal da ideia é defender quem a teve, do ataque de outrem. Isto é um raciocínio simplista de mais, para nele se acreditar. E dar-lhe crédito é admitir que não há limiares de conhecimento e entendimento. É admitir que a leitura que o cérebro faz de cada informação é sempre feita de igual modo, de acordo com igual programação. Um software muito pouco soft...Quase apetece dizer m…. para tudo isto, se isto assim for. E se assim não for, como será? Ou como poderá ser? Informação, tratamento da notícia e resposta adequada, mesmo que esta seja o silêncio? Mas se este silêncio vai doer, aonde o sinal de alarme avisador? O aviso da dor? Será o nosso cérebro um IBM ? Cérebro de «indivíduos bem masoquistas»?
Ah, como eu adorava ouvir aquilo que penso….
O que é que me defende na escrita?
A escrita liberta?

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