Há já bastante tempo que o vinha notando. Mas só ontem o confirmei ou o aceitei como confirmado. Ao facto, ao simples facto, de que o esforço e o cansaço dependem da forma como se olha. Mais ou menos como tudo na vida.
Se não acreditam, experimentem. Que foi exactamente o que eu fiz, pedalando na minha versão moderna da pasteleira, que com o mesmo peso e estrutura, tem de diferente um sistema de mudanças mais fictícias do que reais. Uma mountain bike, porque mais sofisticada, não deve permitir a experiência por mais forte interposição da técnica e maior desvirtualização da realidade.
Ou experimentem a pé, tal como eu ontem o confirmei, depois das várias experiências, que fui fazendo ao longo do tempo.
A experiência é simples. Andem em plano e avancem para uma subida, uma rampa, qualquer coisa de íngreme. Façam-no como normalmente o fariam, com o vosso passo, que é só vosso. A meio da subida, se a idade já vos pesar, a falta de exercício o determinar, ou as coronárias claudicarem, vocês sentirão o esforço, e depois o cansaço, e a impossibilidade, ou quase, de vencerem o obstáculo.
Experimentem exactamente o mesmo mas com o auxílio de um pequeno truque. Não olhem em frente, se é essa a vossa maneira de andar e de ser. E vejam a diferença.
À vossa frente não ficará mais o fim da ladeira, a barreira a vencer. Mas o plano do chão, a calçada portuguesa, o asfalto moderno. Será essa a vossa visão. E vejam então como a subida desaparece, o esforço e o cansaço se vão, sem a passada ter que encurtar e sem o tempo normal de subida aumentar.
Estou a falar-vos disto não porque desta primária observação se possam tirar conclusões fisiológicas ou regras de bem caminhar e subir.
Estou a falar-vos disto apenas para conjuntamente olharmos para a outra face do espelho. Não se trata de fisiologia, mas de qualquer coisa de mais complexo e importante que é a vida.
Poderá daqui concluir-se que quem encara a vida de frente, olhos nos olhos, de uma forma transparente e verdadeira está sempre condenado ao esforço, ao cansaço e às dificuldades? E ao invés, poderá dizer-se que quem olha a vida e os outros de forma enviesada, com os olhos no chão, escondido e escondendo, tem a vida mais leve, descansada e facilitada?
Porque não? Não é isso que vemos no dia a dia deste triste mundo e desta triste vida?
Não vemos subir os traiçoeiros, os manhosos, os enganadores, os malabaristas? Não vemos por outro lado os honestos, os frontais, os verdadeiros serem bombo de todas as festas, marcados, prejudicados e perseguidos?
Eu sei, eu sei que não é sempre assim. Mas também sei que é demasiadas vezes assim. De tal modo que até nos esquecemos que algumas vezes o não será.
E tal como no exemplo da pasteleira e desenvolvendo um pouco mais estas considerações mais ou menos filosóficas acerca do local de colocação do olhar e suas consequências, poderá perguntar-se ou concluir-se, que se é certo que quem pedala olhando a ponta da roda e vendo só o asfalto anda sem esforço e vence os obstáculos facilmente, não é menos certo que ao assim proceder está mais sujeito a atropelar quem se lhe atravesse no caminho.
E se for a pé? Não chocará ele com mais facilidade com os outros, com aqueles que seguem tranquilamente o seu caminho?
E não volta isto a ser exactamente o que se passa na vida? Quantas vítimas atropelam pelo caminho os manhosos egoístas deste mundo? Como fazem eles sua subida, senão aos encontrões, aos choques, aos atropelos?
Pensei tudo isto enquanto subia calmamente à colina do meu bairro, meta do percurso iniciado numa partida bem mais baixa, Avenida da Liberdade de meu consultório.
Da liberdade. Qual?
Se não acreditam, experimentem. Que foi exactamente o que eu fiz, pedalando na minha versão moderna da pasteleira, que com o mesmo peso e estrutura, tem de diferente um sistema de mudanças mais fictícias do que reais. Uma mountain bike, porque mais sofisticada, não deve permitir a experiência por mais forte interposição da técnica e maior desvirtualização da realidade.
Ou experimentem a pé, tal como eu ontem o confirmei, depois das várias experiências, que fui fazendo ao longo do tempo.
A experiência é simples. Andem em plano e avancem para uma subida, uma rampa, qualquer coisa de íngreme. Façam-no como normalmente o fariam, com o vosso passo, que é só vosso. A meio da subida, se a idade já vos pesar, a falta de exercício o determinar, ou as coronárias claudicarem, vocês sentirão o esforço, e depois o cansaço, e a impossibilidade, ou quase, de vencerem o obstáculo.
Experimentem exactamente o mesmo mas com o auxílio de um pequeno truque. Não olhem em frente, se é essa a vossa maneira de andar e de ser. E vejam a diferença.
À vossa frente não ficará mais o fim da ladeira, a barreira a vencer. Mas o plano do chão, a calçada portuguesa, o asfalto moderno. Será essa a vossa visão. E vejam então como a subida desaparece, o esforço e o cansaço se vão, sem a passada ter que encurtar e sem o tempo normal de subida aumentar.
Estou a falar-vos disto não porque desta primária observação se possam tirar conclusões fisiológicas ou regras de bem caminhar e subir.
Estou a falar-vos disto apenas para conjuntamente olharmos para a outra face do espelho. Não se trata de fisiologia, mas de qualquer coisa de mais complexo e importante que é a vida.
Poderá daqui concluir-se que quem encara a vida de frente, olhos nos olhos, de uma forma transparente e verdadeira está sempre condenado ao esforço, ao cansaço e às dificuldades? E ao invés, poderá dizer-se que quem olha a vida e os outros de forma enviesada, com os olhos no chão, escondido e escondendo, tem a vida mais leve, descansada e facilitada?
Porque não? Não é isso que vemos no dia a dia deste triste mundo e desta triste vida?
Não vemos subir os traiçoeiros, os manhosos, os enganadores, os malabaristas? Não vemos por outro lado os honestos, os frontais, os verdadeiros serem bombo de todas as festas, marcados, prejudicados e perseguidos?
Eu sei, eu sei que não é sempre assim. Mas também sei que é demasiadas vezes assim. De tal modo que até nos esquecemos que algumas vezes o não será.
E tal como no exemplo da pasteleira e desenvolvendo um pouco mais estas considerações mais ou menos filosóficas acerca do local de colocação do olhar e suas consequências, poderá perguntar-se ou concluir-se, que se é certo que quem pedala olhando a ponta da roda e vendo só o asfalto anda sem esforço e vence os obstáculos facilmente, não é menos certo que ao assim proceder está mais sujeito a atropelar quem se lhe atravesse no caminho.
E se for a pé? Não chocará ele com mais facilidade com os outros, com aqueles que seguem tranquilamente o seu caminho?
E não volta isto a ser exactamente o que se passa na vida? Quantas vítimas atropelam pelo caminho os manhosos egoístas deste mundo? Como fazem eles sua subida, senão aos encontrões, aos choques, aos atropelos?
Pensei tudo isto enquanto subia calmamente à colina do meu bairro, meta do percurso iniciado numa partida bem mais baixa, Avenida da Liberdade de meu consultório.
Da liberdade. Qual?
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