O tempo restante era para as missas, as orações, a alimentação e a dormida. No mês de Maio do ano de 1808, vários engenheiros e médicos militares visitaram o Convento de São Bento da Saúde, com vista a instalarem nele um hospital militar. Quando foram visitados pelos engenheiros e médicos militares, os frades não gostaram da graça e consideraram isso um abuso, uma vez que já tinham cedido parte do convento da Estrela. E diziam eles que, uma vez ainda vá, agora duas ...! Requereram, por isso, a Junot, no sentido de não serem ocupados e pediram a protecção do Conde da Ega. Como o convento não foi ocupados nessa altura, concluíram que isso se ficara a dever à à protecção do dito conde da Ega, facto que este não só nunca negou como logo aproveitou para pedir emprestadas 40 moedas de ouro ao Prior. Este deve ter-se arrependido mil vezes de as ter emprestado, pois logo no dia 22 de Agosto desse mesmo ano, o Intendente Geral da Polícia Francesa expediu um Aviso em que obrigava os frades a franquearem o convento, para ali se instalar um hospital, para receber os soldados franceses feridos na batalha do Vimeiro, que chegaram logo nos dias 23 e 24 de Agosto e passavam de setecentos. Depois disso, o convento serviu para instalar outros hospitais, nomeadamente o dos soldados ingleses, único que tinha a especial característica de dispor de enfermeiras inglesas, e que se supõe serem familiares das tropas estacionadas em Portugal. E, no que respeita à saúde acabou por ser Depósito de Convalescentes, o chamado Hospital dos Soldados Portugueses Convalescentes. Depois disso, este convento serviu para instalar as Cortes, em 1834, depois a Câmara dos Pares e dos Deputados, a Assembleia Nacional e a Câmara Corporativa, o Arquivo Nacional da Torre do Tombo e hoje a Assembleia da República. O Convento em que actualmente está instalado o Hospital da Estrela, foi construído pelos frades da Ordem de São Bento de Tibães, em 1572 ou 73 e é considerado pelos historiadores, o primeiro convento beneditino de Lisboa. Foi construído na chamada Quinta de Campolide, que pertencia ao Governador da Guiné, Luís Henriques que, por desmandos vários, seus e do seu genro Duarte Peixoto da Silva, a hipotecara a um negociante do Algarve, António Nunes, a quem estava devedor de uma grande soma de dinheiro e com quem andava em litígio. Teria sido o Cardeal D. Henrique a resolver o diferendo, mandando pagar a dívida e dando ainda uma indemnização ao capitalista algarvio, para que os frades construíssem ali o seu convento. Esta é uma versão, apenas uma versão, como sucede muitas vezes nestas coisas da História. Há quem diga que o que verdadeiramente se passou, foi que os frades beneditinos tinham ocupado a quinta do Governador da Guiné, sem permissão, e que quando este regressou e verificou tal facto, ficou furioso e explodindo de raiva. Mas quando viu a igreja que os frades tinham arranjado, a sua beleza e religiosidade, terá acalmado, felicitado os frades e deixando-os ficar.
Tenha sido assim ou assado, há uma coisa em que a História concorda – é sabido que Luís Henriques ficou viúvo e logo de seguida se fez frade naquele convento e naquela Ordem. Quando morreu, os frades fizeram uma lápide em que escreveram «aqui jaz Paulo Henriques(ou Luís?), religioso de São Bento, o qual fez estas casas antes de monge, que depois foi neste mosteiro. Faleceu a 9 de Junho de 1575».Há uma história que eu gostava de vos contar e que se prende com a razão do convento se situar aqui. História ou lenda, quem saberá? Diz-se, e vamos ficar por esta forma, que Frei Plácido de Vila Lobos, juntamente com Frei Pedro Chaves, teria vindo a Lisboa ver o que se passava com os frades da sua ordem, porque constava que algo de anormal se passava. Terá concluído que se tornava necessário encontrar instalações condignas e que seria útil para os frades trabalharem na construção do seu convento, pelo que se pôs à procura de um local que fosse indicado para o convento. E um dia, após o sermão que acabara de fazer na igreja do convento das Religiosas na Esperança, quando descia as escadas do púlpito, apareceu-lhe ao fundo delas, um homem idoso e de ar nobre, todo vestido de preto, que lhe terá dito que sabendo que ele procurava um local indicado para construir o convento dos beneditinos, ele sabia desse local ideal para o construir e estava disposto a mostrar-lho. E, logo de seguida, o terá levado à chamada Quinta de Campolide, que Frei Plácido Vila Lobos adorou. E quando se virou para lhe agradecer e manifestar o seu interesse naquele local, o homem tinha desaparecido, como por encanto, o que terá levado Frei Plácido a pensar que tinha sido o seu Santo Patriarca que, daquela forma, o viera ajudar.
Por Aviso de 21 de Novembro de 1817, da Secretaria de Estado dos Negócios da Guerra, foi decidida a ocupação e utilização de parte deste Convento, então com o nome de Colégio de Nossa Senhora da Estrela, desde que passara a ser exclusivo do noviciado, para ali se instalar a Repartição dos Hospitais Militares, ou 6ª. Repartição e no ano seguinte a Botica Geral do Exército, tendo esta ocupado o refeitório e servindo-lhe de armazéns, os corredores superior e inferior que correm ao lado da Igreja, do lado da porta do Evangelho.
No ano de 1834, foi transferido para este Convento, o Hospital Real Militar da Corte, que até então funcionara nas Janelas Verdes (Hospital de São João de Deus e que entretanto tomara a designação de Hospital Militar de Lisboa) e posteriormente em Xabregas.
Só em 1851, por Decreto de 6 de Outubro, se pode considerar como definitiva a sua instalação. Um Decreto de 2 de Dezembro desse mesmo ano, dá-lhe o nome de Hospital Militar Permanente de Lisboa. Já no século XX, passou a chamar-se Hospital Militar Principal, nome que ainda mantém.

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