quarta-feira, março 22, 2006

e, se eu vos contasse? – 8.º programa – a medicina na idade média

Nos primeiros séculos da Idade Média, a situação dos estudos e do exercício da medicina na Europa, oscilava entre a medicina laica que seguia as antigas tradições romanas, e a medicina escolástica, com sede nos conventos.
De entre as Escolas que funcionaram nestes recuados tempos, a mais importante foi a Escola de Salerno, desde o século IX ao século XIV.
Há dúvidas se o Papa português João XXI, de seu nome Pedro Hispano, ali terá sido professor.
Também não se tem a certeza e já entra no capítulo das lendas, se esta Escola de Salerno foi fundada por quatro médicos – um grego, um latino, um hebreu e um sarraceno, o que, a ser verdade, justificaria que esta Escola centralizasse nela várias orientações e estilos.
Numerosos tratados médicos foram aparecendo ao longo dos tempos de funcionamento desta Escola, mas o mais importante e conhecido, terá sido o «Flos Medicine» ou «Regimen Sanitatis Salernitarum», considerado a espinha dorsal de toda a literatura de práctica médica até ao aparecimento do Renascimento. Foi escrito sob a forma de poema. Milhares de médicos, ao longo dos tempos, sabiam estes poemas de cor. Supõe-se que deste livro se fizeram mais de 300 edições, em francês, alemão e italiano.
Existe uma grande semelhança entre este livro e o «Thesaurus pauperum» de Pedro Hispano, Papa João XXI, mas, tendo em conta as datas de aparecimento de um e de outro não será de admitir que a autoria do Regimen Sanitatis salernitarum se deva ao médico português, embora se desconheça quem realmente o escreveu.
A uroscopia ou estudo da urina como decifração diagnóstica, era respeitada nesta escola e um dos seus médicos Isaac Hebreu, escreveu um livro sobre esta teoria, tendo em atenção a cor, a densidade, o cheiro, conteúdo, floculação e depósito no vaso de noite.
Foi também nesta escola que Ruggero de Frugardo, escreveu a primeira obra com importância sobre cirurgia e chamada «Post mundi fabrican». Durante 3 séculos foi o livro cirúrgico adoptado e mais seguido em toda a Europa. Foi tão importante que acabou por dar origem a um outro famoso livro chamado «Livro dos quatro mestres», que mais não era do que a crítica destes à cirurgia de Ruggero. A leitura destes livros antigos surpreende-nos a maioria das vezes, por encontrarmos neles conceitos médicos e cirúrgicos que continuam a ser de grande actualidade e que mostram o nível elevado de pensamento de quem os escreveu. Por exemplo, na cirurgia de Ruggero, a descrição de como se deve actuar no caso de fracturas do crâneo com afundamento, é primorosa.
Também a cirurgia de Rolando de Parma foi importante. Era um livro muito ilustrado e com grande qualidade de imagens.
O curso de medicina na Escola de Salerno, durava 5 anos e havia depois um 6º ano para o futuro médico praticar, sob a direcção de um médico reconhecido. Após isso, a Escola concedia-lhe a devida autorização para o exercício da medicina.
A partir de 1300, dá-se o declínio da Escola de Salerno e da medicina daqueles tempos. Os médicos só se preocupavam em usar ricos e sumptuosos trajes, com a uroscopia e a investigação do dia e da hora em que devia ser feita a sangria. Os estudos de anatomia e fisiologia foram abandonados.
A medicina caíu tanto que havia que fazer algo por ela. É como resposta a isso, que aparecem as primeiras Universidades ou Estudos Gerais. Uma das primeiras, senão a primeira, foi criada em Montpellier. Havia universidades que dependiam do poder político e outras da Igreja, mas em ambas a última palavra competia ao Papa. Desde 1200, até ao fim da Idade Média, constituiram-se 80 universidades na Europa. Mas, o funcionamento destas nada tinha a ver com o que viria a ser depois.
A anatomia, por exemplo, ensinava-se em lugares ou casas modestas e sem condições e nalguns casos, em casas onde funcionavam prostíbulos. Muitas vezes as lições eram dadas na casa do professor, a quem os discípulos pagavam as lições e a cadeira em que se sentavam e por vezes o professor podia hospedá-los e viverem todos juntos.
Os estudantes, sobretudo os estrangeiros, viviam em hospedarias e pagavam uma mensalidade ao senhorio que era negociada por 4 mediadores da universidade. As casas onde viviam os estudantes eram quase sagradas e era quase impossível o senhorio pô-los na rua. As repúblicas coimbrãs...
Neste período houve cirurgiões famosos, como Hugo de Luca e Guido Lanfranco, mais conhecido como Lanfranc, pois foi desterrado de Itália em 1290 e fez quase toda a sua vida em Paris, onde escreveu a sua Nos primeiros séculos da Idade Média, a situação dos estudos e do exercício da medicina na Europa, oscilava entre a medicina laica que seguia as antigas tradições romanas, e a medicina escolástica, com sede nos conventos.
De entre as Escolas que funcionaram nestes recuados tempos, a mais importante foi a Escola de Salerno, desde o século IX ao século XIV.
Há dúvidas se o Papa português João XXI, de seu nome Pedro Hispano, ali terá sido professor.
Também não se tem a certeza e já entra no capítulo das lendas, se esta Escola de Salerno foi fundada por quatro médicos – um grego, um latino, um hebreu e um sarraceno, o que, a ser verdade, justificaria que esta Escola centralizasse nela várias orientações e estilos.
Numerosos tratados médicos foram aparecendo ao longo dos tempos de funcionamento desta Escola, mas o mais importante e conhecido, terá sido o «Flos Medicine» ou «Regimen Sanitatis Salernitarum», considerado a espinha dorsal de toda a literatura de práctica médica até ao aparecimento do Renascimento. Foi escrito sob a forma de poema. Milhares de médicos, ao longo dos tempos, sabiam estes poemas de cor. Supõe-se que deste livro se fizeram mais de 300 edições, em francês, alemão e italiano.
Existe uma grande semelhança entre este livro e o «Thesaurus pauperum» de Pedro Hispano, Papa João XXI, mas, tendo em conta as datas de aparecimento de um e de outro não será de admitir que a autoria do Regimen Sanitatis salernitarum se deva ao médico português, embora se desconheça quem realmente o escreveu.
A uroscopia ou estudo da urina como decifração diagnóstica, era respeitada nesta escola e um dos seus médicos Isaac Hebreu, escreveu um livro sobre esta teoria, tendo em atenção a cor, a densidade, o cheiro, conteúdo, floculação e depósito no vaso de noite.
Foi também nesta escola que Ruggero de Frugardo, escreveu a primeira obra com importância sobre cirurgia e chamada «Post mundi fabrican». Durante 3 séculos foi o livro cirúrgico adoptado e mais seguido em toda a Europa. Foi tão importante que acabou por dar origem a um outro famoso livro chamado «Livro dos quatro mestres», que mais não era do que a crítica destes à cirurgia de Ruggero. A leitura destes livros antigos surpreende-nos a maioria das vezes, por encontrarmos neles conceitos médicos e cirúrgicos que continuam a ser de grande actualidade e que mostram o nível elevado de pensamento de quem os escreveu. Por exemplo, na cirurgia de Ruggero, a descrição de como se deve actuar no caso de fracturas do crâneo com afundamento, é primorosa.
Também a cirurgia de Rolando de Parma foi importante. Era um livro muito ilustrado e com grande qualidade de imagens.
O curso de medicina na Escola de Salerno, durava 5 anos e havia depois um 6º ano para o futuro médico praticar, sob a direcção de um médico reconhecido. Após isso, a Escola concedia-lhe a devida autorização para o exercício da medicina.
A partir de 1300, dá-se o declínio da Escola de Salerno e da medicina daqueles tempos. Os médicos só se preocupavam em usar ricos e sumptuosos trajes, com a uroscopia e a investigação do dia e da hora em que devia ser feita a sangria. Os estudos de anatomia e fisiologia foram abandonados.
A medicina caíu tanto que havia que fazer algo por ela. É como resposta a isso, que aparecem as primeiras Universidades ou Estudos Gerais. Uma das primeiras, senão a primeira, foi criada em Montpellier. Havia universidades que dependiam do poder político e outras da Igreja, mas em ambas a última palavra competia ao Papa. Desde 1200, até ao fim da Idade Média, constituiram-se 80 universidades na Europa. Mas, o funcionamento destas nada tinha a ver com o que viria a ser depois.
A anatomia, por exemplo, ensinava-se em lugares ou casas modestas e sem condições e nalguns casos, em casas onde funcionavam prostíbulos. Muitas vezes as lições eram dadas na casa do professor, a quem os discípulos pagavam as lições e a cadeira em que se sentavam e por vezes o professor podia hospedá-los e viverem todos juntos.
Os estudantes, sobretudo os estrangeiros, viviam em hospedarias e pagavam uma mensalidade ao senhorio que era negociada por 4 mediadores da universidade. As casas onde viviam os estudantes eram quase sagradas e era quase impossível o senhorio pô-los na rua. As repúblicas coimbrãs...
Neste período houve cirurgiões famosos, como Hugo de Luca e Guido Lanfranco, mais conhecido como Lanfranc, pois foi desterrado de Itália em 1290 e fez quase toda a sua vida em Paris, onde escreveu a sua «Grande Cirurgia», que era o livro de texto usado em Paris e em outras universidades. Deve-se a ele a célebre frase, de grande importância política e educacional, «Ninguém pode ser bom médico se ignora as intervenções cirúrgicas, nem ninguém pode ser bom cirurgião e operar se não conhece a medicina e a anatomia». Foi o primeiro grito de alerta contra a descriminação de que os cirurgiões eram vítimas e uma tentativa de acabar com a práctica instituída de a cirurgia ser praticada por pessoas incultas e sem preparação.
É curioso que séculos depois, o Marquês de Pombal tenha querido pôr fim a esta desigualdade e tenha feito um decreto para resolver o assunto, onde usou esta frase, sem contudo lhe atribuir a paternidade.
A peste negra ou peste bubónica de 1347. Foi tão terrível que até nos livros de Cirurgia se lhe faz referência, como no de Guy de Chauliac. O médico, durante a peste, usava uma estranha indumentária, com vestes longas que o tapavam completamente, luvas altas e trazia no nariz uma esponja embebida em vinagre, em que se dissolviam pós de canela e cravo. Esta esponja era metida num nariz comprido de ave.
Foi durante esta peste negra que surgiu a ideia e práctica da chamada quarentena, que veio até hoje e consistia em manter o doente afastado de contactos com outras pessoas durante 40 dias.
Sangria, purgantes, vesicatórios e clisteres foram a base fundamental da terapêutica na Idade Média. Mas, o principal medicamento foi a teriaga, segundo uns inventada por Andrómaco, na antiguidade, segundo outros por Mitríades. Diz-se que a receita foi encontrada por um deles, escrita e esculpida em bronze, no templo de Asclépios em Epidauro.
A teriaga, ao longo dos tempos, teve as mais variadas composições. Era uma mistura de vários produtos, tendo como base a carne de víbora. Algumas teriagas tinham mais de 50 substâncias. A preparação era difícil e requeria cuidados especiais.
Em Itália, no final de 1400, havia uma classe médica bem organizada, com leis que regulamentavam o exercício da medicina. O médico não podia fazer um diagnóstico e estabelecer uma proposta grave, sem consultar outro colega. Havia uma multa de 40 soldos, se um médico falasse mal de outro. Em público....

CVR
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