terça-feira, julho 26, 2011

privatizações

Em 9 de Outubro de 1998, enderecei a José Saramago uma carta de felicitações por lhe ter sido concedido o Prémio Nobel da Literatura desse ano, em meu nome pessoal e das Sociedades a que então presidia a SOPEAM (Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos) e a UMEAL (Uníão dos Médicos Escritores e Artistas Lusófonos).
Entre várias coisas referia-me ao premiado como o homem raro, íntegro, coerente e frontal e ao escritor ímpar da literatura contemporânea, burilador e alquimista da palavra portuguesa (...,) e terminava escrevendo - Obrigado, José Saramago, por ter elevado a nossa língua ao local que ela merece e a tenha levado ao conhecimento dos muitos que teimam em nos ignorar.

Este intróito para melhor entenderem a razão porque hoje resolvi deixar aqui uma pequena transcrição da página 148 do Diário III dos Cadernos de Lanzarote, em que são bem patentes algumas das características que ali apontava e ainda pela oportunidade do tema nestes conturbados tempos que ora passamos.
Sei que nem todos amavam Saramago e que muitos o odiavam. Não sei, no entanto, de ninguém a quem ele fosse indiferente. E poucos como ele sabiam tão bem chamar os bois pelos nomes.

«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos.»

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