quinta-feira, janeiro 15, 2009

o vinho e o mosto - um exercício de intertextualidade 9

Quem sabe se eu estarei morto depois de amanhã?
Se eu estiver morto depois de amanhã, a trovoada de depois de amanhã
Será outra trovoada do que seria se eu não tivesse morrido.
Bem sei que a trovoada não cai na minha vista,
Mas se eu não estiver no mundo,
O mundo será diferente --
Haverá eu a menos --
E a trovoada cairá num mundo diferente e não será a mesma trovoada.

Fernando Pessoa


Quem sabe se nem ao fim destas linhas chegarei?
Insegurança do destino que me amachuca, me domina.
Porque não temos validade, como as coisas?
Como máquinas, temos peças e sistemas.
Somos pessoas, não coisas, eu sei.
Onde está a garantia de nossas peças e sistemas?
Porquê Deus, ao escrever Made in Hell, se esquece do principal?
Quem baliza nosso mal estar, nossa angústia?
Continuariam a marcar amargamente nossas vidas
se tivéssemos prazo de validade?
E se tivéssemos controle de qualidade?
Quantos de nós não viveriam?
Quantos seriam lançados em vidas de saldos?
Teria eu chegado ao fim destas linhas?

CVR

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