Aqui estou novamente na Biblioteca, escrevendo, enquanto aguardo os livros que requisitei. Rapei da caneta, abri o caderno, coloquei-me na posição de escrita, que isto da escrita também tem posição, como quem atira ao arco, à pistola, ou faz esgrima. Há um gesto próprio para tudo, um colocar-se característico, que não é mais do que arranjar as melhores condições para o fazer, ou para a isso, se dispor.
Já estou então na posição de escrever e mais ou menos cómodo. Agora só falta mesmo saber sobre o que vou escrever. Sobre o nada, para já. E nada, de imediato, sugere-me vazio, de igual modo que vazio me sugere a minha vida. Estou assim a retornar sempre ao mesmo tema. E, que coisa mais incorrecta, ou menos correcta, isto será. Dizer que a minha vida é um vazio, é uma grande incorrecção e é cometer uma grande injustiça com ela e com todos aqueles que nela tiveram lugar. E coube lá tanta gente...
E isto aflige-me. Pensar no número tão grande, que já obriga a zeros, das pessoas que foram ocupando a minha vida, que por ela passaram, ou temporariamente a ocuparam, e ver que disso nada resta, não pode deixar de me afligir. E de tudo isso o que é que resta, realmente? Um quase nada. O vazio, mesmo? Não será masoquismo, pensar assim? A memória de que eu existi e ainda existo, a memória de coisas muito boas ou muito más, ou boas e más, ou assim assim e pouco mais. Uma ideia longínqua de quem eu sou, quase sempre deformada. Uma ideia que não corresponde minimamente ao que, ou a quem, eu sou. Alguém me disse um dia que lhe parecia impossível descobrir-se quem eu era. E, de seguida perguntou-me --- quem és tu? Serei a grande incógnita?
Penso ser justa a dúvida e a pergunta. Pois se eu próprio me não conheço, como podem os outros conhecer-me? E como posso eu dar-me a conhecer aos outros, e amá-los, se eu próprio não me conheço e não gosto de mim? Como posso então amá-los? E se os outros me amam, a quem amam? A mim ou à ideia de mim? Ou à ideia que eu dou de mim? O eu-outro. O eu-deles. O eu-outro-deles.
Gostava de ser claro, transparente, límpido. Olho as pessoas bem nos olhos, é um facto. Mas, curiosamente, cada vez o faço menos, quando as pessoas pouco me dizem ou quando aquilo que dizem pouco me diz. Não é uma nova incapacidade minha, em formação, mas a recusa em esbanjar o meu tempo e essa coragem de olhar. E se aquilo que me estão a dizer for bem verdadeiro? Pode ser verdadeiro e não interessar? Pode interessar mais uma coisa falsa, se imaginativa, se curiosa? Os limites de tudo isto são terríveis. Aonde está a verdade? A minha, por exemplo. No que mostro ou no que escondo? E, será verdadeiro o que não mostro ou será antes que o não mostro por não ser verdadeiro?
Já estou então na posição de escrever e mais ou menos cómodo. Agora só falta mesmo saber sobre o que vou escrever. Sobre o nada, para já. E nada, de imediato, sugere-me vazio, de igual modo que vazio me sugere a minha vida. Estou assim a retornar sempre ao mesmo tema. E, que coisa mais incorrecta, ou menos correcta, isto será. Dizer que a minha vida é um vazio, é uma grande incorrecção e é cometer uma grande injustiça com ela e com todos aqueles que nela tiveram lugar. E coube lá tanta gente...
E isto aflige-me. Pensar no número tão grande, que já obriga a zeros, das pessoas que foram ocupando a minha vida, que por ela passaram, ou temporariamente a ocuparam, e ver que disso nada resta, não pode deixar de me afligir. E de tudo isso o que é que resta, realmente? Um quase nada. O vazio, mesmo? Não será masoquismo, pensar assim? A memória de que eu existi e ainda existo, a memória de coisas muito boas ou muito más, ou boas e más, ou assim assim e pouco mais. Uma ideia longínqua de quem eu sou, quase sempre deformada. Uma ideia que não corresponde minimamente ao que, ou a quem, eu sou. Alguém me disse um dia que lhe parecia impossível descobrir-se quem eu era. E, de seguida perguntou-me --- quem és tu? Serei a grande incógnita?
Penso ser justa a dúvida e a pergunta. Pois se eu próprio me não conheço, como podem os outros conhecer-me? E como posso eu dar-me a conhecer aos outros, e amá-los, se eu próprio não me conheço e não gosto de mim? Como posso então amá-los? E se os outros me amam, a quem amam? A mim ou à ideia de mim? Ou à ideia que eu dou de mim? O eu-outro. O eu-deles. O eu-outro-deles.
Gostava de ser claro, transparente, límpido. Olho as pessoas bem nos olhos, é um facto. Mas, curiosamente, cada vez o faço menos, quando as pessoas pouco me dizem ou quando aquilo que dizem pouco me diz. Não é uma nova incapacidade minha, em formação, mas a recusa em esbanjar o meu tempo e essa coragem de olhar. E se aquilo que me estão a dizer for bem verdadeiro? Pode ser verdadeiro e não interessar? Pode interessar mais uma coisa falsa, se imaginativa, se curiosa? Os limites de tudo isto são terríveis. Aonde está a verdade? A minha, por exemplo. No que mostro ou no que escondo? E, será verdadeiro o que não mostro ou será antes que o não mostro por não ser verdadeiro?
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