segunda-feira, março 06, 2006

E, se eu vos contasse? – 4.º programa –Medicina no Egipto – Medicina iniciática e concepção filosófica


Foi predominantemente mística e sacerdotal nos tempos em que predominava a influência oriental e empírica e realista onde houve mais contacto com a natureza e a civilização africana.
Era uma medicina com uma mitologia muito rica e em que quase todos os deuses tinham alguma função curativa.

Mas, o deus egípcio da medicina foi IMHOTEP, de que existem várias estátuas, a mais
importante das quais no Museu do Cairo. Mas, o mais antigo deus com poderes curativos foi HERMES TRISMEGISTO, especialista na doença mais frequente no Egipto, a oftalmia. Vários estudos efectuados em múmias, mostram a existência de variada patologia, desde lesões ateroescleróticas, ovos de Bilharzia, lesões sifilíticas, tuberculose óssea, fracturas várias, algumas recentes e que permitem verificar como eram feitas as imobilizações.
A história da medicina egípcia encontra-se fielmente registada em vários papiros encontrados, dos quais os mais importantes são o de Ebers e o de Edwin Smith. O papiro Ebers, encontra-se na Universidade de Leipzig.

A principal diferença entre a medicina egípcia e a assírio-babilónica, assenta fundamentalmente em que esta última baseava todo o centro da vida no fígado, enquanto a medicina egípcia considera a respiração o acto mais importante e característico da vida.
O diagnóstico chegou, entre os egípcios, a um grau elevado de perfeição. Conheciam várias doenças abdominais, do coração, transtornos da micção, amigdalites, muitas doenças dos olhos, vários tumores...
Entre os medicamentos eram mais frequentes o mel, a cerveja, a levedura, o azeite, os figos, cebola, alho, mirra, aloé, açafrão, ópio, alguns preparados de chumbo e produtos animais, gordura, cérebro, excrementos, sangue de hipopótamo, crocodilo, gazela, veado.... Estes medicamentos eram prescritos em formas ainda hoje em uso, como pílulas, supositórios, vomitivos, clisteres, unguentos.
Os instrumentos cirúrgicos eram sobretudo curetas e lancetas, inicialmente de pedra, depois de bronze e por último de ferro, metal já conhecido no Egipto.
Já se fazia e era de uso comum, a circuncisão, como se pode ver em vários monumentos dessa época em que se representa o pénis sem prepúcio.
No papiro de Edwin Smith há conceitos de extrema actualidade e muito usados em cirurgia de guerra, no século XX, na obrigatória triagem cirúrgica. Lá se diz que uns doentes podem esperar, outros devem esperar, outros se curarão, outros morrerão.
A quem lê este documento é difícil admitir que o que lá vem escrito tem 5 milénios de existência e corresponde a exactas observações clínicas. Outro facto que nos admira é que em parte alguma deste texto se referem práticas mágicas. Diz-se como fazer uma trepanação e quando deve ser feita, como se tratam as luxações e as fracturas, como se tratam as feridas e como é importante aproximar os bordos da ferida para uma boa cicatrização e, pasme-se, até se ensina a rejuvenescer os velhos, aplicando-lhes emplastros para fazer desaparecer as rugas da fronte.
A medicina egípcia caracterizou-se também por uma marcada noção de higiene e medicina social. Havia regras para enterrar os cadáveres, para a limpeza das casas, normas de alimentação, normas para as relações sexuais e para a inspecção dos alimentos.
As regras de higiene eram extremamente exageradas nalguns sectores, nomeadamente no que respeitava à higiene pessoal e muito especialmente no caso dos sacerdotes que eram obrigados a tomar banho duas vezes durante o dia e duas vezes durante a noite e cortar o cabelo de 3 em 3 dias. A água só podia ser bebida fervida ou filtrada. Repare-se neste avanço...
A lei egípcia proibia o aborto e as relações sexuais durante o período menstrual. O onanismo era considerado um vício inaceitável.
A higiene na infância era extremamente cuidada. O recém-nascido era envolvido em grandes panos brancos sem ataduras. Depois do desmame davam-lhes leite de vaca e mais tarde alimentos vegetais. Até aos 5 anos de idade a criança não usava vestimenta e dedicava-se ao jogo da bola ou do arco e praticava exercício físico.
Os cadáveres eram tratados e conservados o melhor possível, com atenções estéticas especiais, pois os egípcios acreditavam na vida para além da morte. Por isso, os cadáveres eram perfumados (os egípcios eram mestres na fabricação de perfumes), os cabelos e as unhas pintadas, o rosto maquiado.
O exercício da profissão médica era regulado por disposições particulares. A posição dos médicos na hierarquia social e do Estado estava perfeitamente definida. Chamavam-lhes Sun-Nu, o que significava «o homem dos que sofrem ou estão enfermos». Estes classificavam as doenças em 3 categorias – as atribuídas aos espíritos malignos, as de causa traumática e as de causa desconhecida (atribuídas aos deuses).


Em textos antigos de Homero, na Odisseia, pode ler-se que «os médicos egípcios são os melhores de todos». Heródoto, diz que «a medicina no Egipto está dividida e cada médico só trata de uma doença (devem ter sido os primeiros especialistas). Diodoro Sículo diz que «nas guerras e nas viagens dentro do Egipto, todos os doentes são curados gratuitamente, porque os médicos recebem compensação do Estado. Medicina social?É no Egipto que se encontra pela primeira vez uma casta médica perfeitamente organizada. No papiro Ebers há referências a um «superintendente dos segredos da saúde na casa do deus THOR» a um «chefe dos médicos», a um «médico consultor do palácio», um «conselheiro do palácio para curar a vista», um «grande médico do palácio» e até há pela primeira vez uma referência à farmácia, referindo-se um «superintendente de oficina para medir os medicamentos».

Espero que tenham ficado com uma ideia daquilo que vos prometi.

Para a semana há mais.

(continua)

CVR

www.darcordaoneuronio.blogspot.com

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