sábado, julho 22, 2006

e, seu eu vos contasse? – 13.º programa – o hospital real de todos os santos

Este hospital resultou da necessidade sentida de concentrar num só hospital as dezenas que havia em Lisboa dos finais do século XV e princípio do XVI. Havia nesse tempo mais de cinquenta hospitais em Lisboa, todos pequenos e sem condições e destinados a determinadas profissões ou doenças. Havia o dos tanoeiros, o dos sapateiros, o dos carpinteiros da Ribeira, o dos pescadores, dos alfaiates, dos marítimos, dos escolares, dos hortelãos e mais um sem número de profissões e dezenas de outros com nome de santos ou com nomes estranhíssimos, como o de Cata-que-farás ali para Santa Justa. Para acabar com esta situação e por entender que Lisboa necessitava de um grande hospital, moderno e eficaz, D. João II resolveu mandar construir um dos mais modernos e grandes hospitais de toda a Europa, no dizer dos eruditos daquele tempo. Seria chamado de Todos os Santos exactamente porque nele se juntaram todos os doentes vindos daquelas dezenas de hospitais com nome de santos.
Viria a ser concluído no ano de 1501, sendo já rei D. Manuel I. Situava-se entre o Rossio e a Praça da Figueira e junto da igreja de S. Domingos. Era um edifício de grande beleza, de que ressaltavam a escadaria e a porta da igreja toda em jaspe. A construção base do hospital desenvolvia-se em cruz, em que um dos braços era a igreja e os outros três braços correspondiam às três grandes enfermarias, que se chamavam de Santa Clara, para as mulheres, a de São Cosme para os feridos e a de São Vicente para os febricitantes, para os que tinham febre. Esta disposição em cruz permitia que os doentes pudessem assistir à missa das suas próprias camas. No côncavo de cada dois braços havia um claustro com jardim e horta e uma fonte central, que davam bom ar para as enfermarias e os géneros vegetais para a alimentação dos doentes. Havia ainda da parte de trás o criandário ou a chamada casa dos enjeitados e mais duas pequenas salas reservadas para as doenças contagiosas. A capacidade inicial deste hospital era de 98 camas, o que se mostrou rapidamente insuficiente dada a grande procura por parte dos doentes. Começaram a deitar dois doentes por cama, como naquela época sucedia em vários hospitais da Europa e às vezes mesmo três. Por baixo destas enfermarias havia várias salas onde se acolhiam os peregrinos e os pobres que pediam esmola pela cidade. O pessoal médico era constituído inicialmente por um médico e dois cirurgiões, um dos quais dormia no hospital, mas passado pouco tempo eram já dois médicos e três cirurgiões e mais um mestre que curava o morbo serpentino. A arquitectura deste hospital era extremamente moderna e funcional, Para além daquele pormenor já referido de os doentes poderem assistir à missa das suas camas, causava admiração a quem visitava o hospital a forma como as camas estavam construídas, tendo todas um cacifo superior onde se guardava a roupa do doente e havia um sistema de porta falsa que permitia retirar os cadáveres dos doentes quando estes morriam, sem que os outros doentes disso se apercebessem. Havia também enfermeiros e enfermeiras para tratarem exclusivamente doentes do mesmo sexo.
(Copia de azulejo do hospital com o O e o S de Omnie Sanctorum)
Com o tempo foram-se construindo mais enfermarias e a capacidade de internamento do hospital foi aumentando para os 600 doentes e mesmo para os 700 doentes que era quantos tinha internados aquando da sua destruição durante o terramoto de 1755.

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