Inicialmente quando foi criado e construído não era como agora o vemos, uma vez que esta frontaria corresponde já às alterações que lhe foram introduzidas pelo rei D. João V e supervisionadas pelo engenheiro militar Brigadeiro Manuel da Maia.
O primeiro hospital data de 1484 e foi mandado construir pela rainha D. Leonor, esposa de D. João II e irmão do futuro rei D. Manuel, que para além de ser a alma deste hospital foi também a criadora das Misericórdias que este ano fazem 500 anos.
Há duas razões para explicar a razão desta decisão de D. Leonor de mandar construir o hospital. Uns dizem que tendo ela sofrido um aborto quando se encontrava em Almeirim, este se teria complicado com febre puerperal e nevralgias pélvicas, que só viriam a curar quando a rainha tomou banho nas águas sulfurosas das Caldas. Outros, dizem que não foi essa a razão e que tudo dependeu de a rainha passando por este local ter visto vários mendigos e pobres a banharem-se nuns charcos de água que por aqui havia e que se apiedou deles e logo decidiu empreender esta obra.
Tenha sido por uma ou outra razão ou por nenhuma delas, o certo é que a obra se fez e representou um grande avanço arquitectónico e funcional para aquela época. O hospital, para além dos banhos, estava dotado com enfermarias para homens, para mulheres, para religiosos e pessoas honradas, para peregrinos e passantes e para alguns empregados. A rainha dotou o hospital com um regulamento, chamado Compromisso e datado de 1512 e que determinava os direitos e obrigações dos doentes e de todos quantos ali trabalhavam e a forma de funcionamento: nele se estabelecia que o Hospital Termal abria no dia 1 de Abril e encerrava a 30 de Setembro de cada ano, data que viria ser alterado anos depois, em 1775, pelo Marquês de Pombal e D. José, que mandaram que passasse a abrir apenas a 15 de Maio.
O original do Compromisso encontra-se arquivado neste hospital, hoje Centro Hospitalar das Caldas da Rainha e foi um documento elogiado pela generalidade dos historiadores, com a excepção de Braamcamp Freire que o achava um regulamento mal feito e da rainha tinha uma opinião pouco favorável, que talvez se prendesse com a suspeita que chegou a haver de que teria sido ela quem teria envenenado o rei, seu marido, com arsénico, o que está em total desacordo com a ideia de pessoa misericordiosa que ela tinha. Inicialmente tudo era comandado pela rainha e depois do Compromisso pelo Provedor a quem ela conferia poderes quase reais dentro do hospital. O Compromisso estabelecia que o Provedor não podia ser frade, nem fidalgo acima de cavaleiro. Passou a usar como símbolo do poder, a bengala feita em cana da Índia, que a rainha costumava usar.
Foi por causa das águas termais e da rainha D. Leonor que nasceu a que é hoje cidade das Caldas da Rainha, que à data de 1500 não existia, nem como lugar. Foi criada por decreto e por incentivos vários, dados inicialmente por D. Afonso V, em 1474, que pretendia que 4 homens ali passassem a viver e construíssem casa onde pudessem dar guarida a todos aqueles que quisessem usar das águas. E posteriormente por D. João II, em 1488, que oferecia privilégios a vinte homiziados que ali se quisessem instalar e que deixariam de ser perseguidos pela polícia e teriam várias benefícios.
Depois a rainha pôs ao serviço do hospital as rendas de várias terras até aí pertença de Óbidos, Aldeia Galega e Merceana, para sustento do hospital e dos pobres que ali se fossem tratar. Assim se fez o lugar, depois a vila, hoje a cidade das Caldas da Rainha.
Não é certo que no local onde se construiu o hospital tenham sido encontrados vestígios da presença romana e da utilização das águas por eles, mas há quem defenda tal teoria. O que é certo é que havia 3 nascentes e a rainha mandou estudar qual seria a indicada para abastecer os banhos do hospital da água milagrosa. As canalizações eram em mármore e traziam a água para a sala do pocinho, onde se passou a beber e séculos depois a chamar buvette por influência francesa e para as piscinas dos banhos. A dos homens, onde cabiam 30 pessoas e que tinha a dimensão de 56 por 24 palmos e a das mulheres, onde cabiam 20 pessoas e tinha a dimensão de 46 por 13 palmos e ainda para o chamado banho da rainha, onde só esta se banhava e que agora estamos a ver.
À entrada havia uma sineta que tocava para marcar o início de funções. Chamavam-lhe a «campa».
Quando D. João V resolveu remodelar e aumentar o hospital as indicações que deu a Manuel da Maia foram as de que se devia fazer «o preciso, o decente e o mais cómodo para os doentes».
O tratamento termal durava 24 dias, assim repartidos:
1 dia para confissão e comunhão
5 dias de xaropes e 1 de purgas
3 turnos de banhos durante 9 dias
4 dias de folga entremeados a purgas e banhos
4 dias de convalescença
Segundo a estatística curavam-se por ano – 600 doentes.
O tratamento assentava nos banhos e posteriormente começou também a ser bebida, depois de um militar francês, de seu nome Patoullier, defender que elas faziam bem a tudo. Isso ocasionou uma quase revolta dos empregados dos banhos que achavam que dessa maneira iam perder o emprego e tudo fizeram para desacreditar Patoullier. Mas, a verdade é que vingou a tese de que as águas também faziam bem quando bebidas.
Embora tenha havido ao longo dos tempos várias análises feitas às águas, de muito pouco rigor científico, só é de crédito a análise feita já no século XX.
CVR
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