Será que os pobres têm mais amigos? Perguntou o motorista quando ele regressou ao Mercedes.
Foi uma pergunta espontânea, natural, certeira. De quem contemplou funeral de rico e até da morte espera espectáculo.
Não tinha sido um funeral colunável, mas tinha sido o funeral de quem podia ser colunável. Poucos poderão ter o destino final daquele cadáver que foi a enterrar, com direito a um lugar confortável, abrigado de frio e intempérie, em jazigo de família, em cemitério de Lisboa. Um verdadeiro luxo, mesmo que tenha ficado na prateleira do rés do chão, daquela rica morada. Este destino só o poderão ter aqueles que pertencem a boas e antigas famílias, ou a um novo rico, jazigado de fresco. Não era o caso. O jazigo era mesmo de família.
Será que os pobres têm mais amigos? Essa é que era a pergunta, que desde que feita nunca mais deixou de estar presente.
Tentei explicar o inexplicável. Disse-lhe que os tempos eram outros, a cidade grande não é igual a uma cidade de província, os rituais da morte já não são o que eram, nem podem ser, e longe ia o tempo dos funerais acompanhados a pé. Chamei-lhe a atenção para o quão chocante é um funeral parar nos semáforos, ou na entrada da autoestrada para pagar portagem... Cheguei mesmo a lembrar-lhe que a maioria dos mortos sai de casa para o cemitério, metidos em caixões colocados ao alto nas cabines dos apertados ascensores... Os mortos saem de pé, tal como as árvores morrem...
Mas, quem fez a pergunta queria a resposta. Tudo quanto eu dissera não lhe bastara. Na verdade, eu não lhe tinha respondido.
Por isso, o motorista logo contrapôs que quando se tem amigos e família, não há trânsito, nem semáforos, nem portagens que os impeçam de estar presentes, de marcar presença.
Será mesmo que os pobres têm mais amigos?
Há pobres e pobres, ricos e ricos. De todos e da sua variedade se faz a vida. E, a morte.
Foi uma pergunta espontânea, natural, certeira. De quem contemplou funeral de rico e até da morte espera espectáculo.
Não tinha sido um funeral colunável, mas tinha sido o funeral de quem podia ser colunável. Poucos poderão ter o destino final daquele cadáver que foi a enterrar, com direito a um lugar confortável, abrigado de frio e intempérie, em jazigo de família, em cemitério de Lisboa. Um verdadeiro luxo, mesmo que tenha ficado na prateleira do rés do chão, daquela rica morada. Este destino só o poderão ter aqueles que pertencem a boas e antigas famílias, ou a um novo rico, jazigado de fresco. Não era o caso. O jazigo era mesmo de família.
Será que os pobres têm mais amigos? Essa é que era a pergunta, que desde que feita nunca mais deixou de estar presente.
Tentei explicar o inexplicável. Disse-lhe que os tempos eram outros, a cidade grande não é igual a uma cidade de província, os rituais da morte já não são o que eram, nem podem ser, e longe ia o tempo dos funerais acompanhados a pé. Chamei-lhe a atenção para o quão chocante é um funeral parar nos semáforos, ou na entrada da autoestrada para pagar portagem... Cheguei mesmo a lembrar-lhe que a maioria dos mortos sai de casa para o cemitério, metidos em caixões colocados ao alto nas cabines dos apertados ascensores... Os mortos saem de pé, tal como as árvores morrem...
Mas, quem fez a pergunta queria a resposta. Tudo quanto eu dissera não lhe bastara. Na verdade, eu não lhe tinha respondido.
Por isso, o motorista logo contrapôs que quando se tem amigos e família, não há trânsito, nem semáforos, nem portagens que os impeçam de estar presentes, de marcar presença.
Será mesmo que os pobres têm mais amigos?
Há pobres e pobres, ricos e ricos. De todos e da sua variedade se faz a vida. E, a morte.
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