sábado, março 25, 2006

a mesa do poeta


Abauladamente cónico,
Dourado e verde,
Ergue-se o cedro,
Bem para o alto.

A lua, essa, está gorda,
Dourada-fogo,
Como lhe acontece estar.

Assim, tal e qual, a vejo eu
De meu amplo balcão,
Do canto de meu ring,
Onde combato a solidão.

Também ouço os sinos.
As crianças, os risos e as danças.
O cheiro a terra molhada
Que a Celeste antes regou.
Ouço o cantar da água
Na máquina que ela usou.

Ouço vozes adultas, a roda do triciclo,
As folhas que o vento arrasta.
Sinto a ferroada do mosquito,
Vejo luzes, muitas luzes.
De casas, muitas casas.
Além, mais perto, mais além.

Esta mesa de ferro onde escrevo,
À luz quente e dourada da lua.
É a mesa do poeta.

Toda a terra aqui chega,
Sons, cheiros, temperaturas.

Parece por encomenda,
O badalo do rebanho.

As hortênsias que são azuis,
Mesmo de noite.

O cão ladrou agora.
Quantas vezes, antes?

E eu vou continuar no meu balcão,
Para lá, para cá, para lá, para cá,

Contando metros, depois quilómetros,


Contando ausências, depois dores,


Contando amores, depois dores,

Dores.
Dores.
Dores.

CVR

www.darcordaoneuronio.blogspot.com

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